terça-feira, 23 de setembro de 2014

Escolas do passado e do futuro

Escola de hoje e de ontem - Uma palavra para um luxo à maneira, em Oliveira de Frades Num Portugal assimétrico, desequilibrado, socialmente injusto, a Educação foi, em tempos idos, um perigoso factor de discriminação negativa. O nosso Interior está a pagar um pesado preço, ainda nos tempos que correm, em herança que vai, infelizmente, continuar no futuro, pelas falhas sofridas ao longo de décadas e décadas de um condenável abandono, imputadas aos poderes públicos, de tempos idos e de agora, que têm sido padrastos demais para as nossas terras. Verdade seja dita que o Estado Novo dotou o território de escolas primárias, sobretudo a partir dos anos quarenta e cinquenta em diante. Fê-lo por razões ideológicas e sociais, mais a pensar na industrialização do litoral e no mínimo de formação que deveriam ter os futuros operários do que nestes lugares em si mesmos. Mas também tem de dizer-se que cortou, quase pela raiz, as boas propostas que a 1ª República tinha instaurado, com modalidades avançadas para a época, que diminuiu a qualidade do ensino em termos de criar os conhecidos postos escolares, que não cuidou dos patamares seguintes como o ensino preparatório e liceal e ainda as escolas comerciais e industriais, atirando estes estabelecimentos apenas para as sedes dos distritos. Esse foi um erro fatal para o desejado desenvolvimento equilibrado que se pretendia para estas nossas zonas. Em busca de melhores condições de vida, despovoaram-se três das quatro partes do território continental e insular. A maioria das nossas gentes fugiu para os grandes centros, aí criando problemas de insustentabilidade habitacional e social do arco- da- velha, sobretudo em Lisboa e arredores, quando se encetou também a debandada para o estrangeiro europeu, aos milhares e milhares de emigrantes por ano, ora legalmente, ora a salto e haja o que houver, seja o que Deus quiser. Poderia não ter sido assim, se tivesse havido mais políticas públicas em favor das nossas Regiões. Não as dotando de serviços, infraestruturas e equipamentos, o poder central de então lavrou a sentença atroz: sair do Interior custe o que custar. Foi o que aconteceu, em massa durante os anos cinquenta, sessenta, sobretudo, para se ressuscitar, na actualidade, esse lamentável perigo das idas sem retorno de nossos jovens e demais pessoas em desespero de causa. Ontem, por umas razões, hoje, por essas e outras. Se olharmos para o facto de, em Lafões, o ensino pós-escola primária ( é este o termo mais conhecido pelo nosso povo) só ter aparecido com uma certa força nos anos sessenta, em Vouzela e Oliveira de Frades, quando, em S. Pedro do Sul, viera uns curtos anos antes, mercê da iniciativa privada em avançar com os Colégios, temos a prova de que se não andou a tempo de evitar o desastre. Pelo meio, convém dizer-se que, em Oliveira, houve uma outra experiência do mesmo género, de boa memória, em décadas anteriores. O Estado, a medo e às pinguinhas, só aqui entrou no sistema já praticamente em setenta e tais, primeiro com o 2º Ciclo, alargando para o 3º e só muito mais tarde se atreveu a criar, nos três concelhos, o 10º. 11º e o 12º anos ainda, neste caso, muito mais devagar. Dir-se-á agora que as escolas de outrora estão a fechar e a esvaziar ainda mais as nossas povoações. Essa é uma verdade incontestável, mas os factores que a isso conduziram têm raízes nos tempos que antecederam a actualidade. Se as pessoas tivessem ficado, apesar da diminuição da natalidade, não teriam havido muitos dos cortes que, a esse nível, estamos a sofrer. Com excessos condenáveis, é óbvio que alguns ajustamentos eram necessários, mas não na dose cavalar com que foram concretizados. Em termos gerais, falharam as escolas, a saúde, as vias de comunicação, os equipamentos sociais e culturais, sendo que muitas ligações e infraestruturas destas, que hoje por aí existem, são fruto dos poderes locais democráticos posteriores a 1976 e, sobretudo, são filhas dos fundos europeus. Até estes momentos, era a miséria que sabemos, que se estendia a fracas condições de habitabilidade, à tardia vinda da energia eléctrica e estas são verdades que doem e nos têm atormentado sempre. Por isso, Lafões viu fugir a sua maior riqueza, os seus habitantes. E, agora, que fazer para fazer inverter este negro quadro?... Oliveira de Frades, uma Escola de outra galáxia Feitas estas considerações, passemos a uma outra constatação, a de que, no oito e no oitenta, o concelho de Oliveira de Frades, veio a herdar uma das melhores e maiores escolas secundárias executadas pelo “Parque Escolar” nos últimos anos. Fala-se na ideia de que é a segunda, logo atrás da “Quinta das Flores” em Coimbra, nesta última fase. Pelo que vimos, não nos custa acreditar que assim seja. Em visita agendada com o Professor José Viegas, que acompanhou a par e passo estas obras, e levada a cabo pela Directora, Dra. Jorgina Rolo e sua Colega de gestão, Dra. Ana Paula, por ali andámos parte de uma enriquecedora tarde. Olhos arregalados, para nós que ali leccionámos pouco tempo depois de ter sido inaugurada a velha-nova Escola, em 1987, nem queríamos acreditar no que víamos em extensão, em profundidade e em aspecto (fora alguns pormenores que deixam bastante a desejar, como as portas, etc, etc,), porque aquilo é obra de nos fazer crescer água na boca, que ali apetece ir e ficar. Eis alguns bons tópicos: uma sala por turma, mais salas específicas para actividades diversas, laboratórios topo de gama, a fazer inveja a muita universidade, pavilhão desportivo cinco estrelas, instalações para professores, trabalho e tempos livres, com uma qualidade invejável, sendo que o nosso termo de comparação tem cerca de trinta anos, campos de jogos vários, bom refeitório e loja de produtos didácticos, oficinas de mecânica e carpintaria de bom nível, salas de directores de turma e para encarregados de educação, serviços de secretaria com apreciável aspecto, um tamanho que dá para projecções optimistas a vários anos. Enfim, uma obra que vale a pena ver e desfrutar. Mas também tem manchas negras, como sejam o diminuto espaço aberto para os cerca de mil alunos que ali têm aulas, para tempos de Inverno, a qualidade de alguns materiais nas portas que deixa muito a desejar – a vimos algumas delas a caírem, literalmente -, um anfiteatro enorme horizontal, que nega a boa observação de quem nele se sentar, sinais estes de que nem tudo foi bem pensado e concretizado. Para terminar, uma Escola destas merece que a população a faça usar até ao limite das suas capacidades e que todos os que a “habitam” sejam dignos da qualidade que ostenta, porque perto de 19 milhões de euros ali gastos falam por si. Oliveira de Frades pode orgulhar-se deste empreendimento, que tem razões para isso. Ainda bem. Carlos Rodrigues, NV, 2014/09/18

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