quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Orçamento sem segurança

Temos em cima da mesa o novo Orçamento de Estado. Números e sugestões, programas e projectos, obras e planos, de tudo isso ali podemos ver. Mas a grande dúvida está em sabermos se a sua fiabilidade pode ser assegurada, quando, por todo o lado, fervilha um sentimento de instabilidade financeira e as marcas negras de uma economia em recessão ameaçam aparecer, forte e feio.
Com este documento, podemos respirar, porque a legislação passa a ser cumprida, mas pouco se pode dar como seguro em termos práticos. Nada do que hoje se vive tem o selo da segurança. Amanhã será outro dia, de acordo com La Palisse, só que, agora, tudo é mais imprevisível. Com as taxas de juros sempre na corda bamba, com a economia em constante sobressalto, com o desemprego e a fome a cavarem fossos cada vez mais preocupantes, com o desnível dos vencimentos a ser gritante em Portugal, com as exportações a pesarem muito menos que as importações, com os fundos de pensões em acentuada desvalorização, com a Europa e o mundo em queda livre, com o oriente a ver diminuído o seu nível de crescimento, apregoar o céu é cair no inferno, porque a mentira mata e esfola...
Com um PIDDAC quase vazio e, em muitos lados, total e ofensivamente seco, o Estado dá um péssimo sinal: foge dessa ligação às suas terras como o diabo da cruz. Depois, que não espere sol, pois só foi capaz de semear tempestades.
Com um certo ar eleitoralista nos aumentos para os funcionários públicos, aqui mostra alguma sensibilidade, assim como em medidas - pequenas e avulsas - de cariz social. Mas não resolve os problemas das empresas e das famílias, que já não são apenas aquelas que antes tinham carências, mas, de momento, se viram alargadas a um tecido social cada vez mais frágil e mais roto.
Em suma, temos Orçamento, mas o dinheiro real, vivo, sem artifícios especulativos, esse não vai aparecer, como era nosso desejo e uma necessidade absoluta. Aqui é que a porca torce o rabo, para nosso mal colectivo e individual.

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