quarta-feira, 16 de abril de 2008

A bonança

Naquele dia oito de Março, estiveram em Lisboa 99999 professores e mais uma outra pessoa: eu próprio. Em clima de festa, correu-se o trajecto do Marquês ao Terreiro do Paço, em passada decisva, ritmada pelos cantos do protesto contra a Ministra da Educação, em particular e, mais em geral, como desafio à política educativa, no seu todo.
Dizia-se que ali estava a imensa maioria de docentes, que, de crispação em crispação, fizeram daquele momento o tempo ideal para despejar mágoas, indignação, desconforto, desconfiança, incertezas e, mesmo, o sentimento de perda da sua dignidade e identidade profissionais. Talvez até, quem sabe, o medo do futuro.
Aquelas eram as vozes do descontentamento, que se erguiam quase em uníssono.
Mas esse foi um dia, um dia mais.
Agora, ao que se sabe, entrou-se na bonança, na paragem, no encosto às "boxes", talvez como acordo ou lá que o valha, uma espécie de aperto de mão, com os olhos de esguelha.
O certo, acrescentam, é que a escola vai sossegar, durante este final de ano. Para que se saiba e se diga, nada disto, cremos, tem carácter definitivo: os livros, de uns e de outros, ficam apenas nas respectivas prateleiras, à espera de mais álcool para a fogueira. É que o mal da educação é muito mais grave que tudo isto...
Mas, é bom assim pensarmos, tudo acaba "bem", mesmo que muito mal tenha começado e pior se mantenha na mesma cepa torta. A educação está gravemente enferma e os remédios que têm pretendido dar-lhe só agravam o seu estado de saúde. Isto já se não cura com paninhos quentes, precisa antes de uma terapia da cabeça aos pés.

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