quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Bordonhos terra de Rei galego

Bordonhos, de berço do Rei Ramiro a uma freguesia dinâmica Andar por Bordonhos e seus lugares é topar, a cada passo, com pedaços da nossa História e até da Galiza, porque por aqui andou, em criança, o pequeno Ramiro (900-951), que, repartido por estas paragens e por Moçâmedes, viria a ser Rei de Leon e dizem que também de Viseu (entre 926 e 930), tese que suscita algumas, muitas, dúvidas. Entretanto, esta terra não ficou presa a esses pergaminhos, tendo, ao contrário, feito o seu caminho em busca do desenvolvimento que tem vindo a conseguir. Com duas zonas industriais, tem nesses trunfos aspectos essenciais para não temer o futuro, se o mundo se não virar do avesso. Com 547 habitantes no recenseamento de 2011 distribuídos por 5,15 Km2, a sua densidade populacional é de 106, 2 hab/km2. Contrariando uma regra da nossa zona de Lafões, Bordonhos possui apenas três povoações com um número significativo de residentes, sendo elas a sede da freguesia, Vilar e Figueirosa. Terra pequena mas atrevida e determinada, resistiu, em 2012, à peste das Uniões que por essa altura foram criadas e, por isso, continua, com orgulho e vaidade, o seu estatuto de independência. Ao lado, tem vizinhos de peso como a cidade de S. Pedro do Sul e Carvalhais, a que se podem juntar as Termas que também não ficam longe. Especulando, esta localização algo central na dinâmica concelhia pode ser parte da chave para o seu progresso. Talvez. Mas estamos em crer que não é a única variável a ter em conta. Na marcha demográfica, vejamos as oscilações: 1864 – 621 habitantes; 1878 – 631; 1890 – 601; 1900 – 599; 1911 – 629; 1920 – 608; 1930 – 632; 1940 – 693; 1950 – 590; 1960 – 563; 1970 – 500; 1981 – 530; 1991 – 519; 2001 – 603 e 2011 – 547. Com o pico maior em 1940 (693), os anos negros começaram por volta de 1960 e, entre altos e baixos, nunca mais se recuperou. Os dias destas bandas começaram a esccrever-se muito antes da nossa nacionalidade. Daqui saíram páginas e páginas do passado do espaço que é hoje Portugal e daquele que pertence à vizinha Galiza. Entre as figuras de topo conta-se, como vimos, o Rei Ramiro de Leon, da descendência atribulada do galego D. Afonso III, em cuja corte se arquitectaram as mais diabólicas contendas familiares. Como personagens a ter em conta nessas peripécias, há que referir-se o Conde de Lugo, Fruela Bermudes, partindo do trabalho, entre outras fontes, de Manuel Real ( ver Revista da Faculdade de Letras, Porto, 2013, volume XII, pp. 203-230), e Bermudo Ordonhes que aqui buscou refúgio, sem esquecer a família Diogo Fernandes/Onega, a quem foi confiado o jovem Ramiro em certa fase de sua vida. Também Iben Ordonis, de onde provém a designação desta freguesia, aprendeu a conhecer estes caminhos e seus recantos. Associa-se a esta localidade uma outra aqui bem perto, a de Moçâmedes, já no concelho de Vouzela onde, no seu Paço, se adianta que viveu uns anos, na sua meninice, o tão falado Rei de Leon. Como quer que seja, Bordonhos não mais ficará sem a fama de ter sido berço de tão importante personagem da história galega. Nem Lafões escapa, no seu todo, a tão boa fama e proveito. Sendo estas terras ponto de passagem de povos árabes e sua fixação, as comunidades moçárabes são outro aspecto a assinalar-se e a registar-se. Antes, porém, já os romanos por aqui tinham deambulado deixando poderosas marcas, como as suas célebres estradas e pontes. Em termos de documentação escrita, por exemplo, em 1030, falava-se numa propriedade em Figueirosa, em 1101 numa outra em Bordonhos, que, em 1258, aparecia nas Inquirições como Vaordomos. Importantes são as suas casas solarengas como a dos Duques de Bragança e do 1º fundador do Morgado de Bordonhos, Gonçalo Annes Homem, a pertencer actualmente a Manuel Casais e ao seu empreendimento turístico da Casa do Paço. Uma outra é a Casa da Nogueira, sendo também uma boa referência a Escola dos Olivais, em termos patrimoniais. Em lugar de destaque, há que colocar-se ainda a Igreja Paroquial de S. João. Com pontos de consulta diversificados, para além de Manuel Real, a “Viseupédia”, a Wikipédia, em geral, uma acta da Assembleia Municipal de 12 de Outubro de 2012 e outros sites foram para nós essenciais. Depois, um pouco de conhecimento da história local também nos ajudou bastante, confessemos. Se o passado é em Bordonhos uma boa carta de recomendação, o presente está recheado de bons contributos: duas ZI, a do Alto do Barro e a da sede da freguesia, vários restaurantes, salão paroquial, campo de futebol, posto de correios, sede da Junta de Freguesia, Clube de Cultura e Desporto de Bordonhos, empreendimentos ligados à informática, agência de viagem, rede hoteleira, mobiliário, padarias, serração e carpintarias, construção civil, transportes, biomassa, mecânica, avicultura e pecuária, perfis metálicos, decapagem, alumínios, granitos e outros que tais, há por aqui um pouco de tudo. Até um Parque de Merendas para os tempos de lazer. É fácil chegar-se a estas terras, que distam da cidade de S. Pedro do Sul apenas cerca de 3 quilómetros, avançando-se no sentido de Carvalhais e Santa Cruz da Trapa e, mais latamente, pela velha estrada da serra a ligar a sede deste concelho ao Porto. Temos dito. Carlos Rodrigues, in “ Notícias de Lafões”, 2017

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