sexta-feira, 18 de setembro de 2020

A força e a fraqueza do minério em S. Pedro do Sul e arredores

O minério em S. Pedro do Sul e arredores Anos de ouro e de miséria É a região de Lafões bem rica de variados recursos. A mineração e a exploração do subsolo em busca de produtos de eleição, como o ouro, o estanho, o volfrâmio e outros metais, sempre atraíram os seus habitantes ou mesmo forasteiros. O meado do fatídico século XX, com os horrores da mortífera e destruidora Segunda Grande Guerra, é disso, neste caso, um triste exemplo. Estas actividades não se ficam, porém, apenas por aqui. Bem perto, a juntar à Bejanca e a tantos outros locais, temos o concelho de Arouca em lugar de destaque, nesses mesmos anos. Com uma enorme proliferação de minas, anotemos algumas delas, espalhadas por esta nossa zona, mais nuns lados que noutros, como bem se compreende. Ei-las: Regoufe, Rio de Frades, Chãs, Barrosa do Cume, Bejanca, Pena Amarela, Baldoneira, Aceará nº 2, Vale Escuro, Vale do Espírito Santo, Igarei, Feitosa, Fontainhas de Loumão, Pinhal do Fojo, Queirã, Engenho, Manga, Fataunços, Covelo (Ventosa), Cantinho, Chão do Rego 1 e 2, S. Miguel do Mato, Fonte Barrenta, Vasconha, Ponte de Ribamá, etc. Sem menosprezar qualquer destes investimentos mineiros, o nosso destaque vai para a Bejanca, que assinalou cem anos em 2015, Regoufe e Chãs. Aliás, foi tal o interesse destes locais, que os aliados e os alemães as disputavam taco a taco, com uma delimitação táctica que as duas partes se encarregavam de respeitar. No topo desta pirâmde, Salazar, coberto numa aparente neutralidade, tudo sabia e tudo consentia. Era uma forma de agradar a gregos e as troianos e esta política e diplomacia duraram até ao rebentar da corda, o que a certa altura veio a acontecer. Para mal do mundo, o grosso destas explorações deu-se aí pelos anos trinta e quarenta, com particular ênfase nos anos da Guerra, 1939-1945. Com muitas publicações gerais e específicas sobre este tema, têm-nos sido muito úteis os trabalhos de Fernando Vale, nosso ilustre conterrâneo, sobre a Bejanca, sobretudo, e locais nos arredores, e João Paulo Avelãs Nunes, com uma perspectiva geral no período do Estado Novo. Para um conhecimento algo detalhado das minas e sociedades constituídas em Lafões, os arquivos do jornal “Notícias de Vouzela” são riquíssimos nesse e noutros assuntos de interesse colectivo e comunitário, Pessoalmente, em finais do ano de 2008 e 2009 aí publiquei uma série de artigos que podem ser vistos como um breve resumo de todas estas matérias. Com muitas personalidades em evidência, por bons e menos bons motivos, são imensas as histórias de sucessos e fracassos entre quem se aventurou por estes caminhos. A verdade, o mito e a caricatura andam aqui sempre de mãos dadas, como a história das notas fumadas, das idas ao Porto por se ir, dos fatos espampanantes, mas também o sucesso empresarial em muitos casos. Quem soube singrar neste mundo No que a S. Pedro do Sul diz respeito, um nome salta de imediato para a ribalta: Agostinho Gralheiro, que, entre muitos outros feitos, teve a ideia de fazer erguer um pedestal, em Lobízios, S. Martinho das Moitas, precisamente em 1945, a que deu o nome de Cruzeiro da Paz. A marcar o seu lado da barricada, o “V” de Vitória fala por si. Com uma carreira feita a pulso, desde os tempos em que foi empregado num armazém de vinhos em Lisboa e, posteriormente, ferroviário, foi nas minas de Regoufe que cavou o seu êxito. Como capataz ao serviço dos ingleses ( que os alemães dominavam em Rio de Frades, a cerca de 10 km), logo deu nas vistas. Um dia, extraditado o Mister Brawn, seu patrão, toma uma arriscada decisão ao ficar com a mina. Foi tão bom o negócio que o Som da Gente, da Rádio Lafões, há anos, chegou a afirmar que, ao vendê-las, mal acabou o conflito mundial, arrecadou a extraordinária soma de 13 000 contos, uma verdadeira pipa de massa, como agora tanto se diz a propósito dos novos fundos europeus. Num estudo feito por Carla Maria Braz Martins, “ A exploração mineira romana e a metalurgia do ouro em Portugal”, Universidade do Minho, 2008, logo nos mostra que Lafões deu trunfos para esse jogo, indicando áreas de importância desse metal, nesses tempos recuados, em territórios de Arouca e S. Pedro do Sul, sendo que, aqui em particular, cita uma mina em Deilão e outra na Gralheira, pensando nós que se trata da nossa Serra. Identificando galerias a céu aberto e subterrâneas, a de Deilão era um poço vertical, ligeiramente inclinado, como acentuou. Por sua vez, Pedro Valério e outros, em “Caracterização química das produções metalúrgicas – Castro Nossa Senhora da Guia (Baiões) – Bronze final”, no Arqueólogo Português, 2006, anotam uma série de artefactos, como foices, armas, elementos de ritual, taças, carro votivo e outros objectos de adorno, o que faz pressupor a exploração mineira, já nessa altura, por estas nossas terras, isto é, mesmo antes da vinda do todo poderoso povo romano. Em síntese, no Boletim de Minas, vol 50, nº 2, Lisboa, 2015, alude-se a um arquivo/catálogo com processos desde os anos de 1839 a 2011, o que será, por certo, uma excelente fonte de informação da Direcção-Geral de Energia e Geologia. Fala-se, quanto ao nosso distrito de Viseu, em 10 minas de estanho, 21 de volfrâmio, aludindo-se ainda ao ouro. Num outro Boletim ( vol 42, nº 1, 2007), pode ler-se, meio relacionado com estes temas, um bom trabalho de L. M. Ferreira Gomes, em que trata do “Aproveitamento geotérmico em cascata em S. Pedro do Sul”, vendo estes seus recursos aquíferos como resultado da grande falha activa Verin (Espanha), Régua, Termas, Penacova, passando por Ribamá, Numa curiosidade constante nesta publicação, refere-se que as Àguas do Caramulo, em 2006, engarrafaram 50 351 442 unidades que espalharam por todo o lado. Infelizmente, há tempos, fecharam portas, mas, agora, já ali se instalou uma nova empresa que, brevemente, fará ressuscitar aquele importante empreendimento de Varzielas, Oliveira de Frades. Com um convite a que se “Venha conhecer as minas de ontem”, em 2001, a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto esteve no Parque da Fraguinha com as “Memórias Mineiras” do Maciço da Gralheira, aproveitando uma série de materiais e vestígios e um testemunho, ao vivo, de um velho mineiro das Chãs, Manhouce, o Sr. Tobias. Bom espólio ali foi exposto. Tendo partido para uma prospecção de minério, acabámos por encontrar ouro e metendo no meio aquela boa água. Tudo isto porque a natureza por aqui é rica e tem muito para nos oferecer. Só que, por vezes, o homem, nas suas ambições desmedidas, estraga tudo. E isso é que tem de nos fazer pensar antes de qualquer acção posta no terreno.... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, 17 Set 2020

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