quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Combustíveis a descerem mas já com ameaças de subidas em 2015

Preços dos combustíveis a descerem Ainda há boas notícias, mesmo que a meias. Isto de acordarmos, de manhã, e sabermos que os combustíveis deram um trambolhão jeitoso é sempre algo de apetecível. Se lhe juntarmos o facto de a desvalorização nos fazer remontar ao ano de 2010, pensamos logo que a vida vai melhorar e as economias tornar-se-ão uma feliz realidade. Porém, não é bem assim o rumo concreto dos acontecimentos. Há sempre uma areia a travar a engrenagem e a última é, na opinião dos interessados do outro lado, a relação entre o euro e o dólar. Será? Deixamos os estudos, sérios, para os entendidos a fundo nessas matérias. O que nos interessa saber, enquanto consumidores de bolsos nem sempre abonados, é a resposta para este dilema: se o petróleo, na origem, mostra cair numa certa e notória percentagem, que razões levam a que, nos postos de abastecimento, ou se demore a actuar, ou isso seja feito sempre numa medida que se não ajusta com as quedas verificadas? Esta é que é a nossa grande dúvida e angústia, mesmo que nos saiba bem pagar menos para encher os depósitos, porque esse menos é menos ( com um manifesto exagero em português) do que deveria ser, cremos nós. Um dia, em 2004, com a liberalização dos preços dos combustíveis, ficámos convictos de que a lei do mercado seria a força motriz desse negócio. Parece que não é bem assim e o cidadão indefeso e sem meios de contestação activa tem de se contentar com o peixe que lhe vem ter à rede. Estranhamos é que, com muito mais capacidade de conhecimentos e de poder argumentativo que nós próprios, as grandes empresas e o mundo das transportadoras não sejam mais reivindicativas. Ou lhe é sonegada informação, ou desistem dessa luta, porque sabem que, do lado de lá, há sempre fórmulas esquisitas para contrariar as deduções óbvias. Se assim é – e talvez seja -, se são desiguais as forças em presença, perguntamos nós, humildes cavadores da comunicação social: onde está a Regulamentação eficaz, firme, impenetrável a quaisquer pressões, ou delongas? Parece-nos, numa apreciação muito ligeira e pouco aprofundada, que nem sempre estão esses serviços onde deveriam estar. Dos fornecedores, são recorrentes as desculpas, quem sabe se de mau pagador, no sentido de virem sempre dizer que os custos de transportes do grude, a refinação, a colocação nos postos estão sempre a encarecer. Balelas? Muito provavelmente. Ao que sabemos, os vencimentos dos funcionários não têm aumentado, salvo nas cúpulas, as novas tecnologias, em crescendo, são suporte seguro para optimização de custos, para a melhoria da qualidade e dos serviços a prestar aos clientes e, se o não forem, procurem-se outras. Nesta nossa óptica, a uma descida real do petróleo deverá corresponder igual repercussão nos preços pagos pelo consumidor, corrigidos, aí aceitamos, com as variações da moeda, na relação euro/dólar. Mas, até neste aspecto, não cremos que haja total transparência. Muitas vezes, o valor do euro joga a nosso favor e não vemos as petrolíferas a fazerem reflectir essas variações no imediato das relações comerciais que connosco estabelecem. Ou seja: quem está na mó de baixo, come e cala. E, se refila, como hoje estamos, franca e abertamente a fazer, de pouco vale essa queimadela de neurónios. Para a história da estatística, ficam os números: hoje, dia 20 de Outubro, os postos de abastecimento de combustíveis “presentearam-nos” com uma descida de cerca de 6 a 7 cêntimos na gasolina e 2 a 3 no gasóleo. Ficando todos felizes, até nos esquecemos que, na origem, se voltou a valores de 2010, mas quedámo-nos em preços de 2014, essa é que é essa. Para melhor enquadramento legal deste trabalho, toda a liberalização neste mercado advém da Lei nº 107-B/2003, de 31 de Dezembro (Lei do OE para 2014) e demais regulamentações e esclarecimentos posteriores. Nessa altura, tudo parecia que ia correr às mil maravilhas. Mas, como enfatiza o economista Eugénio Rosa, pouca gente se preocupa, entre outros factores, com a política de stocks a baixo custo, que, quando é oportuno para os vendedores, salta para a rua o produto tratado como se tivesse sido adquirido por valores mais elevados. Isso pouca gente quer ver, ou meter a mão na massa quente, com medo de se escaldar e essa é tarefa que o Regulador não pode, nem deve descurar. Sendo ainda conveniente pensar que, em 2015, a fiscalidade verde vai “comer-nos” dois cêntimos por litro, é natural que, em qualquer análise destes problemas, não nos esqueçamos da interferência dos impostos nestas matérias. Isto é: somos cravados pelas petrolíferas e pelo Estado, num ritmo cada vez mais crescente e asfixiante. Esta semana, tivemos um rebuçado, mas o bom chocolate ficou do outro lado. Sendo sempre assim, infelizmente, por estes factos, é previsível que o crescimento económico seja uma bagatela, o que não ajuda nada as nossas empresas, nem a nós próprios. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 23 de Outubro de 2014

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