terça-feira, 11 de junho de 2013

Lafões: um ducado virtual e uma casa republicana, a sério Ao vivermos numa região que é um território real, com espaço e identidade, razoavelmente delimitado pelo Professor Amorim Girão (que, por exemplo, deixou de fora Talhadas do Vouga) vêmo-lo, frequentemente, referenciado na nossa História como um Ducado e até com um respectivo titular. Com vários Senhores que o tiveram como “seu”, um deles foi mesmo o Infante D. Henrique. Para desfazer alguns eventuais equívocos, que podem suscitar confusões quanto a um exercício de uma autoridade efectiva, vamos tentar esclarecer o que se passou com este título honorífico, sobretudo, a partir do século XVII. Este ponto novo de termos um Duque de Lafões aconteceu, mais ou menos, por razões de ordem sentimental. Isto é, D. João V teve um irmão bastardo, porque filho de D. Pedro II, que entendeu compensar com algo de significativo. Assim, agarrou nas terras de Lafões e “doou-as” a D. Miguel de Bragança (1699/1724), que juntou esta distinção àquelas que já “detinha”por estar ligado à Casa de Bragança e Arronches, esta por casamento com D. Maria Ana Luísa Antónia Casimiro de Nassau e Sousa, essa, sim, Marquesa de Arronches e Duquesa de Sousa e de Lafões (não titular). Deve-se, então, a D. Miguel (legitimado em 1704) a fundação da Casa de Lafões, mas nesta perspectiva que acabámos de descrever. Se trazemos esta matéria para discussão, é porque, em recente Sessão havida na nossa Instituição com a mesma designação, a propósito do seu Centenário, este tema veio para cima da mesa, facto que pode ter provocado a sensação de uma espécie de dupla existência. Declaramos, desde já, que são duas realidades perfeitamente distintas. Com efeito, o Ducado de Lafões, propriamente dito, e atribuído a D. Pedro Henrique de Bragança, por Decreto de 17 de Fevereiro de 1718, confirmado por D. João V em 5 de Setembro do mesmo ano, só se efectiva nesta altura. Assim, aquela tem a ver com a organização monárquica, esta nossa Casa de Lafões, com sede em Lisboa, nascida na sequência do Grémio Lafonense, que se constituiu em 1911, é uma obra de inspiração popular e reivindicativa, por ter sido a partir da defesa da Linha do Vale do Vouga e da exigência que passasse por esta nossa zona que nasceu esta Instituição. Feito este preâmbulo, entendemos ir um pouco mais longe: se D. Miguel e, sobretudo, D. Pedro foram os primeiros detentores desta prerrogativa real, foi, todavia, um de seus descendentes, D. João Carlos de Bragança e Ligne de Sousa Tavares Mascarenhas de Sousa (1719/1806), que mais destaque conferiu a este Ducado. Proeminente intelectual, militar e político, atinge altos cargos no governo da nação, tendo sido, por exemplo, o Comandante das tropas que, por azar, vieram a perder Olivença (1801), mas este facto não fere a notoriedade que veio a conseguir. Se muitos de seus feitos constam da nossa História, como o da participação nas operações de resistência às Invasões Francesas e da sua amizade com José Bonifácio de Andrada e Silva, também um alto vulto da nossa política e cultura e ainda da independência do Brasil, a sua perenidade adviria de outras façanhas. Há, então, uma sua acção que ficou bem cimentada no campo intelectual: a criação, com o Abade Correia da Serra, da Academia Real de Ciências de Lisboa, um poderoso instrumento ao serviço da nossa modernidade. Se mais nada restasse para imortalizar o 2º Duque de Lafões, bastaria esta referência de topo para lhe dar um grande cadeirão no painel das pessoas ilustres, à escala nacional. Ao ganhar visibilidade desta forma, Lafões, que já era nome e realidade com muita importância, ampliou esse seu capital de relevante região, o que ainda hoje, felizmente, por esse e outros motivos, de maior actualidade, bem se nota. Como possuidores, de direito e de facto, na ordem monárquica, deste cargo de Duque de Lafões, podemos aqui deixar os respectivos titulares, ao longo dos tempos, que, inclusive, se estendem, como pretendentes, à própria república. Ei-los: - D. Pedro, D. João Carlos, D. Ana Maria de Bragança e Ligne de Sousa Tavares Mascarenhas da Silva (1797/1851), D. Maria Carlota de Bragança e Ligne Sousa Tavares M. da Silva (1820/1865), D. Caetano Segismundo de Bragança e L. S. T. M. da Silva (1856/1927), D. Afonso de Bragança (1893/1946), D.Lopo de Bragança (1921/2008) e, agora, D. Afonso Caetano de Barros e Carvalhosa de Bragança (1956), residente no palacete familiar na Calçada dos Duques de Lafões, em Lisboa. Não sendo nossa intenção apresentar estes dados de uma forma desgarrada, a motivação que fez despoletar este trabalho relaciona-se, como dissemos, com a actualidade: o Centenário da Casa de Lafões, cujas comemorações se iniciaram, curiosamente, no passado dia 6, no local certo: a Rua da Madalena, nº 199, 1º. Prestado este esclarecimento, a História surgiu por acréscimo. Pensamos, no entanto, que tal se justifica plenamente, como facilmente se conclui dos factos relatados. Carlos Rodrigues

Sem comentários: