sábado, 5 de setembro de 2020

Turismo em Lafões em páginas publicitárias desde o início do século XX...

Turismo em Lafões desde há décadas A fazer-se publicidade em escala cada vez maior de 1900 em diante O fenómeno social e económico do turismo não é apenas um facto recente. As preocupações com este sector e as campanhas para se valorizarem os recursos de cada espaço territorial vêm inscritas em documentos com décadas de publicação e com bastante bolor, tal é a sua antiguidade. As respectivas brochuras são, por exemplo, uma raridade bem disputada e muito procurada, por praticamente se encontrarem esgotadas ou bem guardadas em cofres particulares. Em Vouzela, para aqui darmos o pontapé de saída deste trabalho para o nosso “NV”, por exemplo, foi criada uma Comissão de Iniciativa que logo tratou de falar da Antiga Capital de Lafões e seus arredores, isto por volta do ano de 1930, a fim de colocar em destaque os seus pontos mais valiosos. Aí se registava, no meio de uma boa série de informações e recomendações, o seguinte: “... Quem algum dia, nas suas passadas de caminheiro errante, aboradar as terras de Vouzela, de feição acolhedora e maneirinha, certo há-se parar de enlevado encanto e volver os olhos surpreso e recolhido para aquela paisagem de maravilha, tocada não sei de que enternecido lirismo, que para logo deixa a alma em sonho e o coração contente... Pendo a crer que a paisagem de Vouzela, pelo colorido suavíssimo que a doira e afaga, pelas cambiantes que iluminam e amaciam seus contornos, constitui o mais lindo retábulo do formosíssimo altar da Beira... “ Insere-se uma boa carteira de fotografias, de notas e dicas, em que se incluam especialidades da região e outras achegas, nomeadamente os acessos e respectivas vias, sendo que, por exemplo, a EN 16 ainda era a nº 8 e que a linha do Vale do Vouga servia a terra com 4 comboios ascendentes e outros tantos descendentes por dia. Quanto a Oliveira de Frades, num desdobrável da ROTEP, nos anos 50, em organização de Camacho Pereira, dizia-se que se possuem “ boas pensões e é procurada pelas gentes da cidade ansiosas por passarem umas férias em terra de bons ares, de média altitude e capaz de lhes proporcionar não só um retemperante repouso, mas também o prazer tonificante de de um passeio turístico através de maravilhosos vales e colinas. Efectivamente, da vila irradiam boas estradas que num instante colocam o turista no Alto do Caramulo” e outros destinos. A par de um bom conjunto diversificado de referências a equipamentos, sítios pitorescos, dá-se destaque a uma especialidade culinária, a Vitela de Lafões (assada no espeto, como uma de suas variantes). Anos antes, o “Porvir de Lafões” do ano de 1912 dava conta, no que se reporta a S. Pedro do Sul que “ o concelho vai finalmente na senda luminosa do progresso em engrandecimento material... “. Depois de alguns tempos de letargia, “ Isso acabou e há uns cinco anos a esta parte começou de bafejar-nos a aura da felicidade, que nos reanima e faz cobrar novo alento na cruzada em prol das necessidades e melhoramentos concelhios... “ A importância da linha do Vale do Vouga Na base desta euforia, um ponto nevrálgico era comum aos três municípios de Lafões – o avanço da construção da linha do Caminho de Ferro do Vale do Vouga, que “vai rasgar horizontes mais amplos” sobretudo para a estância balnear das Termas. Há que relevar-se ainda uma imprensa bastante aguerrida desde os últimos anos do século XIX, que era um poderoso meio para divulgar as belezas e as virtudes destes nossos territórios, que, a partir do ano de 1911, tiveram no Grémio Lafonense, em Lisboa, base da actual Casa de Lafões, um outro aliado de peso e de muita qualidade, a promover uma série de boas campanhas e visitas a estas localidades da nossa Beira, aproveitando, muitas vezes, esse novo meio de transporte ferroviário. Sendo aquele espaço lafonense, na capital, muito frequentado por naturais destas zonas e visitantes das mais diversas paragens, a publicidade que ali se fazia à terra-mãe dava os seus frutos. A par destas ondas de activa agitação publicitária, no bom sentido, que tinham por base estas nossas aldeias e vilas, tornou-se também fundamental, nos anos trinta, concretamente em 1933, a edição de um bem conseguido Guia dos Caminhos de Ferro que às localidades de Lafões deu natural realce, mormente aos sítios por onde passava o respectivo comboio, no nosso caso, desde Ribeiradio a S. Miguel do Mato, numa linha que cortava horizontalmente os concelhos de Oliveira de Frades, Vouzela e S. Pedro do Sul. Dois outros pontos se devem assinalar ( e estamos apenas a cingir-nos aos primeiros anos do século XX), sendo eles o Concurso da Aldeia Mais Portuguesa (1938), atirando para a ribalta Manhouce e Cambra, e um outro concurso, o das “Estações Floridas”, que também chamava muito a atenção de quem se interessasse por viajar e isso começava de se fazer sentir de uma forma cada vez mais acentuada, à medida que melhoram as vias de comunicação e a fama passa de boca em boca. Para finalizarmos, digamos ainda que o jornal “Gazeta de Coimbra”, em 1930, trazia um artigo de José Bento, que sintetiza tudo quanto tentámos aqui esclarecer: a “ Necessidade de Propaganda da Beira”. Depois, com o passar dos tempos, tudo foi evoluindo, a ponto de hoje estes dados nos parecerem algo de quase pré-histórico, mas têm apenas cerca de oitenta/noventa anos. Para conhecimento do que fomos, aqui ficam estas achegas turísticas, esperando, agora, que este sector renasça, que bem precisamos dele para dinamizarmos a nossa economia e bem-estar... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Setembro 2020

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