terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Um comentário ao Censos 2011

Censos 2011 para um país desfigurado Com a recente publicação dos resultados definitivos relativos ao “Censos 2011”, verificam-se dados de que há muito se suspeitava e, agora, se confirmam: para as nossas regiões, não são os melhores, mas não deixam de corresponder a uma realidade que se vem agravando com o andar dos tempos e com os rumos de um país que descai, perigosamente, para o mar, esquecendo-se todo o restante território. Se, a nível geral, há um aumento populacional, ainda que proporcionado pela imigração ( 394496 estrangeiros aqui fixados), que os outros factores, como o da natalidade, são dos mais baixos do mundo, por estas nossas zonas perdeu-se gente e, com isso, despovoou-se o território. Continuando-se com vertiginosas assimetrias, parte do litoral rebenta pelas costuras, enquanto que o interior, de norte a sul, é uma desgraça. Numa densidade populacional média de 115 habitantes por quilómetro quadrado, o Grande Porto apresenta valores de 1580 residentes/Km2 e a zona de Lisboa, 1484. Com estes números, está tudo dito. Paralelamente, a estrutura das actividades económicas pouco ou nada tem a ver com aquilo que acontecia há décadas, quando o sector primário era um dos maiores e hoje fica-se apenas pelos 3/%, quando os Serviços absorvem 70%, a Indústria 18% e a Construção Civil, 9%. Sendo estes indicadores parte de um retrato, a corpo inteiro, de nossas vidas, é fácil constatar-se que há um crescente abandono das pessoas da agricultura e pecuária, o que não quer significar menos produção em vários campos destes sectores, onde até aumenta, muito razoavelmente, em qualidade e quantidade. Significa apenas que há alterações de fundo na nossa vertente empresarial, um tanto em sintonia com a restante Europa, onde estas tendências eram já uma constante desde há muito tempo. Em complemento deste raciocínio, convém dizer-se que estamos, porém, perante um mundo que mudou radicalmente no espaço de poucas décadas e que isso tem os seus inevitáveis reflexos, a muitos níveis, em que se podem integrar o social, o económico, o político e o civilizacional. Sendo estes dados fruto desta época que vivemos, que este XV Recenseamento Geral da População e V da Habitação puseram cima de nossas mesas de trabalho, há múltiplas lições a tirar. Hoje, estamos a enveredar apenas por considerações de ordem geral, mas localmente há também muito que se lhe diga e não se podem fechar os olhos, face à dureza daquilo que podemos ver nos extensos documentos que o INE – Instituto Nacional de Estatística – acabou de produzir, depois da emissão de muitos relatórios preliminares, que, entretanto, foram aparecendo desde o ano passado, 2011. Na lista de nossas preocupações, ressalta logo uma delas, que é a de um envelhecimento muito acentuado das nossas camadas populacionais. Agravando-se este fenómeno de ano para ano, com este ciclo de dez anos, 2001-2011, a mostra r que o seu “peso” passou de 16 para 19%, ao passo que, nos jovens, se andou em sentido inverso, descendo-se de 16 para 15%, são palpáveis e aflitivas as deduções a fazer. Acrescentamos ainda mais alguns pormenores: em 2001, o índice de envelhecimento estava em 102 e, em 2011, trepou para 128. Ou seja, há cada vez menos gente nova para suportar a corrente intergeracional que tem de ser sempre seguida, escasseando pessoal activo, em produção, exponenciando-se os idosos, com tudo quanto implicam em termos de solidariedade social que é um seu direito, conquistado com o seu suor e saber e que não pode, por razões desta natureza, ser posta em causa. Precisamos é de encontrar caminhos alternativos que levem as políticas sociais e de aposentação a bom porto. Como? Esta é a grande questão… Regionalmente, verificamos o seguinte: os Açores têm 13% de idosos, a Madeira – 15%, a Região Centro 22% e o Alentejo - 24%, com estes índices de envelhecimento, respectivamente, 73 para os Açores, surgindo depois, nos restantes lugares, os outros espaços – 91; 163; e 178, para a citada média geral de 128. Ou seja: como já não nos bastasse o facto de as nossas terras estarem cada vez mais a ver que a sua gente se perde, há também este outro factor de inquietação: o da velhice cada vez mais acentuada. Sendo este campo muito positivo, quanto ao aumento da esperança de vida, não deixa de, nesta boa medalha, haver um seu reverso que deve merecer a nossa atenção: a necessidade de tudo fazermos para fixarmos os nossos jovens e, com isso, rejuvenescermos as nossas populações. Numa linguagem muito básica, precisamos de sangue novo como de pão para a boca. Nem tudo é mau, porém, que muitos aspectos são altamente positivos: por exemplo, os níveis de escolaridade subiram em flecha e o analfabetismo diminuiu fortemente, descendo de 9% em 2001 para 5,2% em 2011… Com tanto para contar, tomamos, para já esta decisão: por hoje, ficamo-nos por aqui. Até breve. Carlos Rodrigues, NV

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