quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Caminhos de Santiago

Oliveira de Frades, um dos caminhos de Santiago Com o intuito de buscar na história forças para nos darem sustento anímico, que dele bem precisamos, muitos concelhos e regiões têm pegado nos Caminhos de Santiago numa perspectiva de defesa do património, também, mas muito com o pensamento virado para o turismo e a economia. Todas estas leituras são válidas e legítimas e nenhuma delas deve ser posta de lado. Aqui, neste município de Oliveira de frades, estas nozes têm boas raízes. Assim haja dentes que as saibam e possam roer. E há-os, de certeza. Com a história a dizer-nos que estas nossas terras são ricas de passagens de peregrinos para Santiago de Compostela ao longo de séculos, rumo à grande via que unia Lisboa àquela cidade galega, via Braga, por um lado e, talvez por outro, a tomar o rumo de Viseu, Chaves e por aí fora, não faltarão pontos de apoio para desenvolver um vasto projecto integrado e é disso que se trata. Esta é uma batalha que há muito nos espicaça a vontade de vermos este município de Oliveira de Frades a trilhar essas vias de uma forma determinada e ajustada à sua realidade. Com este trabalho, despretensioso, mas com ambição, passamos a elencar algumas ideias e pistas que gostaríamos que viessem a serem úteis e a abrirem portas a mais um sucesso, neste caso, de índole cultural e histórica. A freguesia de Reigoso, sem falsa modéstia, bem pode a ser o centro nevrálgico de tudo aquilo que se venha a realizar e a idealizar. Afirmamos isto porque, conhecendo o seu passado, nele encontramos uma das traves-mestras dos antigos e reais caminhos de Santiago, que é o da existência de uma bem apetrechada albergaria para a épocas de que estamos a falar, com uma dupla função: albergue para os peregrinos e hospital, ao mesmo tempo. Deste modo, quanto a estruturas assistenciais, aquilo que esta localidade oferecia era algo de altamente positivo e com repercussões que continuaram pelos tempos fora, quase até ao século XX, pelo menos em jeito de referências e memórias. Sendo a estrada de então, a Via Romana de excelência, a melhor das ligações entre o litoral aveirense e as serras de Viseu, isto é, entre o mar e a montanha, por ela circulando, além das muitas pessoas, grandes quantidades de bens e materiais, legítimo é dizer-se que aqui existia um eixo viário de primeira grandeza. Assim, quem ia para Santiago de Compostela, vindo de um lado e doutro, não iria desperdiçar tais benfeitorias, que em Reigoso se localizavam. Sal, água, azeite e lume não faltavam, assim como o aconchego de uma enxerga para umas horas de merecido descanso. Nem cuidados médicos rudimentares e curativos vários. Aproveitar esta via para lançar mais um Museu Eis-nos aqui com a primeira das propostas que temos em mente: a construção de um Museu da Assistência Social no Portugal Medieval, a situar nestas mesmas paragens. Sonhando com ele, estamos ainda a vê-lo como albergue vivo e como algo de apoio a quem passa, até no ramo da restauração regional e outros equipamentos. A par da estrada em si, esta será uma valência que, a nosso ver, muito valor acrescentado trará para este projecto, que deve nascer numa visão integrada com outros concelhos, regiões e zonas de passagem deste tipo de Caminhos religiosos, que hoje está a ressuscitar, quanto a importância e gosto em os percorrer. Sendo esta via o cerne da passagem dos crentes por aqui, todas as outras vias romanas, de S. João da Serra e de Paranho de Arca, por exemplo, não deixaram de ser utilizadas para os mesmos fins, muito embora a uma escala mais reduzida, como é facilmente compreensível. Acreditamos que, por outro lado, muitas das trocas e do rudimentar comércio desses tempos adquiriam mais fulgor sempre que os peregrinos por aqui andavam. E é absolutamente natural que assim tenha acontecido. Aliás, como circuito essencial no tráfego nesses recuados anos, séculos e mesmo milénios, a sua fama foi ganhando forma e correndo mundo, como caminho a não perder. Com isso ganhou toda a área deste concelho de Oliveira de Frades, desde as Benfeitas a Santiaguinho, passando pela Ponte, por Entráguas, por Pontefora, Ral, Vilarinho, Cajadães, Postasneiros, Sernadinha, até entrar por Vouzela dentro, ali para os lados de Vilharigues. Esta via que, honra lhe seja, deixou muitas marcas ( algumas delas bem visíveis no Museu Municipal), foi marco importante na história deste concelho de Oliveira de Frades, dela se podendo e devendo citar os troços das Benfeitas, da Ponte, de Entráguas, do Ral, de Pontefora, de Vilarinho, de Cajadães, a imponência do de Postasneiros, o de Santiaguinho e outros que tais. Como peças metálicas, eis as moedas encontradas, hoje observáveis no citado Museu, assim como os marcos miliários. Sendo a estrada romana um ponto de passagem e a linha estruturante do nosso Caminho de Santiago, foi por isso que a ela dedicámos maior atenção. Mas este tema tem muitos ângulos a explorar e a servir de ponto de partida para caminhadas de futuro, que não podem deixar de ser dadas. Assim o esperamos. Carlos Rodrigues NOTA - Num dia, 8 de Janeiro de 2014, em que, em Vouzela, se assina um Protocolo entre vários Municípios da Região com vista à dinamização dos Caminhos de Santiago - iniciativa que se saúda - aqui deixo este texto, publicado no jornal " Notícias de Vouzela" há uns meses...

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