sábado, 7 de fevereiro de 2015

Umas palavras sobre Lafões

Lafões 5 Este Lafões em que vivemos - 5 – Os primeiros documentos escritos em Lafões Nos temas anteriores, temos andado a recolher as fontes que sustentam a nossa vivência colectiva, em termos de testemunhos analisados nas construções, nas rochas, nos utensílios e outras evidências e sua interpretação. Por não haver escrita organizada e institucionalizada, tinha de assim ser, já que a oralidade se perdeu no tempo, como facilmente se conclui. Além disso, seria muito difícil assegurar credibilidade e veracidade dessa transmissão de dados, se, por exemplo, atendermos ao velho ditado de que quem conta um conto, acrescenta um ponto… Na evolução das sociedades, houve um momento que se pode considerar excepcional, que foi aquele em que o Homem foi capaz de descobrir a escrita e o seu poder: primeiro, utilizando as pedras, como vimos com os Romanos, e a cerâmica, o que foi determinante num dos berços da nossa civilização, a Mesopotâmia, posteriormente, com o apoio de peles e de pergaminhos, para, com a criatividade chinesa, entrarmos na fase do papel, o cume desta montanha, antes de tomarmos contacto com as informáticas e sua actual revolução. Lafões, inserido como região na fileira da frente da nossa civilização, cedo aproveitou estas benesses da transmissão de mensagens, muitas delas altamente duradouras, para não sermos mais papistas que o papa e dizermos eternas, como aconteceu com os registos, já aqui referidos, dos marcos miliários e outros. Mas, um dia, haveria de chegar a fase de outro tipo de documentação mais prática, mais maleável, de tal modo que hoje a ela podemos aceder nos Arquivos, nos armários da papelada com um valor incalculável. Para provarmos a sua falta, nesta nossa Região, há dois acontecimentos que nos privaram de uma grande parte dos testemunhos desse passado comum: um deles foi o incêndio que devorou, há séculos, o Mosteiro de S. Cristóvão, o que fez desaparecer a maior parte do material – e muito seria ele! – e das peças escritas que foram sendo construídas desde o século XI em diante; mais recentemente, o desastre do fogo nos Paços do Concelho de S. Pedro do Sul, para além de haver a lamentar uma morte em pleno combate às chamas devoradoras, fez com que também aí se evaporasse muito daquilo que seria útil para melhor nos conhecermos. Infelizmente, esse é um património irremediavelmente perdido e contra factos não há argumentos. Temos, por isso, de nos servirmos do que temos à mão e que a zelosa acção dos nossos antepassados, gentil e eficazmente, nos legou. Muito embora possa haver papéis anteriores aos séculos X e XI, o certo é que não será muito comum depararmos, a cada passo, com eles. A aparecerem, não deixam de ser uma raridade e, por isso, são tesouros de valor inestimável. Para esta fase do nosso trabalho, aqui, no jornal “Notícias de Lafões”, vamos começar a circular por aquelas épocas posteriores, com incidência a partir do ano 1000 da Era Cristã, optando pela datação hoje usada, que difere da de César em 38 anos, para menos. Numa abundante confusão entre o sagrado e o profano, a realidade é esta: a maioria dos testemunhos tem origem na Igreja, até porque o Clero era, na Idade Média, um dos poucos sectores das nossas comunidades que sabia escrever. Aliás, o Povo estava, por natureza, arredado desses palcos da cultura e a Nobreza, ciosa de nada fazer, entendia que era algo que não tinha de usar. Conclusão: quem tinha esse poder, não pôs de parte a boa utilização que dele fez, muitas vezes em seu proveito. Por esta razão, é de registos de bens da Igreja que se fala com uma enorme frequência. E, mesmo que se abordassem pontos e aspectos da sociedade civil, eram sempre visíveis a marca e a força dos membros eclesiásticos, ou gente que em seu redor gravitava. Sendo esta uma regra praticamente geral, as possíveis e raras excepções só a confirmam, até