sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

O futuro e as energias pensados em 2011, no "Notícias de Vouzela"

Pensar o futuro pela via das novas energias O tema da energia faz mover um grande número de agentes do pensamento em termos de busca de alternativas para o futuro, que o presente assim aconselha: em maré de crescentes dúvidas e de sobressaltos a mais, como este de, sem explicações plausíveis, vermos sempre os combustíveis a aumentar e os bolsos a encolher, mais se faz sentir a necessidade de ir por outros caminhos. Contrariamente ao que atrás dissemos, hoje (?) mesmo sentimos na pele os efeitos dos acontecimentos da Líbia. E este facto mais adensa a urgência de se abrirem novas portas. Na marcha do tempo, queimam-se muitas pestanas para historiar esta área da nossa vida económica e social. Desde a força humana elevada à categoria de propulsora de tantos e tão pesados feitos, como a movimentação de penedias para construção e o domínio dos perigos adversos que surgiam a cada passo, até à descoberta da alavanca e do fogo, vão passos de gigante, talvez milhares e milhares de anos de distância. Com o solo a ser escasso em termos de respostas, vai-se para o subsolo à procura de carvão, minérios e, já perto dos nossos dias, de combustíveis fósseis, de que é expoente de primeira grandeza o petróleo, esse marco civilizacional que veio mudar todos os paradigmas da nossa humanidade. A electricidade, um pouco antes, fora outro dado da maior importância, talvez mesmo bem mais relevante. Mas havia um pormenor que tinha de ser equacionado: a energia pela via eléctrica era praticamente estática, quanto aos seus usos. O petróleo, porém – e daí a sua extrema mais valia - veio revolucionar a locomoção, a produção industrial e dar a volta ao mundo. De mão dada, estes dois factores tornaram-se motor e semente de futuro, desde os séculos XIX e XX. Criando tais argumentos, tudo passou a girar em torno destas fontes de movimento, de colocação de máquinas em trabalho, de parceiros de um homem que desse contexto passou a estar profundamente dependente e até escravo. Tudo isto aconteceu em pouco mais de um século e, no entanto, o género humano já carrega em si milhares e milhares de anos de existência. Este aparente paradoxo tem uma explicação: viveram-se tempos e ciclos longos de estabilidade durante grande parte do passado humano. Cada nova técnica, ao nascer, tinha garantido um risonho futuro pela sua frente. Pouca inovação ameaçava o seu poderoso e dominador reinado. Mas, quando rebentaram outros métodos e centros de saber e experimentação, associados a inventos em cima de inventos, tudo mudou. A dimensão volátil da ciência ganhou estatuto. A velocidade das alterações converteu-se em medida, sempre efémera, de tudo aquilo com que o homem operava. A certeza de hoje constituiu-se em dúvida e chacota de amanhã. Já nada, podemos afirmá-lo, tem agarrado a si a marca de verdade perene e universal. Talvez até os valores se podem enquadrar nestes princípios de ebulição e evaporação constantes. Se esta reflexão tem uma dimensão extensível a muitos e variados domínios, o da energia não passa despercebido à luz deste incrível rolar da história. Antes pelo contrário. Motor e sustento da nossa economia, dela depende a sobrevivência do mundo empresarial e do nosso quotidiano, que, aliás, estão profundamente interligados. A realização, há dias da “Enervida – 11”, em Viseu, levou a que nos sentíssemos quase na obrigação de abordar este tema, tantas são as interrogações e evidências que ali se levantaram, muitas já sabidas, outras, talvez, nem tanto. Ali se soube, por exemplo, que o nosso distrito é, a nível do país, o segundo em produção de energias renováveis e o primeiro no campo das fontes eólicas. Para assim ser, nada disto aconteceu por acaso: o facto de albergarmos esse colosso de determinação e de bem saber fazer, que é a Martifer, de Oliveira de Frades, tem aqui um papel de uma assinalável relevância, para não dizermos mesmo, insubstituível. Junte-se-lhe a ciência de um criativo Politécnico, com o seu carro eléctrico, acrescente-se-lhe a força da AIRV e encontraremos grande parte da resposta para este sucesso. Quando tanto temos criticado muitas das nossas políticas e medidas nacionais, seríamos injustos com outrem e connosco mesmo se não disséssemos que esta é uma clara aposta do nosso Governo que aqui, neste desígnio, tem efectiva concretização e constitui até uma de suas bandeiras, por mérito próprio e por obra de quem abraçou tais projectos. Com a biomassa, o potencial eólico, geotérmico, hídrico, marítimo, solar e do hidrogénio (havendo que somar a tudo isto, como nos confessava o Dr. Fernando Tavares Pereira, a produção de lítio, material essencial para as futuras baterias eléctricas), detemos tudo, em fina nata, para um diferente caminho a percorrer, que seja alternativa ao caro e estafado petróleo, que tanta dor de cabeça nos dá. Se agora já subimos aos 53%, em termos de componente de energias renováveis na composição do pacote eléctrico, ainda temos quase outro tanto de esforço a percorrer até chegarmos ao topo de nossos desejos, aspirações e necessidades. Mas há um lastro, um poderoso arranque, que não pode morrer na praia. Com aquilo que acabámos de descrever, cabe endereçar à “Enervida”, aos seus mentores e operacionais, merecidas congratulações pela oportunidade deste encontro-feira e pela ideia de nos fazer sentir que somos capazes de, inovando, dar saltos enormes em favor do nosso futuro e é por ele, pelas novas gerações, que temos de lutar. A “Geração Deolinda” exige que assim procedamos: que lhe deixemos um mundo melhor, que para mal já basta a inércia que temos tido e a tripa-forra em que se andou a viver, sem rei nem roque. Com esta procura de uma outra energia é na juventude que temos de pensar. Vale, por isso, a pena que se não esmoreça nesta busca incessante. Carlos Rodrigues, NV, 2011

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