sábado, 19 de setembro de 2009

Razões do meu descontentamento

Há trinta e cinco anos, em Moçambique, mais propriamente no M'Cito, acordei um dia, já depois de tal acontecimento, com um novo ar: ouvi falar de um país novo, senti-o pela Rádio, contactei com ele nos abraços de meus amigos. Adivinhava-o, desejava-o, mas ele teimava em não aparecer. Por isso, nesse já longínquo mês de Abril outras ondas me molharam os pés. Acima de tudo, passei a sentir-me um homem, um rapaz, até um militar, mais livre, mais cidadão. Descobri que a vida começava a valer a pena.
Sucederam-se os tempos, aos trambolhões, das escolhas, da caminhada até ao cimo das opções a tomar. Tudo aconteceu como que em catadupa, vindos de todos os lados os mais diversos contributos. Aceites uns, rejeitados outros, mais cedo ou mais tarde, tudo começou a encaixar-se.
Então, acreditei que o meu Portugal entrara definitivamente na modernidade política, que as disputas eleitorais eram razão de ser, que a luta pelo poder era necessária e séria, que a democracia, sim, a democracia chegara total, inteira, serena, exigente, indestrutível, participada de corpo e alma.
Ingenuidade minha: os contornos que hoje vejo a nascer de todos os lados estão a levar-me para o descontentamento, para o descrédito, inclusivamente. Isto de se falar em devassar poderes alheios, em minar os alicerces das instituições é mau demais para ser verdade.
Quero acreditar que nada do que se diz e se escreve tem correspondência com a realidade.
Quero. Mas tenho medo, muito medo que de que o meu querer de nada nos possa valer.
E, se assim for, não se calem as vozes, não. FALEM, FALEM, enquanto se está a tempo, porque daqui ao abismo, às vezes, bem pode ser curto o percurso a percorrer.
É mau demais o quadro que nos pintam.
Pede-se um esclarecimento calmo, mas seguro.
Pede-se, não, exige-se.

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