quarta-feira, 12 de junho de 2013

D. Duarte de Almeida em Toro

Ir a Toro com D. Duarte de Almeida na mente No último fim de semana de Maio, cerca de quatro dezenas de curiosos da história da sua terra foram de abalada até Toro, cidade onde se imortalizou o nosso conterrâneo D. Duarte de Almeida. Na bagagem, ia um forte desejo de contacto com essa notável figura e a zona por onde andou, como fervoroso apoiante do Rei D. Afonso V, de quem era um valioso braço direito, na sua qualidade de seu alferes-mor. Recebidas com toda a dignidade na “câmara” local, em cerimónia que teve a presidi-la a “vereadora” Amélia Perez Blanco, às entidades que ali se deslocaram foi oferecido um vasto programa cultural, a cargo da guia Pilar, e uma perspectiva histórica e social de muito interesse. A par da visita ao Centro de Toro, houve ainda a oportunidade para se ir até ao sítio, onde se desenrolou a Batalha propriamente dita, Peleagonzalo, a cerca de uma dezena de quilómetros. Este encontro, ao vivo, com um pedaço da nossa identidade partiu duma iniciativa mobilizadora da Associação D. Duarte de Almeida, ligada ao velho Colégio de S. Frei Gil, a que se associou a Junta de Freguesia de Vouzela e que, naquela cidade espanhola, teve o generoso contributo do casal Dr. António Liz Dias e esposa, Helena Liz. Organizada toda a logística e de uma forma extremamente eficiente, cumpriu-se um programa cinco estrelas. Podemos juntar-lhe mais uma: o trabalho do motorista, Fernando Carvalho, que foi um esteio forte em termos de informações, com conhecimento e muito propósito, durante toda a viagem de dois dias. Pelo meio, houve uma saborosa paragem em Salamanca, cidade que, pela vastidão e riqueza de seu património, foi aperitivo de muito bom gosto. Imponente e com uma carga intelectual, que lhe vem da sua Universidade de 1218, todo o seu casco histórico é digno de todos os encómios. Mas se esta passagem se revelou um ponto de mestre, era Toro a meta a atingir e o fim último desta jornada de evocação e homenagem. Assim, é natural que seja ela a despertar mais entusiasmo e interesse. Afinal, ter um herói da dimensão de D. Duarte de Almeida, que tudo fez para segurar a nossa bandeira em plena e dura refrega, perdendo os braços e segurando-a afincadamente com os dentes, merece toda esta espera de de 536 anos, desde o dia 1 de março de 1476 até aos nossos dias. Com a sua visível perda de forças, a bandeira foi bem agarrada pelo seu companheiro de armas, Gonçalo Pires, mas o Alferes-Mor do Rei, tratado em Espanha, ficou como o grande “soldado” desse dia. Reconhecido e admirado pela sua coragem, até porque a cidade de Toro estava do nosso lado na contenda que opôs a futura Rainha Isabel, a Católica, à pretendente ao trono, D. Joana, apoiada pelas tropas portuguesas, por ser esposa (?) do nosso Rei D. Afonso V, se o seu nome não aparece muito, são visíveis as referências a esta Batalha, em painel junto da “Colegiata de Santa Maria La Mayor”, na bibliografia local, nos guias turísticos. Para coroar a consideração que lhe foi tributada, na Catedral de Toledo, por ordem da própria Rainha D. Isabel, se encontra guardada, em local de destaque, a armadura que envergou naqueles dias sangrentos. Em Toro, como ficou provado pela visita guiada que nos foi proporcionada, respira-se história por todo o lado e as memórias de um tempo glorioso, que continuou, por muito mais tempo, a partir, por coincidência, dessa Batalha, vêm sempre ao de cima. Fala-se nos luzentes momentos em que deteve poder e importância, imputa-se a essa luta entre as tropas de D. Isabel e as de D. Joana, que tinham na rectaguarda os suportes de Portugal e da França, a própria unidade nacional, que resultou do casamento da própria D. isabel de Castela com D. Fernando, de Aragão. No que diz respeito aos portugueses, ali estiveram desde Março a Setembro de 1476 e o resultado algo desfavorável para D. Duarte de Almeida só seria assumido anos depois, em 1479, pelo Tratado de Alcáçovas, em que se reconhece a supremacia dos então considerados vencedores de Toro, os Reis Católicos. Mas ficou-nos a certeza de que ali tivemos, na pessoa do influente D. Duarte de Almeida, um herói imortalizado lá e cá. Ao olharmos para a distância que nos separa daquela cidade à beira do Rio Douro, mais admiramos este feito do nosso Decepado e de seus acompanhantes. Redobra esta imagem positiva por estes actos grandiosos se dissermos que era pessoa grada na Corte de D. Afonso V, o que prova o seu mérito e postura. A valentia de seu gesto diz tudo acerca de sua personalidade. Nesta medida, Toro, ao recordá-lo e Toledo a acolher parte de seu espólio são a maior mostra de gratidão e elevação que se pode ter e desejar. Numa cidade, que está a fazer um notório esforço por preservar o seu património, como nos foi possível observar, a céu aberto e no subsolo da Casa Consistorial – Câmara Municipal -, onde se está a tornar acessível um mundo desconhecido das enterradas “bodegas”, saber que está associada à figura do nosso D. Duarte de Almeida é riqueza que nunca podemos esquecer. Isto mesmo foi posto em evidência na Sessão realizada no Salão Nobre, com a presença de Dona Amélia Perez Blanco, que interveio nesse sentido, o que fizeram também o Dr. António Girão, Presidente da Associação D. Duarte de Almeida, e o Dr. António Meneses, Presidente da Junta de Freguesia de Vouzela, que ali deixaram um convite expresso para uma vinda a esta vila, o que foi positivamente correspondido. A troca de presentes e galhardetes selou esse princípio de uma futura geminação, que se deseja e espera. Na história de Portugal, há naquela zona de Espanha, diga-se em jeito de envolvimento, um conjunto de terrras-símbolo que nos apraz registar: Toro, por aquilo que estamos a ver, Zamora, pelo Tratado de 1143, Alcanices, pelas decisões acerca das fronteiras, Tordesilhas, 1494, Salamanca, pela sua Universidade, em eixos de encontros e desencontros que são uma e outra coisa ao mesmo tempo. No meio disto tudo, está D. Duarte de Almeida, que, depois desses tempos de sofrimento, regressou ao seu Portugal, dizem que para o “Castelo” de Vilharigues, associando-se-lhe, em princípio, ainda a Casa da Cavalaria, sendo que a história até hoje nos não deixou ver tudo aquilo que gostaríamos de desvendar. Se há ondas nebulosas no percurso de vida de D. Duarte de Almeida, um facto é irrefutável: em Toro deixou marca, que as gentes locais não deixam de apreciar. Foi isso que lá fomos descobrir, mais de cinco séculos depois de este nosso conterrâneo ali ter feito história. Agora, com esta evocação mais viva, como frisou a Vereadora Amélia Blanco, bem pode acontecer que se encurtem caminhos e se consagre uma amizade que ali foi começada, em luta, a 1 de Março de 1476. A geminação pode ser a via melhor para unir Vouzela a Toro e vice-versa… Carlos Rodrigues

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