quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Uma viagem por Alcofra

Alcofra: de refúgio cristão a terra de futuro Esta terra, que fica encravada entre montes, que faz a ligação entre Lafões e o Caramulo, que conquistou, a pulso, uma estrada condigna nos anos sessenta, setenta do século e milénio anteriores, que tudo fez para ter escolas públicas a sério, que foi esconderijo de cristãos em zona de árabes, na caminhada de norte para sul, ainda antes da nossa nacionalidade, é hoje, mesmo que tenha perdido uma grande parte de sua população, uma freguesia com força para continuar o seu futuro. Se, nos citados anos, a dura luta pela estrada mobilizou as suas populações, levando a discussão até à então Assembleia Nacional, na actualidade ganhou outras e novas vias, para além da EN 333-2, a da polémica, como aquela que, passando por Farves e Mogueirães, se converteu na melhor ligação à sede do concelho, Vouzela, numa outra que serve o Couto e Carvalhal de Vermilhas, a que se pode ainda juntar aquelas que, circulando pelas póvoas de Campia, também chegam a Alcofra. Em rodovias, muito se ganhou, sem sombra de dúvida. Talvez devido a esse bom e poderoso factor, estas localidades ( com a curiosidade de nenhuma se designar por Alcofra, que é a “soma” de todas) são bem servidas de comércio e uma certa vitalidade social que se saúda e aplaude. Paróquia milenar, foi couto com autonomia desde os tempos do nosso primeiro Rei, D. Afonso Henriques, que lho concedeu em 1134, isto é, teve um estatuto praticamente equiparável a concelho, e sempre gozou, nessas épocas, desse estatuto. Isto prova a sua sustentabilidade e importância, reconhecida pelos sarracenos, que a viram como All-Kafre, ninho de infiéis, que não renegavam a sua cristandade e não foram na onda da moçarabização, que Coimbra, por exemplo, abraçou desde cedo. Diz-se também que o padroeiro municipal, S. Frei Gil, tinha uma de suas boas costelas dessa origem, atribuindo-se-lhe, por exemplo, a tradução de livros árabes sobre medicina. Mas, em Alcofra, a moda não pegou, pelo menos facilmente. Como ninguém dava nada a ninguém sem ter havido uma forte razão para essa doação, Alcofra veio a atingir esta categoria, porque o seu D. Cid prestou, ao ainda Infante, D. Afonso Henriques, um bom “serviço que me tendes feito e fareis”. Com esta carta de recomendação, com brasão próprio, que serviu de base ao “selo” da Casa de Lafões, do Rio de Janeiro, assim galgando mares, esta terra serrana foi sempre muito apetecível ao longo de todos os tempos. Abrigada entre os píncaros montanhosos, sulcada de rios e ribeiros com águas criadoras, com uma boa localização para uso de solos agrícolas, primeiro ali tinham arribado os povos pré-históricos, como se prova pelo Castro do Gralheiro. Numa caminhada provavelmente sempre contínua, atinge-se a fase de um forte domínio senhorial, de que a Torre, muito bem restaurada, é testemunho credível e duradouro, desde a Idade Média. Prova-se assim que ali se fixaram as gentes que registariam a sua obra no decurso das vivências em tais paragens. Hoje, integrada no concelho de Vouzela, a freguesia de Lafões, pertenceu a S. João do Monte e a Oliveira de Frades, antes das grandes alterações dos anos trinta, século XIX, prolongados por 1855, fim da circunscrição concelhia de S. João do Monte, e de 1871, ano em que Vouzela fica sede municipal de uma forma clara e definitiva com jurisdição sobre estas áreas da Serra do Caramulo. Personalidades de peso Com tanta história, é fácil descobrir gente que se notabilizou nesta mesma freguesia, ou que aqui teve fortes raízes e ligações. D. Cid e seu filho, D. Cid Aires vêm logo na linha da frente, em antiguidade, mas o Dr. Egas Moniz, de seu nome competo, António Caetano de Abreu Freire Egas Moniz, com projecção mundial com o seu Prémio Nobel da Medicina, teve, na Quinta do Carril, o berço materno, na pessoa de sua mãe, D. Maria do Rosário de Almeida e Sousa Abreu, filha de Rafael de Almeida e Sousa, um grande liberal e apoiante dos quatro costados de Maria da Fonte e da Patuleia, que muito lutou por estas causas. Também o Monsenhor António Marques de Figueiredo se destacou como Pároco e Professor em S. João do Monte, como Docente e Director do Colégio dos Órfãos, em Coimbra, como Vice-Reitor do Seminário de Viseu, como Vigário-Geral da Diocese ( de 1904 a 1927), passando a Vigário-Capitular com o Bispo Dom José da Cruz Moreira Pinto, de 1928 a 1943. Entretanto, são ainda de destacar o Comendador Cid Loureiro, que, no Brasil, tudo fez pela valorização de sua terra, bem como os cantores Fernando Farinha e Paulo Alexandre, numa lista enorme de tantas personalidades, de que não podemos esquecer os Morgados de Alcofra, instituídos por Cid Aires: Martim Àlvares, Lourenço Vicente, N. Peres, Francisco Lopes, Tomé Machado, Miguel Machado de Andrade, Tomé Machado de Andrade e Arcângela Machado, seguindo nós a documentação referida no antigo jornal paroquial, “ O Alcofrense”. Por ser merecido, aqui incluímos o Dr. Telmo Antunes, pelo seu percurso autárquico, político e social de relevo, desde muito jovem, iniciando-se, convém que se diga, nas lides jornalísticas neste nosso “Notícias de Vouzela” aos catorze anos de idade. Falar destas localidades e não trazer à liça a Casa do Povo/Centro Social, o Posto Médico, a Farmácia e outros equipamentos sociais, seria uma ingratidão face à importância que foram colhendo, pela obra feita, desde há várias e muitas décadas, sobretudo a partir dos anos setenta do século XX. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”

1 comentário:

Carlos Rodrigues disse...

NOTA E CORRECÇÃO - Ao falar-se da mãe de Egas Moniz, importa fazer-se a seguinte correcção: onde se escreveu que Maria do Rosário era casada com Rafael de Almeida e Sousa, DEVE ESCREVER-SE... neta de Rafael de Almeida e Sousa... O nosso pedido de desculpa...