domingo, 9 de novembro de 2014

O petróleo a toldar as mentes

A minha última entrada nestas páginas, que vou alimentando com alguma irregularidade, mas com a verdade como mestra, falava dos preços dos combustíveis. Nem de propósito. Hoje vou pegar num assunto que muito me dói, o da expulsão dos Magistrados portugueses que prestavam serviço em Timor. Segundo consta, há a maléfica acção das fontes petrolíferas no meio desta decisão timorense. Não sei nada sobre as razões que sustentaram tão dura sentença. Consta, e é nessa convicção, que o petróleo foi o detonador desta bomba política que muito lamento. E digo porquê: há anos, chorei lágrimas de dor pelas atrocidades que recaíam sobre este território tão afectivamente ligado a todos nós. Escrevi muitas linhas, em artigos de jornal, a associar-me, de corpo e alma, a esta causa nossa e de todo o mundo, a defesa de Timor independente. Inscrevi o meu nome em tudo quanto se relacionasse com este tão quente e tão candente problema, defendendo a integridade deste território até ao limite. Ao lado de Xanana e suas ideias, sofrimentos e dores, estive sempre, sem medo, sem vacilações, com firmes convicções. Por tudo isto e pela solidariedade que Portugal sempre mostrou, activamente, em relação a este novo País, o mais novo, nascido no início deste milénio, não gosto de ver aquela Terra a tratar-nos assim, mandando para casa, em 48 horas, gente de nossa gente. Este não é comportamento que eu aplauda. Nem por sombras. Razões, dessas não quero saber para já.É o gesto brusco que me amachuca, que me diz que não se "paga" assim a solidariedade demonstrada em tempos de morte e dor. Sendo irmãos, não se dão assim bofetadas, sobretudo quando é Xanana Gusmão o Primeiro-Ministro de Timor, de que tanto gosto e de que não quero perder pitada das boas ligações que temos tido. Um nódoa apareceu agora. Mas a lixívia tem de lavar tudo isto e Xanana deve bater com a mão no peito e pedir-nos desculpa. O peso do dinheiro de petróleo não pode matar a emoção do coração. Nunca.

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