terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Limpeza de matas a preocupar os pequenos agricultores

Vem aí a obrigação de limparem os seus terrenos Agricultores com carga a mais em cima de seus ombros Ao dedicarem-se àquilo que mais gostam, o amanho da terra para dela tirar parte do seu magro sustento, os nossos agricultores prestam, ainda, um autêntico serviço público, porque se deve a eles a suprema função de zelarem pela necessária biodiversidade e pela sustentabilidade ambiental. Vergados ao peso dos anos, nestas funções quase só se vêem idosos de sachola na mão. Mas é esta gente que, tudo dando de si, tem alguns dos nossos campos ainda com vida, a reluzirem e a oferecer-nos aqueles produtos que ganham em sabor e qualidade a tudo quanto nos chegue por via da industrialização. Importa que se diga que o Estado, nós todos, não lhes dá a devida e necessária atenção. Uma das provas de que assim acontece surgiu agora, depois dos trágicos incêndios, que levaram a muitos destes obreiros da terra grande parte de seus bens e haveres. Sabendo-se que, como complemento dos seus rendimentos, há quem tenha um ou outro aviário, uma coelheira, uma criação de animais, ou mesmo outro tipo de investimento, além da silvicultura, constata-se que, em matéria de apoios, este sector primário é visto como algo menor, se comparado com outras áreas, aquelas que podem ter acesso ao REPOR. Penaliza-se desta forma quem deveria ser olhado em pé de igualdade com todos os outros investidores. Mas não o é. Quem olha para o nosso povo da terra? Do alto do pedestal governativo, proclama-se, após esta discriminação negativa, que os detentores de matas as têm de limpar, com língua de palmo, sob pena de outros o fazerem por si, imputando os custos por via coerciva ou perto disso. Se entendemos que cada um deve zelar pelo que é seu e não colocar em perigo os bens de quem os rodeia, isto é, das comunidades em que se inserem, perguntamos, porém: onde vai esta gente buscar os rendimentos para executar essas tarefas, quando as matas nada lhes dão em troca? Onde estão as respostas, por exemplo, para valorizarem os matos roçados, as árvores queimadas e outros produtos florestais? Quem os recompensa pelo facto de, através do seu esforço, podermos ter melhor ar, mais água e os campos a serem factor de atracção turística como elementos valorizadores da paisagem? Quando é que o Estado dá o melhor dos exemplos, cuidando das suas matas? Com esta carga de interrogações e dúvidas, a cada passo só se encontram desgraças nestas actividades agrícolas e afins. Se o fogo queima, se a seca não deixa desenvolver os rebentos, muitas das medidas tomadas em sede de poder governativo escaldam. Com tais quadros de vivências negativas, o desânimo não tardará a chegar e, nestas idades, isso é o pior que pode acontecer a quem da vida não tem recebido nada por aí além. Salva-se uma ideia que agora se está a tentar lançar no terreno, o registo dos bens em termos modernos, para com esse inventário fazer ver o que é de cada um. Mas é pouco para quem tanto nos tem dado. Por fim, registem-se os protestos que estão a surgir, em reclamações diversas quanto aos prazos das candidaturas, uma a terminar hoje mesmo, dia 30, e outra a prolongar-se até ao dia 15 de Dezembro. Se no REPOR a respectiva documentação pode ser apresentada dentro de um ano, porquê tanta pressa a recair sobre a agricultura? Até este pormenor evidencia a pouca atenção que se dá a esta nossa gente, ainda que se diga que é para acelerar as compensações devidas. Seja por isso, mas permita-se adiar a entrega da papelada final, fazendo-se os acertos nessa altura. Como todo o investimento perdido precisa de ser ajudado e reerguer, seja-se justo na repartição das verbas em causa e não se criem programas de primeira e de segunda, cabendo estes aos nossos povos que trabalham, com tanto carinho e sacrifício, as suas propriedades. Pense-se bem nesta gente. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, parcialmente, Novembro, 2017

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