quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Falta de água exige medidas de fundo

Gestão da água precisa de arrojo Há cerca de oito dias, falámos aqui, em geral, da importância da água e da necessidade de para ela se olhar atentamente. Fizemos uma espécie de viagem pela história do seu aproveitamento ao longo dos tempos e do esforço que todas as comunidades têm feito para a terem sempre ao seu alcance. Muitas das verdades de ontem são hoje cada vez mais prementes. Aliás, agrava-se assustadoramente a sua escassez para o ser humano e para as plantas, num perigo que se pode tornar fatal. Entretanto, a ano a ano, crescem as hipóteses de soluções para se a ela aceder. Mas esta é uma luta desigual: a natureza, com os ataques que lhe fazemos, vem respondendo negativamente aos esforços feitos. Longe vão, felizmente, os tempos das fontes de chafurdo e mesmo dos chafarizes públicos. Na actualidade, queremos que a água entre pelas nossas casas adentro para os quintais, para as cozinhas e paras as múltiplas casas de banho. Crescem as necessidades a todos os níveis em termos de limpezas, de cozinhados e de cuidados higiénicos. Só que a água, essa jóia que se não pode dispensar, escasseia, foge-nos da mão a olhos vistos. Para contrariar esse quadro negativo e essa aflitiva tendência, o engenho humano não se cansa de tentar remediar esta situação. Uma das palavras de ordem liga-se a uma evidência: precisamos de a armazenar preventivamente e poupá-la até mais não. Os nossos antepassados com os poços, minas, presas e afins deram-nos o exemplo e a receita. Na sua imensa criatividade e inteligência, criaram, quanto a rega, normas e costumes que têm resistido aos tempos e a todas as mudanças. Os “casais”, com vista à sua utilização, foram um desses poderosos caminhos. Os regos, outro. Os “talhadouros” responderam à sua ligação para cada uma das propriedades a regar. Há anos, nas décadas de setenta, oitenta e outras, nessas condutas, em terra, foram feitas obras de beneficiação em programas que tiveram um efeito imediato, quanto a poupança e eficiência: a recuperação de regadios tradicionais, reafirmamos, foi, nessa altura, uma poderosa alavanca agrícola. Com a diminuição dos solos cultivados, chegou a pensar-se até que haveria água para dar e vender. Mas, infelizmente, nada disso aconteceu. Perdida nas origens, isto é, nas nascentes, nem essas obras tiveram um efeito prolongado. Por outro lado, com o esvaziamento dos campos, por cada “fonte” que se perca, em cascata, muitas outras seguem o mesmo caminho. Tudo se torna mais seco. Da Europa saem sinais de alertas continuados, a ponto de, como vimos, a água e o ambiente serem os temas que maiores quantidades de legislação têm produzido, muito mais quando agora as crises climáticas se aprofundam. Também no nosso país, há que confessá-lo, se sucedem os despachos, os planos de bacia, as normas de uso, os diversos aproveitamentos hidrográficos, etc. No entanto, tudo, ou quase tudo, parece estar a falhar. Se, em 1986, o PEDAP – Programa Específico de Desenvolvimento da Agricultura Portuguesa – e o Quadro Comunitário de Apoio, para os anos de 1986 a 1993, levaram à criação de 2570 Juntas de Agricultores para a gestão dos diversos regadios, como o de Pereiras (Oliveira de Frades), se, em 2004/2005, o Instituto Politécnico de Viseu, por exemplo, tratou de 2487 inquéritos nacionais com vista a apurar os resultados desses projectos, vendo-se que estavam em funcionamento 1781 desses investimentos, quando acontece que, agora, em 2022, são concedidos à CIM Viseu Dão Lafões 75486, 23 euros para melhoria da eficiência desses mesmos regadios, vemos que esta não é mais do que uma migalha face às carências que existem. Convém dizer-se que a nossa CIM tem 14 concelhos e centenas de freguesias. Uma ninharia aquela verba… Quando assistimos ao fornecimento de água potável a diversas comunidades pelos Bombeiros, no momento em que vários municípios pensam alcançar novas fontes de abastecimento, como a CM de Viseu e outras a procurarem a salvação no Rio Paiva e a CM de S. Pedro do Sul a dirigir-se para o Rio Balsemão, tendo em conta os esforços de Vouzela e Oliveira de Frades para também encontrarem alternativas, eis-nos perante sinais e campainhas que não pressagiam nada de bom se não se fizer esse caminho depressa e bem. Nesta matéria, temos de contrariar, radicalmente, o velho ditado popular de que “depressa e bem não há quem… “. Nesta hora de agir em função de chegarmos à água para fins múltiplos, desde a agropecuária aos usos domésticos, a tempo e com eficiência, só um esforço colectivo será capaz de dar esse passo. Pela água, há que fazer tudo e já. Amanhã é muito tarde, repetimos. Carlos Rodrigues, in”Notícias de Vouzela”, 19 Ago22

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