quarta-feira, 18 de março de 2015

Varzielas lá no cimo da Serra do Caramulo

Pelas nossas terras - Varzielas, água e vento a produzirem riqueza Em enclave de terras pertencentes ao concelho de Oliveira de Frades, a União das Freguesias de Arca e Varzielas tem o condão de, estando longe, tudo terem feito os seus antepassados para não soltarem essas amarras institucionais desde meados do século XIX, quando se chegou a alvitrar outras possíveis ligações. Nada disso. Firmes como as rochas da imponente Serra do Caramulo, em cujo ponto cimeiro se encontram, não vacilaram nem na argumentação, nem na decisão. Igual atitude ostentam as actuais gerações, registe-se em seu favor. Nesta rubrica, já aqui falámos de Arca. Como o prometido é devido, hoje é a vez de passearmos por Varzielas, o que sempre fazemos com gosto, muito prazer e bons ares. Nos seus 11, 4 quilómetros quadrados, descobrimos dois pontos de grande altitude, as Pinoucas, com 1062 metros e, ali pelas bandas da Bezerreira, sobe-se aos 992 metros, o que faz com que o Céu, por estas paragens, esteja sempre por muito perto. Com este enquadramento geográfico, é natural que os Invernos sejam de alguma dureza e os Verões tenham calor até mais não. Com um tal envolvimento, são as pessoas, no entanto, a sua maior riqueza. Com coragem e perseverança, há muito quem tenha mantido o bom hábito de não desistir e ali viver, com dignidade, com vontade de continuar a história desta terra serrana. Numa análise demográfica, os números são, todavia, dramáticos: em 2011, com 359 habitantes, poderia fazer-se um paralelo com o ano de 1862, com 358. Acrescentemos outros dados: 1890 – 407; 1940 – 490; 1960 – 531; 1981 – 509; 1991 – 518, uma certa recuperação; 2011 – 359, como já vimos, o que revela uma queda abrupta e preocupante. Devido ao enquadramento geográfico, Varzielas, a que se juntam os lugares da Bezerreira e Monteteso, alberga no seu seio duas componentes naturais que são poderosos trunfos para a sua sustentabilidade económica e social: as águas, com uma forte unidade industrial e as energias eólicas, como relatámos na nossa publicação do dia 26 de Fevereiro. A par da actividade avícola e agropecuária, algum comércio e uma fábrica de Serração, vivem-se ali factores que importa saber valorizar e ampliar, assim haja vontade e gente para levar por diante essas exigentes tarefas. Possuindo ainda marcas da pré-História, há por ali vestígios de uma Anta, ao lado da estrada que liga a Paranho. Teve fortes ligações com o Mosteiro de Santa Cruz e com o Alcaide Cerveira, nos séculos XII e XIII, chegando, por essa altura, a estar dependente do Couto de S. João do Monte, vindo mais tarde a pertencer-lhe como concelho. Mas, em 1131, o Rei D. Afonso Henriques doara estas terras ao frade crúzio, Mestre Garino, estes mesmos espaços. Com a antiga Igreja Paroquial a ser restaurada em finais da década de setenta, do século passado, podem ainda ver-se, por aqui, as Capelas da Bezerreira e de Monteteso, mas as suas escolas do 1º ciclo e as “telescolas” de Varzielas e da Bezerreira, essas, são hoje apenas memória e saudade, continuadas apenas pelo novo Jardim de Infância, nascido muitos anos depois. Integrando actualmente a União de Freguesias com Arca, estas localidades, na actualidade, são servidas por muito razoáveis ligações rodoviárias, mormente com as estradas Águeda/Caramulo e Oliveira de Frades/ Varzielas, com pontos de partida também em Vouzela, isto a partir de anos e anos de aguerridas reivindicações que, por sinal, vieram a dar bons frutos. Terra e montes de muito xisto, onde nasce o Rio Águeda, Varzielas, confiando na água, no vento e nas suas gentes, bem pode aguardar um futuro melhor, que bem merece, aliás. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Março, 2015

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