quarta-feira, 4 de março de 2015

Sejães, terra de água e boas laranjas

- Sejães, tanta e tão boa água, meu Deus A freguesia de Sejães é indissociável do Rio Vouga, que a corta ao meio, colocando-se as suas povoações de um e outro lado deste curso de água, meigo no Verão, atrevidote, quanto baste, no Inverno. A par desta riqueza e beleza naturais, os moinhos, em memória de tempos que lá vão e que a Barragem veio alterar, os laranjais, que se mantêm como marca muito própria, são outros dos emblemas imortais desta terra. Mas impossível seria deixar de fora o que de melhor ali há: as suas gentes. Habituadas a terem a vila por perto, nunca deixaram, porém, de amar o chão onde nasceram. Aliás, há aqui uma relação biunívoca, com estas populações a terem esse apego pelo que é seu e com as gentes da vila e sede do concelho, Oliveira de Frades, a tirarem muito e bom partido de suas águas e clima, gozando os prazeres de uma Praia Fluvial que, durante anos e anos, foi uma espécie de Estoril cá do sítio. Hoje, com um mar de água, que a Barragem de Ribeiradio veio “construir”, cremos que, em novo e renovado espaço, esta mesma valência será ainda muito mais requisitada e estimada. Ao falarmos de Sejães, logo deparamos com a sua importância na Idade Média, dizendo-se que, em 1258, se ligava também a S. João da Serra, que antes fora honra de cavaleiros fidalgos, com destaque para o Alcaide Cerveira (muito associado também a Reigoso e sua Albergaria), que ali existiam propriedades da Ordem do Hospital, do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e de outras entidades e que, pelos tempos fora, se erguia a Igreja Paroquial, reparada e beneficiada com obras em 1809 e já nos primeiros anos deste milénio, a Ermida de S. Vicente, também agora com cara nova, a Capela de S. Mateus, no Casal, que em 1732 se encontrava concluída e que, em Sequeirô, no ano de 1794, aparecia a Capela de Santo António. Tendo pertencido ao antigo concelho de Lafões, integra-se actualmente em Oliveira de Frades, sendo que, como freguesia, desde 28 de Janeiro de 2013, pela Lei 11-A, passa a unir-se a Oliveira de Frades e a Souto de Lafões, em União bem alargada. Nos seus lugares do Casal, Igreja, Sejães, Sequeirô, Ugeiras e Rio Frio, sob a protecção de seu Padroeiro, S. Martinho, se abrigam agora 200 habitantes (2011), quando ali viveram já em 1930 – 383, em 1940 – 358, começando depois uma descida abrupta que se veio a consolidar, infelizmente, nos nossos dias, para em 1981 andar pelas 229 pessoas residentes. Com a água como bênção celestial, tanta e tão boa (fora aquela que a poluição vem estragando de vez em quando no seu Rio Vouga), os seus monumentos são também um aspecto a evidenciar: começando pelo Rasto dos Mouros, a caminho de Fornelo, temos ainda a Pedra do Jogo, uma inscultura localizada por cima do Casal, assim como é digno de boa nota o Solar, em Sequeirô, mas essencial e marcante é a Ponte Luís Bandeira, a secular rainha do betão armado, havendo também que referenciar uma outra no sítio do Buraquinho, muito mais antiga, mas com possível existência nesses tempos. E agora aí temos, imponente, na EN333-3, a Ponte Nova, nascida recentemente no contexto dos trabalhos a executar pela EDP, em função da citada Barragem. Como convém, eis umas curtas linhas sobre a Ponte Luís Bandeira: pensada em finais do século XIX e construída nos inícios do século XX, entre 1907 e 1908, com uns contratempos pelo meio, como uma enchente que levou a cofragem, é um dos mais lídimos representantes das pontes em betão armado, no seguimento de Vale de Mões – Mirandela, 1904, Tavanasa- Suíça, de 1905, assim como a passagem inferior do caminho- de- ferro em Arraiolos. Acontece, porém, é que estas suas “colegas” já desapareceram e a nossa, firme, ainda que agora temporariamente debaixo de água, por cá continua. Com muitos estudos feitos, referimos aqueles que agora nos vieram ter às mãos dos autores Rui Ferreira e outros, Universidade do Minho e Joel Cleto/Suzana Faro, “ A decana do betão”. Para o seu financiamento, a CM, em 24 de Abril de 1905, havia lançado uma operação de financiamento. Numa terra que já teve escola e 35 alunos em 1904, hoje tudo isso é passado. Fica um certo espírito associativo e um Centro de Convívio e Exposições, um rinque polivalente, a dizer que ali ainda há vida. E, para alimentar os corpos, a boa restauração não falta. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Fevereiro, 2015

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