terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Despovoamento, um crime

Criar desenvolvimento, travar despovoamento Temo-lo dito, vezes sem conta, que o nosso País é um ser disforme, com uma cabeça de gigante, um corpo de raquítico e uma alma anémica lá para os lados de quem tem por missão cuidar da coisa pública como um todo, com um equilíbrio entre todas as suas componentes. A nível central, isto é um desastre: ninguém quer ver o interior como parte deste nosso Portugal. Quando muito, olham-no como uma reserva apetecível para turista ver e o pobre do nativo fugir dele a sete pés. Sendo esta prática um crime, só a desculpamos porque a integramos no campo do desconhecimento. Mas, à luz duma estúpida e pretensiosa lei, ninguém a pode desconhecer, nem quem nunca acedeu a esses meandros. Assim, para a gente que se pavoneia pelos corredores do poder, esta regra deveria servir para, face a tantos dislates, levar ao banco dos réus os agentes deste quadro de despovoamento em que vivemos. Asneira com séculos de história, importa agora é recuperar o tempo perdido e agir. Se de Lisboa, já vimos, pouco vem que se aproveite, terra a terra, algo se pode fazer. Simbólico mais do que tudo, talvez. Mas aceitável e louvável. Com uma ânsia desmedida em captar cada tostão de cada um de nossos cidadãos, a cruzada está montada e há que pôr-lhe cobro quanto antes. No Terreiro do Paço, sonha-se de noite para ir aos nossos bolsos de dia, algo que, na Ribeira de Ribamá, só diferia no tempo: pensava-se de dia, actuava-se de noite. Também o nosso João Rei, enquanto «actor» do filme Zé do Telhado, bem deve ter compreendido essas artes, mas essas eram uma espécie (perdoe-se esta opinião) de causas nobres. Tirar aos ricos para dar aos pobres, ao menos, matava a fome de quem nada tinha que comer. Solução? Nunca. Só a justiça social - e nem a caridade – nos pode salvar de tudo aquilo que, em 2012, em 2013 e assim por aí adiante, nos aflige e nos destrói de alto a baixo. Como dissemos, desconfiados de falsas bondades centrais ( ao que cheguei, eu, Deus me livre!), só vemos uma luz ao fundo túnel, aliás, duas: uma está a vir, e deve assim continuar, do poder local, das nossas autarquias, que têm de saber contrariar, em nome do desenvolvimento que temos de perseguir e prosseguir, a voragem cega de Lisboa e arredores; outra, temo-la nas nossas mãos e isso viu-se a 15 de Setembro, num facto que fez recuar o Governo dos seus intentos menos bondosos – bater o pé, que há teimosias mais sãs que um pero. Se temos topado por aqui uns toques deste tipo de medidas, há que confessá-lo, gostaríamos que se fosse mais longe. Para que conste, e cada caso é um caso, andamos por aí à cata de outras boas práticas e encontramos algumas que podem ser bons exemplos. Suficientes? Talvez não. Os melhores? Isso ninguém sabe. Mas aqui ficam. Em Braga, foi criado, no âmbito de um “Encaixa-te”, um programa de redução do IMI em 50% para quem se venha a instalar no Centro Histórico e que, sendo jovem, tem aqui um estímulo para três anos em termos empresariais. Alcoutim, lá nos confins do Algarve e onde cheira a mar, a Guadiana e a Espanha, mas não há meio de descolar para patamares aceitáveis de fixação de pessoas, o cerne e o objectivo de todo o desenvolvimento sustentado, mandou às urtigas os 5% do IRS a que tem direito, desceu o IMI para taxas mínimas. Assim, já que o Estado, aqui cego, surdo e mudo, não quer criar alavancas positivas, a autarquia local não esteve com meias medidas. Esposende, também à beira-mar, abdicou da derrama, reduziu taxas de publicidade e de ocupação da via pública em 50%, cortou no IMI, desceu, em 5%, outros impostos indirectos e taxas municipais diversas. Também o concelho da Mealhada, ciente de que, a par do convite implícito de seus leitões, precisava de ir mais longe, foi mesmo por aí que quis caminhar: levou a derrama para zero, pôs o IMI nos mínimos, deixou de lado os tais 5% do IRS… Quando por aqui, por Lafões, já se fala em mais uma afronta, que é a do fim da isenção de portagens (sendo que sempre foi dito que, abaixo de 80 % do Índice do Poder de Compra, essa era matéria a não mexer) e se nota que continuaremos a ficar cada vez mais pobres e desfalcados, tudo (?) parece amorfo. Repetindo uma máxima dos últimos tempos: quanto a isso, BASTA! Temos, porém, essa outra vertente, a dos impostos e taxas municipais. Sabendo que as autarquias estão nas lonas, o mal, no entanto, é muito maior do lado do nosso povo: sem dinheiro e sem esperança, lá vai ele fugindo, fugindo e nós ficamos mais sós. Esta é a hora: cortem-se as gorduras para dar pão a quem dele carece. E a ANMP tem de fazer ouvir a sua voz e honra seja feita ao Dr, Fernando Ruas, que tão bem a tem levantado. Mas é preciso gritar ainda mais alto Carlos Rodrigues, em “Notícias de Vouzela”, há tempos…

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