terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Varzielas perto de perder a sua fábrica das Águas do Caramulo

Águas do Caramulo à beira da queda Grupo detentor desta marca quer encerrar a fábrica Em 20 de Dezembro de 1983, foi concedida a licença para a exploração industrial das Águas do Caramulo, em Varzielas, neste concelho de Oliveira de Frades. Dados os passos iniciais, esta marca não tardou a impôr-se pela mão de cada um de seus responsáveis, que se foram sucedendo ao longo dos tempos. Das entranhas daquela Serra saiu este precioso líquido que correu Portugal de lés-a-lés e se espalhou por esse mundo fora. Em Israel, por exemplo, chegou a ter nome próprio, com indicação, claro está, da sua origem. Esta foi uma história de sucesso e um meio de desenvolvimento para aquelas nossas terras. Porém, agora, anuncia-se o seu fim, ingloriamente. Nos últimos dias, em comunicado, a Super Bock Group, liderada por Rui Lopes Ferreira, seu Presidente Executivo, que detém esta unidade industrial, veio anunciar o seu encerramento a partir do próximo mês de Fevereiro. Com esta lamentável medida, põe-se fim a uma marca de indiscutível valor, colocam-se na rua 26 trabalhadores, ou dá-se-lhes a hipótese de poderem ir para cascos de rolha, fechando-se uma empresa que se não tem cansado de investir no seu progresso e desenvolvimento. Agora, de um momento para outro, troca-se por Envendos e Castelo de Vide. Varzielas, que fica situada em plena Serra do Caramulo, que dá nome à água, encontra-se abrangida pelos programas de valorização do interior e dos territórios de baixa densidade, muito fustigada, nos últimos anos, pelos incêndios. Infelizmente, nada destes programas e condições parece salvar esta jóia da coroa oliveirense. Indiferentes às especiais circunstâncias e necessidades destas povoações, os responsáveis da Unicer/Super Bock seguem apenas um duro raciocínio empresarial. Alegando que se trata de “ajustar o modelo industrial nas águas lisas” e que dispõem de um “Programa Social de Apoio” para as pessoas despedidas, com “condições acima do quadro legal”, a deslocalização destes serviços para outros locais é para eles fácil. Mas para nós é uma machadada sem quartel, que custa a aceitar. Com certificação de qualidade, uma delas válida para o período entre 2013 a 2016, em meados da primeira década deste século, estas Águas do Caramulo – Sotarvil apresentavam um nível de notoriedade total de 99% e um conhecimento espontâneo de 51%, associando-se a sua imagem à “originária fonte segura”. Não crendo que estas condições tenham desaparecido, antes pelo contrário, até porque houve investimentos de vulto ano após ano, estranha-se que, nestes momentos, se pense em desbaratar este valioso património, lesando a região e suas legítimas aspirações. Voltando aos anos oitenta, entre 1 de Janeiro e 23 de Outubro de 1987, atingiu-se um movimento de um milhão de caixas e, em 1989, chegou-se aos dois milhões. Alega o grupo empresarial que, na última década, perdeu cerca de 50% do volume de facturação, tendo desaparecido alguns mercados como o de Angola. Especulando, será que, no meio de tanta marca, tudo foi feito em favor destas nossas Águas? Duvidamos. Ao ouvirmos o Presidente da União de Freguesias, Jorge Bandeira, disse-nos ter sido informado pelos engenheiros da fábrica, à última hora, e que apresentaram a decisão como sendo definitiva, pelo que o “remédio é aceitar-se este facto consumado”. Acrescentando que sua Junta pouco pode fazer, não vai, de maneira nenhuma, cruzar os braços, pelo que vai reunir com o Presidente da Câmara, Paulo Ferreira, a fim de acertarem agulhas quanto aos próximos passos a dar. Por sua vez, Paulo Ferreira, alegou que foi apanhado de surpresa na sexta-feira, dia 11. De imediato, “contactei os seus responsáveis, que se mostraram inamovíveis”. Contra a tese da Super Bock que diz ter perdido 50% nos últimos dez anos, como referimos, o Presidente da Câmara de Oliveira de Frades entende que a “fábrica até andava bem”. Agora, vai pôr os pés a caminho, na companhia de seu colega de Tondela, para, em reunião com a administração, tentarem travar esta intenção. Também o PCP nos fez chegar um comunicado em que fala na “ desvalorização e falta de promoção da marca”, sendo que isto “é para deitar fora insensível à grande importância económica e social da laboração desta unidade para aquele território”. Nesta medida, este Partido vai encetar uma série de contactos no sentido de vir a defender a fábrica e o interesse de seus trabalhadores. Em conclusão, a notícia do encerramento das Àguas do Caramulo é mais um duro golpe para a nossa região. Importa agora, por todos os meios, tentar travar esta decisão ou, no mínimo, minimizar os seus efeitos. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 17 Jan19

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