terça-feira, 20 de maio de 2014

Um relatório com cerca de ano e meio, a malhar no FMI...

O meu Relatório Esta nossa vida anda a abarrotar de relatórios: são os da Protecção Civil, os da Segurança Rodoviária, estes com saborosos ganhos acrescidos, face a tempos de maior e mais pesada sinistralidade, são os da ERC – Entidade Reguladora para a Comunicação Social e da RTP, que têm relatado muito pouco e mal, são os da PSP, são estes e aqueles. Faltava-nos mais um: este, aquele que o Governo, sem jeitinho nenhum para estas andanças da concertação social, do diálogo e da conversa séria e pegada, que produza resultados concretos, fundamentados e com ponta por onde se lhe pegue, este que encomendou àquela malta do FMI deslavada de alma, munida apenas de botões e de folhas de cálculo, e que estes técnicos nos quiseram impingir. Antes de prosseguir, lavro aqui uma fortíssima declaração de interesses: aquela malta nada me que diz, não votei nela, não os escolhi, pouco ou nada fiz para os chamar a virem aqui, mas tudo isso fiz com quem lhe encomendou este sermão. Ai, isso fiz. Votei nessa gente, dei-lhe o meu mandato para, herdada uma enormíssima carga de dívidas, tentarem arranjar soluções para ultrapassar o difícil buraco em que nos encontrávamos. Antes, preparando-me, li um livro, o “Mudar”, onde vi muitas ideias com que me identificava e outras tantas que gostaria de não ter visto ali estampadas. Confesso-me: não sou tão liberal como ali se registou em certo pensamento. Mas estava cheio de ver o país a afundar-se. E desejava assistir a uma mudança clara, de rosto humano, certeira, voltada para um futuro melhor para Portugal e para cada um de nós, os Portugueses. Enganei-me, lamento-o. Feita esta viagem pelo meu subconsciente, que assim quis vir ao de cima, voltemos ao citado Relatório, o do FMI – Fundo Monetário Internacional, que até se esqueceu dos livros e dos discursos de sua Presidente, que tem vindo a defender outras receitas, que não a austeridade por si mesma. Num bem nutrido número de páginas, em tamanho, o que não quer dizer em ideias, aponta um razoável diagnóstico, aquele que chega a ser do consenso comum, mas, depois, em propostas concretas, é uma lástima. Pegando no que de mais fácil lhe vem à mão, de tesoura em riste, corta aqui, corta acolá, mas esquece que não devem ser esses os alvos a atingir, nem de longe, nem de perto. Vendo neles uma fonte de receita que não pode nem tem vocação para fugir, toca a mexer nessa manteiga quente. O resto, aquilo que é o cerne do nosso problema, as fraudes, os gastos nas tais gorduras do Estado, o desbaratar de verbas em empresas públicas e fundações, em PPP, a fuga aos impostos, os bancos que são uma esponja do nosso dinheiro nacional, aí, népia. Nem nos desmesurados juros e comissões que ele, FMI, nos cobra pelos serviços prestados em encontrar soluções para a pesada dívida que temos acumulado ao longo de anos. Com amigos destes, venham os inimigos que com eles bem pode (re)mos… Em gracioso contributo do blogue “Aventar.eu”, que promoveu uma intensa campanha pública de tradução deste volumoso documento, em regime de colaboração voluntária – e ainda só passei os olhos pelas primeiras páginas -, dá para perceber a gravidade do que ali está contido. Como que a lavrar em seara alheia, tudo lhes é permitido desenterrar: a saúde, as pensões, os vencimentos, a educação, os subsídios de desemprego, o tempo de trabalho, a segurança social, mas, digo-o, talvez por ainda não ter visto tudo, talvez haja muito mais para desvendar e pôr-nos e pensar. Lá chegaremos em próxima ocasião. Entretanto, o que muito nos incomoda é o facto de, sabendo que temos massa crítica à altura de estudarmos a fundo estes desafios de termos de refundar o País, andarmos a mendigar (?) pretensas soluções para uma nação que está verdadeiramente de tanga e desfigurada no seu modelo de desenvolvimento ( ver o blogue “ Freidogozo”, Um país desalinhado, que o “Pastel de Vouzela” acabou de citar) e que, em vez de procurar no seu seio as soluções para estes monumentais problemas, ter ido tão longe e tão distante, em sentido real e figurado, apanhar meia dúzia de “bitaitadas”, daquelas que, num qualquer gabinete de contabilidade ou balcão de merceeiro, num vulgar caderno de deve e haver, se conseguem colocar no papel. Não sabemos qual a pipa de massa que se vai pagar por mais este tremendo estudo. Ora, aí está mais um dado para o nosso Governo nos desvendar. Mais: isto, em termos de debate nacional, urgente, necessário e vital para os dias de amanhã, é mesmo contraproducente. Sendo acha para uma fogueira que já tem gasolina a mais, só vem complicar. Por isso, um pedido aqui deixamos: rasgue-se isto e parta-se para um diálogo com todas as letras e com todas estas questões em cima da mesa para uma discussão séria. Mas com tempo. Mande-se lixar Fevereiro e diga-se que só poderemos ter soluções depois de toda a nossa sociedade se ter pronunciado a sério sobre os caminhos que há a percorrer e quais os melhores meios para o fazer. Para cá da Europa e do mundo, mandamos nós. Nem que devamos um ror de dinheiro, Mas vamos pagá-lo e isso não pode ser uma submissão desta envergadura, Nem um garrote que não possamos desapertar: Carlos Rodrigues, in “ Notícias de Vouzela”, Janeiro de 2013. Há cerca de ano e meio, assim via a Troika por cá… Depois da sua ida para fora de nossas portas, para, infelizmente, ainda por cá voltar, mas sem a mesma prosápia de tudo querer controlar, sinto-me bem com a sua partida. Gosto muito de ser livre e independente…

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