quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Tempo e políticas às avessas, como escrevia há dias

A meteorologia e a política de cara à banda - Até os Tribunais já fugiram Há dias em que escrever duas linhas é mesmo um frete, porque nada sai bem e a janela, com o temporal que nos mostra, não é fonte de inspiração que se cheire. Quem paga é o computador e suas teclas, carregadas vezes sem conta, mas sem darem algo que preste. Poupamos, ao menos, no papel. Outrora, em folhas rasgadas e amarrotadas, algumas quase com raiva, era de desperdício ambiental que se tratava. Agora, valha-nos isso, a poupança aqui tem nome: não há estragos de monta, a não ser meia dúzia de neurónios queimados, prestes a fazerem faísca. - 1 – Sendo o TEMPO e o FUTEBOL boas muletas para um começo de conversa, é a primeira que vamos usar. Caramba, isto vai mesmo muito mal: chuva, vento, trovoada, granizo, nevoeiro, mar revolto, eis uma carrada de ingredientes de Inverno que, neste ano de 2014, vindo já de 2013, são uma constante por estas nossas terras de Camões. O seu Gigante Adamastor, assanhado, anda por aqui. A tempestade Stephanie tocou-nos à porta, entrou pela casa dentro e deixou marcas, não muito boas, por sinal. Temos escrito e dito que não comungamos da tese urbana que diz que, quando está a chover, logo estamos perante um qualquer mau tempo. Sentimos e defendemos que, para quem vive, por opção, em meio rural, a chuvinha, bem caída, por vezes é ouro e do bom, por ser criadora, por ser suporte de vida. Mas, convenhamos, agora essa gente tem toda a razão: há mau tempo e ponto final. A costa marítima tem dado cuidados até mais não. São tantos os episódios, que já não estamos a enfrentar aspectos pontuais, mas a sofrer algo que exige cuidados e medidas estruturais. As ondas gigantes, que se não confessam e tudo arrasam, são uma chamada de atenção que não pode deixar ninguém insensível. Isto é mesmo um problema da Humanidade e o Homem tem as maiores culpas neste cartório. As alterações climáticas, com todo o cortejo de seus efeitos e até horrores, estão aí, por mais que se queira contestar esta ideia. Face a isto, temos de pôr mãos à obra e não são umas pazadas de areia que resolvem o problema. Isso é como querer encher o mar com dedais de água. Nada mais do que isso. Infelizmente. - 2 – Se o tempo nos anda a pregar tais partidas, veja-se o que fazem os seres humanos por aqui e pela Suíça. Vamos, para já, falar daquilo que de mal nos coube em sorte nas nossas terras, ficando o triste Referendo da Suíça para o ponto número três, já a seguir. Sem qualquer esforço de memória, elegemos a JUSTIÇA como palco de nossas críticas, preocupações e mil cuidados. O que temíamos, directa ou encapotadamente, veio a concretizar-se: os Tribunais foram fechados em 20 concelhos, sobretudo situados em zonas do Interior, e 27 passaram às famigeradas Secções de Proximidade, estilo apeadeiro para comboio parar apenas a pedido e em certas horas. Temos também a Especialização, mas as nossas Comarcas perderam em toda a linha. Na nossa Região e arredores, houve de tudo quanto seja mau: fechou Sever do Vouga, ficaram como Secções de Proximidade Castro Daire, Oliveira de Frades e Vouzela, mantendo-se, porém, intacto S. Pedro do Sul. Há quem diga: do mal o menos. Somos desses. Mas esta afronta é isso mesmo: uma bofetada de todo o tamanho. Nasceu, por sua vez, a grande Comarca de Viseu, ou seja, o acesso a este mundo da justiça complica-se e afasta-se do nosso seio. Isto é o pior que nos pode acontecer. Símbolo de soberania amordaçada, pilar da confiança nas Instituições destruído, aqui temos a continuação de um lastimável e condenável caminho que as políticas centralizadoras de Lisboa teimam em impor-nos. A culpa desta situação vem do Memorando da Troika. Mas quem a está a colocar no terreno são os responsáveis governamentais que, agora, ocupam as cadeiras do (mau) poder. Uns e outros, ou seja, quem está, neste momento, na oposição e quem “manda”, ninguém escapa à nossa crítica frontal, aberta e assumida. E sem rodeios. Acabar com os Tribunais, ou fazer com que funcionem a meias, é osso duríssimo de roer. As nossas terras não merecem este tratamento de cidadãos descartáveis. Olhar para estas zonas com a régua e o esquadro numa mão e as estatísticas na outra, é não querer saber que este despovoamento só se combate, criando condições para aqui se viver. Por isso é que os políticos, todos eles, devem ter a cabeça a doer: decisão a decisão, estão a matar o nosso Interior. No banco dos Tribunais, que nos estão a levar, são culpados com todas as letras. E, na nossa mente, não escapam a serem considerados parte da desgraça que nos estão a fazer viver. Todos eles. Talvez menos D. Dinis e D. Sancho I. Para completar este nosso raciocínio, ver os trabalhos da Lurdes Pereira e da Salete Costa acerca deste mesmo tema… - 3 – Nesta crónica azeda, ainda há mais vinagre estragado em cima da mesa e a ementa de que vamos falar chega-nos da Suíça onde um Referendo, vencendo à tangente (50,3% de sins e 49.7% de nãos), veio fazer perigar a vida da nossa emigração, com a votação do projecto “Contra a Imigração de Massas”, nascido na extrema-direita, o Partido do Povo Suíço. Tudo ali pode piorar para os nossos emigrantes, mas confiamos em que a mais valia dos seus contributos e o historial que foram conseguindo sejam capazes de travar essas más intenções, que não são, aliás e ainda bem, a carga genética actual da Europa onde estamos, com a Suíça como país associado, embora não elemento… Carlos Rodrigues, Notícias de Vouzela, 2014

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