segunda-feira, 27 de abril de 2020

Dias e dias assim-assim...

Sento-me a ouvir a música chuvosa nas telhas/Pelos campos fora, em verdes degraus, vejo além as Abelhas/Por cima das terras verdeja a erva/Por baixo das pedras, talvez, durmam os lacraus/Baloiçam as árvores ao vento/Serra acima até ao alto/Fora da janela, as cerejas/Espreitam e esperam o calor do sol/P´ra despontarem, mais tarde, avermelhadas/ Em Maio florido/Ou, quem sabe, em Junho/Neste tempo trocado com toda a gente em casa/Contando os dias e as noites sempre iguais/ À espera do calor que é brasa/ Sem se sair à rua/Em modo Covid aqui estamos/ Deitamos os olhos para longe/ A alma quebrada/ Que aquela vida sem vida, danada/Nos trama os dias, noites, manhãs, tardes, noites, manhãs, dias, sempre assim/Vem da serra a água que ouço no tanque a cair/Com esta doença no ar/Daqui não se pode fugir/Isto não é sorte, mas azar/ E só a esperança nos ajuda a passar/// Estou quase a habituar-me a este silêncio da casa/Num tempo sem tempo, dias sem dias/Sentado à porta olho p'ra minha estrada/Onde poucos passam/ E, a dois metros, a outra, a de muitas idas e voltas/Mas agora quase vazia, abandonada/Como eu, há muita gente que em casa se fica/ E nem ao café vai para tomar uma bica/Nestas horas sem horas/Não há pressas, não há demoras/Tudo está parado, à espera/ De que o mundo continue a ser uma esfera/Neste céu carregado que agora vejo/Sinto umas claridades raras/ São sinais de tempos novos/ E de alegria para nossos povos////

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