quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Uma volta pelo Candal - S. Pedro do Sul

Nlafões7dez16 Pérolas das serras do concelho de S. Pedro do Sul Qual cavaleiro andante, nestas viagens pelas Serras de S. Macário e zonas das redondezas, depois de termos falado da Macieira, da Pena e de Covas do Monte, seguimos mais uns quilómetros adiante e fomos encontrar a Coelheira, hoje sem estabelecimentos de ensino mas a fazer ainda recordar a velha escola primária e a Telescola, terra em que sobressaiu, de imediato, a sua pequena barragem e o Retiro da Fraguinha, no local onde, no Verão, há um Parque de Campismo. Parámos uns momentos. Dando umas voltas, estranhámos uma espécie de calhaus rolados, que o monte nos oferecia, talvez a presupor ancestrais movimentos de água, estranhamente lá no alto, vindos de outras eras. Ficando com muitas dúvidas, ainda as não conseguimos desfazer. Reforçámos, porém, uma certeza: estes territórios têm um manancial e um potencial turístico que nos entram pelos olhos dentro. Assim o têm percebido alguns agentes locais, neste lugar e noutros, apenas mais dois, da extinta freguesia do Candal, agora em União oficial com Carvalhais. Esta Coelheira, com pouca gente, mas com uma enorme riqueza, soube agarrar aquela oportunidade e assim fez nascer as citadas valências empresariais, ora de uma forma sazonal, ora em permanência. Com a sua Capela, mostra assim a sua identidade. Ligada por estradas ao S. Macário e a Santa Cruz da Trapa, agora em via renovada, como já uma vez aqui referimos, é ponto a reter no mapa das escapadelas a fazer nesta nossa belíssima região de Lafões. Ali o município de Arouca já espreita, em fusão de “Montanhas Mágicas”, uma feliz expressão e iniciativa da ADRIMAG e de múltiplas riquezas a si inerentes, como as velhas Minas, que urge explorar e aproveitar em termos de enriquecimento da nossa bagagem cultural. De malas aviadas, lá fomos mais uns passotes além. Em socalcos, demos de caras com a Póvoa das Leiras, encimada com uma nova Capela, de onde se avista um largo horizonte e o Candal uns metros abaixo, bem perto, por sinal. Há anos, tomámos nesta localidade uma bica num Café que, dizia o seu proprietário de então, ia resistindo com custo e mal dava para pagar os impostos. Entronca aqui, tal como nessa altura pensámos, a ideia de que o poder central tem de olhar a sério para estes espaços de baixa densidade, dotando-os de medidas de discriminação positiva que façam atrair investimento e vontade de por aqui se viver com dignidade e gosto. Corajosos e com visão de futuro (assim o esperamos) foram aqueles empresários que investiram, já no Candal, num lindíssimo projecto, os “Reacantos da Montanha” com três casas, a do Aido, a do Avô Zé Maria e a da Quelha, num total de sete quartos em instalações apetitosas e agradáveis, onde imperam os materiais autóctones, como o granito, o xisto, a pedra lousinha e as madeiras. Com cerca de três anos de existência, este empreendimento teve o apoio da dinâmica ADRIMAG. Sendo uma espécie de oásis no panorama do alojamento local por estas bandas, aqui e na Coelheira, deram-se bons saltos a esse nível, pelo que há condições para se visitarem estas aldeias serranas durante alguns dias, em busca de todos os seus encantos em descobertas sem fim que, para pernoitar, não faltam boas soluções. Com 1551 hectares de área, montes há-os com fartura. O pior é a escassez quanto ao seu povoamento, que se agravou de uma maneira aflitiva desde 1970 para cá. Curiosamente, com a força das migrações das décadas de cinquenta, sessenta e por aí fora, a população só começou a cair a pique desde os Recenseamentos de 1970 para 1981, tendo o descalabro acontecido, abruptamente, de 1991 para cá, como rezam os números seguintes: ano de 1864 – 339 habitantes; 1878 – 397; 1890 – 418; 1900 – 392; 1911 – 409; 1920 – 405; 1930 – 416; 1940 – também 416; 1950 – 457; 1960 – 471; 1970 – 428; 1981 – 299; 1991 – 209; 2001 – 150 e 2011 – 118. Há algo de absolutamente gritante neste terceiro milénio, em que a fuga disparou assim tão fortemente. Este é um fenómeno que tem de fazer pensar todos os responsáveis pelas políticas públicas. Por este andar, qualquer dia não vemos na antiga freguesia do Candal praticamente ninguém. Ficam-nos, no entanto, as memórias vivas de um património que se não perderá se o agarrarmos a tempo. A “Memoriamedia”, em 2009, ouvindo Luísa de Jesus Campos, deu o seu contributo ao recuperar um pouco das cantigas locais, como a da “Debaixo da Ponte”, que “... Foi onde o José Caixeiro/ Enganou a Lauriberta... “. Mas muitos outras jóias existem em todas estas nossas povoações. Um meio de as descobrir são os percursos pedestres, onde se situam, por exemplo, a Rota da Bétulas e outras. Palmo a palmo, será uma via também para irmos aos moinhos, às levadas, aos lagares, a algum resistente tear e outras tradições que tais. Estas Serras convidam-nos e interpelam-nos, hora a hora. Mas, lá por Lisboa, fala-se muito nos Algarves e pouco nestes locais que são paraísos infindáveis e imortais, sempre à nossa espera. Contrariando essas visões centralistas, por cá vamos fazendo este nosso caminho, andando hoje pelo Candal e arredores. E que boa que foi esta viagem, sentindo nas orelhas um ventinho que também gera riqueza: o mundo das energias eólicas, a girarem lá nos altos!... Carlos Rodrigues, Dezembro, 2016, in “Notícias de Lafões”

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