na nossa zona de Lafões, esta terra que habitamos desde há recuados milénios. Entretanto, pegamos nas conquistas de Fernando Magno para descobrirmos uma das boas alusões inscritas em material observável em arquivos, aquela que se refere à tomada de Viseu aos Mouros, a do ano de 1057. Será este um testemunho dos mais antigos que tem a ver connosco. Quanto a estas berças, diz-nos o Dr. António Nazaré de Oliveira, em “ Lafões, esboço geo-histórico”, publicado no Suplemento que o “Notícias de Vouzela” fez, em 16 de Maio de 1983, por ocasião do 1º Centenário da Filarmónica Verdi Cambrense, que um dos papéis mais velhotes desta zona se reporta a 1085 e está relacionado com a doação à Sé de Coimbra da Igreja de S. Pedro. Distribuindo datas pelos nossos três concelhos, em Vouzela, fazia-se aí alusão a 1083 e à sua Basílica, que, em 1113, já seria conhecida como Mosteiro; quanto a Oliveira de Frades, era o ano de 1149 (?), quando D. Rodrigo Pais, alcaide de Coimbra, e sua mulher Elvira Rabaldes faziam entrega dessa vila, agora ao Convento de Santa Cruz, na mesma cidade da beira Mondego. Importantes são ainda os seguintes anos: 1120 – alusão feita pelo Cónego José Simões Pedro, em “ A Trapa – Monografia histórica da antiga povoação e couto do real Mosteiro de S. Cristóvão de Lafões, Santa Cruz da Trapa, 1990”, a propósito de uma possível reconstrução desta mesma Instituição por parte de João de Anes e esposa, Maria Rabaldes, que o encontraram abandonado, dando-o aos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, ordem onde estava D. João Peculiar; 1123, refundação (?) deste mesmo Convento, tendo em conta que passou então por diversas fases, incluindo um sector feminino, nos seus primeiros tempos; quanto a este notável monumento, devem assinalar-se também os anos de 1161, em que aparece como Beneditino, e 1163, já como Cisterciense. Havendo muitas dúvidas acerca destas datações, aqui ficam registadas sob reserva. Nesta mesma fonte, refere-se a Carta de Couto da Trapa, em 1161, que, aliás, foi concelho. Entretanto, em 1159, é, de novo, citada uma outra transferência da vila de Oliveira de Frades dada ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, doação confirmada pelo Rei D. Afonso Henriques no ano de 1169, tal como se pode ler, por exemplo, em “António Nabais, Carlos Rodrigues e Manuel Martinho - Oliveira de Frades, edição da Câmara Municipal, 1991”. Neste mesmo livro, entre muitas outras localizações no tempo, fala-se na Igreja de S. Vicente de Lafões, em 1086, e algumas vendas de propriedades nesta localidade em 1092 e 1100. No ano de 1101, Diogo Peres e sua mulher cedem a João Gosendes e sua mulher, Ximena Froiaz, terras em Nespereira e Portoferreiro. Ainda neste século, mas já quase no seu fim, em 1195, é Albergaria de Reigoso que escreve mais uma página da sua história. Madalena da Dores Antunes, em “ Alcofra e a sua gente – Estudo monográfico, edição da Junta de Freguesia e Casa do Povo”, indica que esta paróquia teve Carta de Couto, em 1172, dada também por S. Afonso Henriques. Terminamos hoje com mais um repositório de fontes, estas a saírem da pena de Maria da Glória de Oliveira Girão, Maria Teresa Ferreira e Costa Tavares e Francisco da Cunha Marques em “ Vouzela: a terra, os homens e a alma, Câmara Municipal, 2001”. Aí se declara que um dos primeiros documentos de Lafões teve a ver com Figueirosa, em 1030, e que a “vila” de Moçâmedes foi concedida a Fernão Peres Cativo no ano de 1133. Em destaque, temos o nascimento de S. Frei Gil, em 1185. Por estas alturas, eram governadores de Lafões Piníolo Garcia, 1070; Gonçalo Fernandes – 1120; Fernão Peres Cativo – 1152; Sancho Nunes de Barbosa, Fernando Veilaz de Riba Douro e Egas Afonso de Alvarenga – 1152/1169. Prometendo continuar, ficamos agora por aqui. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”

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