quarta-feira, 21 de julho de 2021

EN 16, a estrada que une o mar e a fronteira

EN 16 a unir o mar e a Espanha Cerca de 200 km de distância em dois mundos diferentes CR Andamos, nestes últimos anos, em busca de símbolos, de elos de união entre comunidades e povos, quase como que para construir identidades, pegando em estradas e outros factores que levem a esses objectivos. Aqui há uns anos, em 2013 e 2014, lançámo-nos nessa aventura quanto à EN 333, que liga Vagos e Vouzela, e encontrámos verdadeiros pontos de união e contacto. Desde logo, estabelecemos uma corda e uma rota entre a Nossa Senhora de Vagos e a Nossa Senhora do Castelo. Descobrimos que os “VV” eram a solda que unia esse mesmo cadeado. Temos assistido às muitas iniciativas em redor da mítica EN 2, de Chaves a Faro. Vemo-la posta no pedestal dos eventos e das celebrações praticamente anuais. Sabemos que se está a converter numa marca comercial. E ainda bem. Ficamos altamente satisfeitos com esse sucesso. Mas, perdoem-nos o atrevimento, agora é da EN 16 que queremos falar e a colocar lá bem no alto. Se a EN 2 corta o país de alto a baixo, esta EN 16 divide-o ao meio na horizontal, do mar à Espanha. Com a actual designação de EN 16 a ser uma conquista nova, aí dos anos trinta do século passado, diz-nos a história que já foi a ER 41, Estrada Real com esse número, que passou para EN de 1ª classe, com o nº 8, como bem o provam as pedras que fazem parte dos bancos na Fonte das Termas de S. Pedro do Sul, logo à entrada, no sentido Oeste/Este, e que hoje é uma memória romântica de tantas inesquecíveis viagens. Em termos históricos, a Tabella das Estradas Reaes e districtais de 1889 já a catalogava como ER nº 41, a sair de Aveiro e a passar por Albergaria-a-Velha, Pessegueiro do Vouga, Oliveira de Frades, Vouzela e S. Pedro do Sul, prosseguindo a sua marcha por esses campos fora. Juntava-se, então, à nº 43, que ligava Viseu, Fornos de Algodres, Celorico e muito provavelmente Guarda e fronteira. Acontece que, antes de ser conhecida como EN 16 (1930), pelo Decreto n.º 12100 de 31 de Julho /11 de Agosto de 1926, assumia a designação de EN nº 8 de 1ª classe, como já vimos nos parágrafos anteriores. Neste decreto, procedia-se à revisão do plano geral de classificação de estradas, a remeter para a lei de 22 de Fevereiro de 1913. Assim, em 1926, a antiga EN nº 8 passava a englobar até à fronteira os troços Aveiro – EN 40-2ª – Albergaria a Velha, a EN 10-1ª, Vouzela/S. Pedro do Sul, a EN 7-1ª – Viseu, Mangualde, Celorico, Guarda (EN 15-1ª), Almeida (EN 34-2ª), Vilar Formoso/Estação. Devem contar-se ainda os ramais para a Ribeira de Ovar e para a Estação da Guarda. Em complemento, a Tabella das estradas nacionais de 2ª classe (Decreto 12100, de 31 de Julho de 1926) anotava ainda a nº 32, da Costa da Torreira a S. Pedro do Sul, aqui então EN 8-1ª, a nº 33 de Vouzela à Foz do Rio Távora e a nº 42 de Mortágua à Ponte de Riba Má. Pegando, de novo, na EN 16, diz-se que, por volta de 1938, chegou a Vilar Formoso, quando se reconstruiu a Ponte de S. Roque, no Rio Coa, na zona de Castelo Bom. Com o Plano Nacional Rodoviário de 1945, esta rede ganhou uma acrescida importância que só foi posta em causa no momento em que o eixo rodoviário principal, a unir o mar e a fronteira, se deslocou para o IP5, 1988, e mais tarde, 2005, para o A25. Havendo muito a dizer sobre esta via, com uma paisagem de sonho que cruza os Rios Vouga, Dão e Mondego, entre outros, que corre(u) passo a passo com as Linhas do Caminho de Ferro do Vale do Vouga e da Beira Alta, que acumula património sem fim desde Aveiro a Almeida, que nos faz recordar lugares míticos como o Café Quelhas, em Ribeiradio, aberto 24 horas ppr dia e que era um ponto de encontro internacional entre todos os viajantes, com balcões cheios de sandes e bebida, esta EN 16 é um poço de história e património que importa fazer renascer e divulgar. Com a sua gastronomia e com tudo o que mais tem, é uma mercado a céu aberto e um cartaz que possui atractividade até mais não. Em termos turísticos e de desenvolvimento, é pilar que não pode, nem deve, ser desperdiçado… Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 2021

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