sábado, 18 de outubro de 2014

No lançamento da Barragem de Ribeiradio/Ermida, em 2009

UMA BARRAGEM COM PORTA ABERTA Atrevo-me, hoje, a trazer aqui uma nota pessoal, carregada de emoção e cheia de desabafos: à minha frente tenho a imagem virtual de uma obra que me povoa o pensamento e os desejos, desde há muitas décadas, de a ver crescer, desabrochar em desenvolvimento, ver brilhar ao sol toda aquela água e, agora mais tarde, a produzir energia. Participei ainda, em tempos idos, em muitos contactos, com vista a pô-la em marcha, dando voz a quem tanto e sempre a quis, tanto ou mais do que eu. Umas vezes como interlocutor privilegiado, outras na saudosa companhia de alguém que não teve o prazer de assistir àquele momento, solene e mágico, da assinatura do contrato de empreitada, o Eng. João Maia, muito se lutou por esta obra. Connosco, nessas duas fases, sempre se manteve uma outra presença de vulto em toda esta epopeia: o Dr. Manuel Soares, ainda Presidente da Câmara de Sever do Vouga. Por convite do Dr. Luís Vasconcelos, sentei-me naquela tenda gigante, com os olhos postos no écran, que nos mostrou o lançamento de uma pedra, esta forte e segura, antes de termos presenciado o testemunho de quem nos trouxe a certeza de que, agora, se deixou de vez aquela angústia de se não saber se era a sério ou a brincar. Com o apadrinhamento do Eng. José Sócrates, com a força empreendedora da EDP e da nossa MARTIFER, com o trabalho das firmas construtoras, vamos ter não uma, mas duas barragens: Ribeiradio e Ermida. Foi com um rubor na face que vi assinar os respectivos contratos, com um certo aperto no coração que ouvi proclamar o fim do duro calvário, quando se disse – registo-o com a convicção de que, nesta altura, não há recuo possível - que estes empreendimentos não vão parar antes de contribuírem para a riqueza nacional e de alegrarem os corações das gentes destas terras que descobrem, à sua frente, a concretização de um velho sonho. Senti que esta segunda vinda do Eng. José Sócrates, pelo mesmo motivo, vai resultar em pleno, sendo conveniente e justo destacar o seu contributo para este feliz desfecho: há anos, no Couto de Esteves, como Ministro do Ambiente, na companhia do Eng. António Guterres, participou em cerimónia idêntica. Após esse acto, veio um tribunal fazer abortar as obras e tudo ficou em banho-maria até ao passado dia 27 de Novembro, em Ribeiradio ( ver Reportagem da Salete Costa), data que aqui se regista neste tom afectivo e muito pessoal, quando se deu corda a estas Barragens. A verdade, porém, é que este compasso de espera, criticável, mas real, acabou por gerar um outro enquadramento: a afectação destes projectos à produção de energia eléctrica, uma vertente que foi arrancada a ferros e que muito se fica a dever à tenacidade da Martifer e à entrada em cena da EDP, aqui como parceira activa desta ideia-obra. Assim, num esquema de fins múltiplos, controle de caudais, rega, turismo, abastecimento de água, tem-se, neste momento, essa outra valência, o que muito valoriza as iniciativas em causa. Se os dados técnicos aparecem pela pena da Salete, não resisti à saborosa tentação de prestar este testemunho e de o dedicar, por inteiro, a um amigo que não pôde estar sentado ao meu lado, por nos ter pregado a partida de nos deixar sem a sua presença, mas apegados à sua memória: João Maia. Anos a fio, batemo-nos, em conjunto com tanta gente, por esta causa. Ao vê-la a renascer, para amanhã ser fonte de desenvolvimento, sinto que tudo isso – como tanta outra coisa! – valeu a pena. Carlos Rodrigues, Notícias de Vouzela, 2009

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