quarta-feira, 21 de julho de 2021

EN 16 para observar e absorver

Uma estrada para observar e absorver A EN 16 precisa de ser interiorizada CR Pela EN 16 abraçamos o mar e a fronteira. De uma penada mais larga e contemplativa, em duas a três horas, se optarmos por poucas paragens, deixamos o Oceano Atlântico, em Aveiro, e abraçamos a Espanha, ali pelos lados de Fuentes de Onoro, Ciudad Rodrigo e Salamanca num abrir e fechar de olhos cheios de imagens para nunca mais deixar de lado. Para essa outra opção de andar pelas estradas sem nada ver, em corridas de outro mundo, o melhor é seguir a actual A25. Para levar emoções que nunca mais se esquecem, a opção mais ajuizada é fazer a aventura romântica de pisar os quilómetros da velha ligação de outros tempos, a já citada EN 16. Deixada para trás a cidade das salinas, da Ria, do ar da maresia, de um certo ventinho de resfriar as orelhas, essa Aveiro que sempre nos cativou, passada a zona de Albergaria-a-Velha, que afaga os Rios Vouga e Caima, entramos no mundo fantástico e fantasioso do Vale do Vouga, que a EN 16, em cada curva, e muitas são elas, nos põe à frente dos olhos. A água corre-nos aos pés, os montes e os vales acompanham-nos sempre. Ainda não temos percorrido muita distância e, agora, aí temos a Albufeira da Barragem de Ribeiradio/Ermida, esse lençol de água que cobre uma extensa área de um território que sempre viveu sob o barulho e a corrida do leito do Rio Vouga, ora sereno e manso, ora bravo e gigantesco na sua força, quase que levando tudo na sua frente. Mas, antes deste novo quadro actual, olhemos para a passagem de nível, de momento sem comboios, do Carvoeiro, para a Foz do Rio Mau, para a majestosa Ponte do Caminho de Ferro, já nos arredores de Pessegueiro, o do Vouga, para que dúvidas não existam, para a tasca e restaurante que vêm marcando os tempos, outrora, com as tigelas do vinho americano e com as enguias em caldeirada ou fritas, que ainda hoje são uma delícia, e agora quase só com as iguarias que as regras permitem, porque o tempo é uma máquina devoradora do passado e nem tudo é capaz de resistir. Subindo uns curtos quilómetros, já a chegar ao núcleo urbano acabado de citar, de um lado, e Paradela do outro, nas duas margens do Vouga, que agora alimenta uma fantástica Praia Fluvial, cruzamo-nos com os vestígios de uma Central Eléctrica que fazia correr as máquinas da Fábrica de Massas do Vouga, neste momento convertido em moderno pólo empresarial e académico, mas que tanta gente alimentou ao longo de décadas, em quantidade e qualidade de se lhe tirar o chapéu. Neste ponto geográfico, estamos à beira da sede do concelho de Sever do Vouga, vila que se espalha pelos montes acima, deixando o Rio Vouga para se encostar às terras de Vale de Cambra, tendo pelo meio a Nossa Senhora da Saúde. No horizonte oposto, adivinham-se as freguesias de Paradela do Vouga, de Cedrim e das Talhadas, localidades que se ligam e unem também ao vizinho concelho de Águeda, mas sempre com a Santa Maria da Serra, lá no alto, como ponto de encontro cimeiro destas serras que têm o Rio Vouga como mais um de seus ícones comuns. Passada a ponte sbre o Rio Vouga, com as bombas de gasolina à esquerda e a estrada para as Talhadas à direita,, continuamos pela nossa EN 16, que soma curvas e mais curvas a ladearem este famoso e nosso curso de água, para se abandonar o concelho de Sever do Vouga, depois do de Albergaria-a-Velha e uma pontinha de Águeda, e se entrar em plena zona de Lafões e município de Oliveira de Frades. Com o Café do Extremo a delimitar dois concelhos, Sever do Vouga e Oliveira de Frades e dois distritos, Aveiro e Viseu, pelo que se justifica bem a designação escolhida, esta EN 16 vai continuar a dar-nos muitas e mais alegrias. Dessas, falaremos daqui a uns dias… Com a Nossa Senhora Dolorosa lá no cimo, em Souto Maior, e a Barragem cá bem no fundo, entra-se em Ribeiradio que tem muito para nos dizer. O mesmo se dirá das muitas terras que iremos encontrar a caminho da fronteira, que esta EN 16 é de uma riqueza ímpar… Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 2021

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