quinta-feira, 10 de março de 2022

De novo, a Guerra na Europa

De novo, a Europa em guerra Quase oitenta anos depois do fim da terrível 2ª Grande Guerra, acabámos de entrar, uma vez mais, em ambiente bélico nesta nossa Europa. Depois de alguns outros conflitos pelo meio, esta invasão da Ucrânia pela Rússia tem um temível novo significado, porque consagra a entrada por um país soberano adentro, assim violando a Carta da ONU, num de seus muitos artigos, nomeadamente aquele em que se diz que nenhuma nação tem o direito de violar as fronteiras de outra e de pôr em causa a sua soberania. É isto que está a acontecer neste dramático conflito entre dois estados vizinhos. Neste século XXI, no passado dia 24, quinta-feira, as tropas russas levaram a cabo a penetração total na Ucrânia, praticamente em todas as suas fronteiras, por terra, via Bielorrússia e pela Crimeia ( anexada de rompante em 2014), pelo leste quanto às repúblicas de Donetz e Lugansk, na zona de Donbass, sector territorial que a Rússia sempre teve como ponto a absorver, pelo mar e pelo ar. Se pelo leste era mais ou menos previsível um avanço, o que pouca gente acreditou é que uma infiltração em larga escala, de norte a sul e de oeste a este, seria possível. Infelizmente, foi esta pior hipótese com que o mundo e os ucranianos se vieram a defrontar. Mais grave ainda: a intenção é tomar o poder e, assim sendo, aniquilar a própria capital, Kiev. Com o andar dos tempos, desde quinta-feira a hoje mesmo, segunda, dia 28, revela-se que não está fácil à Rússia a conquista dos seus objectivos, porque a decisão em resistir por parte dos ucranianos tem sido algo de decisivo para travar tais ímpetos. Para esta posição, muito tem contribuído a determinação do Presidente Zelensky e do próprio líder da Câmara Municipal da cidade capital do país. Mas têm sido fundamentais também a mobilização do povo atacado e das muitas manifestações de apoio e solidariedade que têm surgido por todo o lado, em muitos e variados países e instituições, como a ONU e a EU. Como ponto prévio a espoletar todo este desfecho da guerra entre estas duas nações, outrora partes de um universo comum, a URSS, e agora a viverem a sua independência desde que, na década de noventa do século passado, tal império foi desfeito, tivemos o reconhecimento por parte da Rússia das repúblicas separatistas, Donetsk e Lugansk, que desde 2014 têm vivido em estado de guerra permanente, que provocou já cerca de 14 mil mortos e um infindável número de feridos e refugiados. Posta essa decisão em cima da mesa, temeu-se, desde logo, o pior, mas nunca na força que veio a adquirir em termos de extensão e gravidade da invasão geral posta em marcha. Com a Crimeia a ter sido um sinal de alerta que o mundo não ouviu devidamente, o movimento que agora está a dilacerar a Ucrânia veio, finalmente, fazer com que as consciências mundiais viessem a despertar para a essência do que ainda pode vir pelo caminho, seguindo-se a estes massacres. Com as cidades invadidas, com as perdas militares e civis em catadupa, é de dor o momento histórico que por ali se tem vivido. A destruição e a debandada do povo ucraniano em massa, fugindo para os países vizinhos, mostram bem o horror que a guerra ali tem levado. Perante temperaturas negativas, os abrigos, bem nas entranhas do seu solo, é que têm sido os portos de abrigo para toda aquela gente, de modo a escaparem aos efeitos dos ataques e bombardeamentos. Os apoios e as mudanças em curso Num dia (segunda-feira) em que as partes em conflito estiveram em negociações na fronteira com a Bielorrússia (que, aliás, tem sido uma escada de apoio a Putin) e que ainda nada decidiram, estão no ar as sanções financeiras e económicas impostas à Rússia, às suas entidades e personalidades, o que se pretende que seja como que uma força de pressão de modo a tentar travar o seu avanço militar. Do outro lado, o gás natural e outras formas de energia são aspectos a ter em conta nesta equação, mas não podem fazer com que o ocidente abrande naquilo que entende ser necessário, urgente e eficiente para pôr fim a esta escalada de violência. A guerra não tem preço para ser travada. As vidas humanas valem todos os esforços que possam e devam vir a ser feitos. A coragem e a dignidade do povo ucraniano têm de ser compensadas com os apoios internacionais que, como vimos, estão a acontecer por toda a parte, incluindo na sociedade civil russa onde a contestação e as prisões andam de mãos dadas. Com uma presença de dezenas de milhares de ucranianos a viverem no nosso país desde há dezenas de anos, Portugal tem honrado os seus pergaminhos em solidariedade e humanismo, sendo imensas as manifestações em seu apoio e os movimentos criados para a integração de quem vier como refugiado. Municípios, organizações e sociedade civil tudo têm feito para acolherem bem aqueles que vierem bater a nossas portas. Ao mais alto nível, registe-se o facto de, hoje, dia 28, o Presidente da Ucrânia ter solicitado a adesão oficial à EU, o que, do lado de cá, está a merecer a atenção devida. Por sua vez, a NATO tem vindo a reforçar a presença nos países, seus membros, alguns deles na fronteira directa com a própria Rússia. É aqui que reside um dos aspectos mais perigosos em todo este cenário: um toque numa destas nações pode ser o rastilho para uma guerra ainda bem mais devastadora. Com desproporções assinaláveis a todos os níveis, militares, populacionais e territoriais, a balança só se equilibra com a determinação na sua defesa do povo ucraniano. Mercados, segurança, fornecimento de energia, tudo está em aberto. Mas as ameaças nucleares são o mais terrível que pode existir. Se tudo nos dói nas guerras, o sofrimento humano é aquilo que mais se teme. Infelizmente, na Ucrânia, esta vertente, até do lado das crianças, mostra-se presente. A par disso, a cibersegurança também não fica alheia em todo este conflito. Nem a desinformação. Pior: esta é uma arma que, em termos de meios bélicos, entra em cena vezes a mais, o que perturba tudo quanto diga respeito à realidade vivida no terreno e em cada parte desta terrível contenda. Cinco dias passados, não temos um vencedor. Veremos o que vem a seguir. Mas o que presenciamos já nos deixa altamente preocupados e entristecidos. Doridos sem fim. Carlos Rodrigues, in “ Notícias de Lafões”, Mar22

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