sexta-feira, 22 de abril de 2022

A compra de títulos nobres...

A nobreza comprada ou os processos de justificação A História responde a muitas coisas de nossas vidas actuais, pelo menos em parte. Está nela a raiz de tudo? Nem por sombras. Mas ajuda-nos a perceber o mundo. Por exemplo, agora que está na ordem do dia a naturalização dos judeus sefarditas, depois de séculos de diásporas forçadas, como aquelas que foram decretadas pelo nosso Rei D. Manuel I, vieram-nos à memória, por razões parecidas e não iguais, os processos de justificação da nobreza, factos que também por Lafões se verificaram, como veremos de seguida. No Arquivo Nacional – Torre do Tombo, temos um vasto conjunto desses documentos e em muitos arquivos municipais também os podemos encontrar. Antes de registarmos alguns nomes, vamos tentar contextualizar esta matéria. Há quem diga que, escasseando a nobreza de sangue ou de feitos e nomeações régias, avançou-se para a nobilitação de muitas outras pessoas. Para esse fim, como narra Álvaro Baltasar Alves, depois de feita a petição pelo suplicante, tudo tinha de passar pelos tribunais ordinários, com entrada pelo Cartório da Nobreza. Cabia ao Rei das Armas dar andamento aos pedidos que lhe chegavam, que constavam, entre outros requisitos, da biografia do suplicante, de dados de sua ascendência, certidões de cargos públicos, patentes militares, diplomas de mercês. Recebida esta documentação e para melhor análise em detalhe, poderiam ser solicitadas mais informações. Com a entrada em cena do liberalismo, a partir de 1822, tudo se aligeirou neste mecanismo de nobilitação e mesmo das cartas de brasão. Sabe-se que, no Brasil, este expediente foi também muito usado, a ponte de se falar na nobreza togada. Num dos livros que tivemos oportunidade de folhear, em 1238 processos, vasculhando gente das nossas terras, podemos adiantar estas personalidades: 1780 – António Bernardo Cardoso Pessanha de Vilhegas Castelo Branco, Viseu; 1773 – António Januário do Vale Ponte, Águeda; 1795 – Bernardo de Abreu Castelo Branco, Viseu; 1797 – Diogo Marques do Amaral Pessoa, Viseu; 1785 – Joaquim Cardoso Pessanha Castelo Branco e Vilhegas, Viseu; 1787 – José Baptista Pimenta Correia, Tondela; 1775 – José Bernardo de Almeida Barros, VOUZELA; 1805 – José de Figueiredo e Lacerda Castelo Branco, S. PEDRO DO SUL; 1775 – Luís António Pinto de Azevedo, LAFÕES; 1792 – Manuel Nicolau Cardoso Homem de Abreu e Magalhães, Viseu; 1757 – Pedro Viegas Vaz Rodrigues, Tondela; 1826 – Simão António de Liz Lemos e Sousa, Viseu; 1788 – Vasco Luís de Carvalho Pessanha Vilhegas do Casal, Viseu (Figueiró). Fazendo uma hipotética análise mais fina e cruzando os apelidos, estamos em crer que por aqui aparecem várias destas pessoas que são familiares entre si. Vejamos, os Vilhegas, os Castelo Branco, os Pessanhas, havendo mesmo quem possua juntos alguns destes sobrenomes. Estaríamos perante uma moda, uma pedantice, ou o reconhecimento superior das mais-valias de todos estes suplicantes? Há quem diga, com um pouco de má língua, que isto não era mais que um mercandejar de títulos, ou seja, uma nobreza comprada. Seja como for, um nobre era sempre um nobre e isso valia muito dinheiro e até as críticas que poderiam vir da vizinhança ou das suas próprias comunidades. Isso, esses comentários, sacudiam-se bem e sem grandes esforços, pensamos nós… Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 21 Abril 2022

Sem comentários: