sábado, 29 de agosto de 2020
Pensar Portugal à moda de Tolentino de Mendonça...
Precisamos de viajar juntos
Até parece mentira e ficção o titulo deste texto. Isto de dizermos que precisamos de viajar juntos, quando todas as normas da Organização Mundial de Saúde e da nossa Direcção Geral da mesma área nos andam todos os dias a pedir que nos afastemos uns dos outros, cheira quase a heresia, a uma contra ordem. No entanto, não se trata de nada disso. Tem só e tudo a ver com o muito que o Cardeal Tolentino de Mendonça nos disse no passado Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, num Mosteiro dos Jerónimos parecido com a Praça de S. Pedro em Roma, por alturas da Páscoa, por estar praticamente vazio. Anotemos essa, mais uma, das suas mágicas e cativantes frases.
Que nos desculpe o Presidente Marcelo, mas, ali e naquele nosso dia, quem verdadeiramente nos mobilizou foi mesmo o Cardeal Tolentino. Num discurso marcante, todo ele voltado para a necessidade de nunca deixarmos de lado, nem esquecermos as nossas raízes, cada uma de suas linhas foi os Lusíadas por inteiro. A comunidade que invocou, a urgência em avançarmos para a realização do sonho de sermos concidadãos, de cuidarmos das múltiplas partes para, juntos, edificarmos o todo, de colocação das pessoas no centro, de fortalecer o pacto integeracional, passou toda por aqueles seus minutos de conversa de fino recorte e acutilância bem medida.
Olhando para um desconfinamento que deve fazer de cada um de nós um actor participante, mais do que de números, mais do que de finanças e de economia puras, falou-nos em fincarmos as raízes no chão, em partirmos para os tempos duros que aí vêm num modo novo: o de um amplo projecto, que a todos diz respeito. Se cada geração – e estamos sempre a pegar nas suas ideias – e cada tempo têm momentos bons e maus, sucessos e vulnerabilidades e até tempestades, só com compaixão e fraternidade conseguiremos vencer os problemas e os medos que invadem cada um de nossos dias.
“ Precisamos de viajar juntos”, de reabilitar o pacto comunitário, de implementar um novo pacto ambiental, de, repetimos, fortalecer um outro pacto, o intergeracional. Não podemos cortar a sociedade às rodelas, velhos para um lado, novos para outro, nem é possível que continuemos a matar as esperanças dos mais jovens/adultos. Nesta roda, temos de caber todos, à uma e todos com todos.
Estando tudo conectado, isto é, ligado por todos os lados e de alto até abaixo, só uma visão inclusiva será o motor da mudança que tem de acontecer. Chorando as perdas, com uma crise que é poliédrica, ou seja, tem muitas dimensões e faces, além da doença, da Covid 19, temos de vencer o desemprego, a diminuição das condições de vida, o empobrecimento radical, a fome, numa hora que tem de ser de solidariedade. Total.
Ao sermos instados a cuidar da vida, de todas as vidas, sem excepção, que nunca esqueçamos esta sábia lição do Cardeal Tolentino de Mendonça, um madeirense que não teve as comemorações do 10 de Junho de 2020 na sua terra natal, a Madeira, precisamente porque a pandemia nos trocou as voltas, todas as voltas da vida.
Discursou para uma dezena de pessoas de cara tapada, mas chegou-nos, a todos nós, ao fundo do coração e mexeu-nos com a cabeça.
Quase que somos levados a propôr: que cada decisor político, incluindo o Eng. António Costa e Silva, que tem o projecto da nossa recuperação em mãos, tenha nas suas mesas de cabeceira este “sermão” de 10 de Junho. Que, entre números, se saiba que isto só vai com o empenho de cada um de nós e de todos nós bem juntos.
Para não nos desviarmos um segundo destas ideias do Cardeal Tolentino, nem uma palavra aqui colocamos a mais, nem uma qualquer referência aos tempos conturbados que estamos a presenciar e a viver, numa doença de outra dimensão.Até porque tudo se vence se virmos em cada pessoa, em todas elas, a parte da sociedade que temos de reconstruir, que o sonho só se consegue em dura experiência e em conjunto...
Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, Ago 2020, em virtude do atraso por causa da pandemia...
quinta-feira, 13 de agosto de 2020
Vouzela e Lafões há 50 anos...
O Notícias de Vouzela de há 50 anos
Preocupações e questões para resolver
Percorrendo os arquivos deste jornal “Notícias de Vouzela”, fazemos hoje uma viagem até ao ano de 1970, começando-se logo por referir que era de regozijo o tempo vivido pelo facto de, nessa altura, este órgão de comunicação social ter passado a trimensário, depois de ter sido publicado de 15 em 15 dias desde o seu nascimento em 1935. Logo a seguir, começavam as preocupações e uma delas relacionava-se com as questões da saúde e de uma forte onda gripal que se vivia nesta região.
Neste sentido, falava-se num Inverno rigoroso e numa gripe intensa, a ponto de se referir que ela atinge “numerosos lares, alguns dos quais tiveram já na cama todos os seus componentes”. Sendo geral, numa propagação absolutamente anormal, algumas das freguesias de Lafões eram das mais flageladas.
Sem que haja uma ligação directa e oxalá que isso não aconteça, não deixa de ser relevante, quando olhamos para a nossa actualidade, esta constatação - a de se estar perante um preocupante surto gripal, que, como se sabe, tem muito de cíclico e nos visita praticamente todos os anos, ora de uma forma mais leve, ora muito mais intensa e preocupante. Volvidas cinco décadas, num tempo em que a Covid já muito nos preocupa e assusta, se essa gripe aparecer assim em força estaremos então perante uma situação que traz indesejadas complicações de maior, a juntarem-se à pandemia que nos assola e, pelo que se sabe, não desaparecerá tão cedo quanto se deseja e espera. Fazemos votos para que a história, neste caso, se não repita.
Nessa época de 1970, estava também em cima da mesa o problema da EN 333, aquela que liga Vagos a Vouzela ( de que fizemos, pessoalmente, há uns tempos, um razoável estudo que levou a várias exposições nos concelhos por onde ela passa), protestando-se contra a sua não conclusão, havendo muitos troços por fazer e outros a melhorar. A par de muitas outras reivindicações, desde a electrificação aos telefones, passando pelas mais diversas áreas, as vias de comunicação estavam num dos lugares cimeiros dos problemas em discussão.
Ainda na área das vias de comunicação, a povoação de Varzielas mostrava o seu descontentamento porque a carreira Queirã – Viseu e Caramulo – Águeda não era obrigada a manter a ligação à aldeia em causa e isso muito afectava os passageiros dessa terra. “ o que é triste e desolador”. Porém, alguns dias após este desabafo, a empresa Oliveiras – Transporte e Turismo, SARL, vem indicar que, no horário do meio dia, essa pretensão será atendida. Do mal o menos.
Uma outra esfera de assuntos relacionava-se com as madeiras e gritava-se contra a Madeiper, que, num insulto à pobreza, assim se escrevia, acabara de “ decretar ditatorialmente o (seu) preço”. Como, muitas vezes, há aspectos colaterais a surgirem, saudava-se a ideia e o apelo “ a todos os lavradores que se sentem (...) se deverem juntar para se poderem defender em cooperativas”, quando por aqui eram, nessa altura, bons os exemplos nos campos da agricultura e da vinicultura, com sedes, respectivamente, em Vouzela e S. Pedro do Sul.
Entretanto nem tudo eram queixas, na medida em que vinha estampada uma boa iniciativa, a criação do Movimento de Promoção Social do concelho, concretizado na Associação Pró – Oliveira de Frades. Propunha-se trabalhar em diversos domínios, tendo-se, de imediato, avançado para uma Comissão de Saúde e para o debate dos temas que preocupam os agricultores.
Se este ano tudo pudesse correr normalmente e não existissem as restrições e cuidados a ter com a Covid 19, estaria o concelho de Vouzela em onda de grande animação com as suas Festas do Castelo. Tal como já aconteceu em Oliveira de Frades e S. Pedro do Sul, onde foram cancelados esses mesmos eventos, e como sucede em cada uma de nossas povoações e na Pedra da Broa sem a sua tradicional sardinhada, resta-nos abordar o que se dizia quanto à edição vouzelense de 1970, ao saudar-se o regesso da Banda de Palmela e o festival luso-espanhol de folclore, estando acordada a vinda dos Ranchos de Orense e Léon, da Galiza, o da Região do Vouga e o de Torredeita, além das noites na Capucha.
Ao lado, registava-se que era significativo o número de veraneantes em Oliveira de Frades, a ponto de o Correspondente assinalar que “.... Torna-se impossivel indicar totalmente todos quantos por aqui se encontram e de que nos abstemos para evitar melindres... “
Nesses tempos, o turismo estava em alta. Hoje, pelas razões que todos conhecemos, este sector vive momentos de verdadeiro sufoco com a paragem abrupta e quase total desta importante actividade económica. Felizmente que, por aqui, ao que sabemos, a recuperação começa a verificar-se e ainda bem.
Esperando-se melhores dias, que se recomece a “passar bem”, porque de tristezas temo-las tido em grande quantidade e dor...
Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Agosto 2020
sábado, 1 de agosto de 2020
A nova Europa que se deseja...
Integramos uma Comunidade que é filha de horrores
- Pestes e guerras a marcarem todos os tempos
Desde o ano de 1986, Portugal faz parte da então Comunidade Económica Europeia, hoje UE. Essa foi a resposta encontrada para fazer face à saída do Império e aos desafios que, como portugueses, tínhamos pela frente. Fechadas as portas das terras viradas para o mar, que foram o nosso desígnio de cerca de cinco séculos, aquela foi a hora de nos virarmos para a Europa, nossa terra-mãe, que se unira em redor da defesa de um projecto comum.
Por triste coincidência, a necessidade desse reencontro de irmãos desavindos, como foram os povos europeus, sobretudo em duas terríveis e mortíferas guerras mundiais, nasceu desses mesmos conflitos. Também hoje, a uma outra escala e numa vertente bem diferente, estamos num tempo em que só unidos sairemos da crise mundial em que estamos metidos.
Para melhor enquadrarmos o que esteve na base da actual União Europeia, que tem passado por diferentes fases, uma melhores, outras piores, precisamos de recuar aos anos quarenta do século anterior, para, no meio dos destroços e muitos milhões de mortos, feridos e desalojados, descobrirmos o génio de homens de rija têmpera e verdadeiramente sonhadores que pensaram vir a conseguir uma nova plataforma de cooperação e entendimento que pudesse construir, em parcerias, um novo mundo e não destruir pela guerra a paz e a concórdia que devem sempre sobrepôr-se a tudo, em nome da vida e da dignidade da pessoa humana.
Para que nunca se esqueçam, eis alguns dos nomes que levaram por diante esses nobres objecivos; Jean Monnet, Konrad Adenauer, Winston Churchill, Alcide De Gasperi, Robert Schuman e Paul-Henri Spaak, entre muitos outros. Como na base desses trágicos conflitos, nomeadamente, o de 1939-1945, estiveram quase sempre a motivação e egoísmo económicos, opondo dois eixos, o dos aliados à Alemanha e seus apêndices, houve, de imediato, que pôr travão à luta pela posse dos minérios, o que abriu portas à constituição da CECA – Comunidade Económica do Carvão e do Aço, no ano de 1951, a abranger os esforços e a coragem da França, Alemanha, Bélgica, Itália, Luxemburgo e Países Baixos/Holanda. Estavam dados os primeiros passos para a afirmação de uma nova era.
Tudo tem uma matriz e aquela que foi a força básica para esta nova e determinante postura teve a ver com um famoso discurso, o de Robert Schumann, em 9 de Maio de 1950, o Dia da Europa, em que se incitou a que a Alemanha e a França pusessem em comum os seus recursos, o que foram os alicerces da futura CEE. Pouco tempo depois, em 1955, avançou-se para a integração de toda a economia, culminando esta caminhada com o arranque da referida CEE, através do Tratado de Roma, em 25 de Março de 1957, com os países já referidos, os pais do Mercado Comum, que haveria de revolucionar a Europa e até o mundo, na medida em que apareceu um tabuleiro diferente no xadrez global.
Numa escalada gradual, foi-se erguendo o alto prédio que estamos a coabitar, desde os seis iniciais grandes mosqueteiros até aos 28 países de há dias e aos 27 de agora, depois da saída do Reino Unido, por via do Brexit de que ainda pouco sabe em termos de feitos futuros. Bons não são eles, pensamos nós.
Pelo meio, entre avanços e recuos, sempre com a mira voltada para o aprofundamento das várias liberdades e da criação da união aduaneira, que são a pedra de toque deste projecto europeu, surgiram os diversos acordos e Tratados, como o de Lisboa, sem esquecer o de Maastricht (União Europeia – UE), o de Nice, o de Amsterdão, o Acto ìnico Europeu, o Acordo de Schengen, etc....
Num edifício complexo a todos os níveis, podemos encontrar, na sua orgânica, uma estrutura assente em pilares muitos diferentes e complementares, designadamente a Comissão Europeia, o Conselho Europeu, o Parlamento, eleito directamente desde 1979, o Tribunal de Justiça, o Tribunal de Contas, o Banco Central Europeu (BCE), desde que apareceu o Euro, o Banco Europeu de Investimento, o Comité das Regiões, as agências especializadas e outras valências e serviços. Sob o Hino da Alegria comum e uma Bandeira, em fundo azul com doze estrelas, os múltiplos interesses desta vasta união são apreciados e decididos nas instâncias que acabámos de citar, numa certa transferência de soberania que os Estados-Membros para ali transferem.
Estamos numa nova “Hora da Europa”
Perante uma crise que se abateu sobre todos nós, desde a China à América, não poupando praticamente todos os países do mundo, esta Covid 19 fez soar as campainhas de alarme por aqui e por todo o lado. A doença e seus efeitos colaterais, devastadores e imprevistos, cujo alcance ainda nem se conhece bem, têm obrigado a que se repense tudo.
Se cada estado tem pensado e agido um tanto pela sua cabeça, a União Europeia, se forem em frente os programas e os pacotes financeiros que estão arquitectados, soube mostrar que comprendeu, para melhor, velhas lições. Se, na crise de 2008/2011, deixou que tudo descambasse para a hecatombe financeira e económica, que no caso português, grego, irlandês, espanhol, italiano e outros países, a todos levou ao charco, fazendo disparar os juros e o peso das dívidas de uma forma brutal, agora parece que foram encontradas as vias que fizeram dar as mãos em vez da teoria cínica e desastrosa do “salve-se quem puder”. Em Portugal, por exemplo, ainda hoje pagamos essa dor, em virtude de uma Troika que nos amarrou da cabeça aos pés e nos deixou de rastos.
Como esta Covid 19 espalhou a morte e a destruição por todo o lado, as respostas europeias, como se pode depreender das palavras da Presidente da Comissão, quando fala numa nova “Hora da Europa”, estão a trilhar outros caminhos diferentes, em que se notam a cooperação, a solidariedade e a partilha de responsabilidades em conjunto, se os quatro países não teimarem em levar por diante as suas complicadas posições individualistas. Prevê-se a entrada em cena de fortes bazucas, uma delas de alto calibre e alcance como a que é empunhada pela CE com um pacote de 750 mil milhões de euros, grande parte em subvenções e outra fatia em empréstimos mas de pagamentos suaves e algo leves, numa espécie de mutualização da dívida. Se o último Conselho Europeu andou um pouco aos solavancos (depois de este trabalho ter sido escrito), felizmente notou-se que o bom sendo foi ainda a tónica dominante.
Devem juntar-se-lhe as verbas dos quadros normais, mais os montantes vindos do BCE e do Euro e outros fundos, podendo dizer-se que tudo isto supera o conhecido Plano Marshall dos anos quarenta e cinquenta que foi então algo de outro mundo. Desta feita, a escala nem é dessa dimensão, porque vai além de todas galáxias que se conhecem.
Impõe-se, agora, uma exigência, a que não estamos, infelizmente, muito habituados: saber usar estas “pipas de massas” em nome do bem comum, de bem conseguidas políticas de coesão, de uma transição justa a nível climático, da modernização da nossa economia, da sua digitalização, de uma criativa educação e formação, de um desenvolvimento industrial e agrícola capaz, de um comércio e serviços à altura dos desafios dos novos tempos, de um turismo que saiba ler e ver os novos sinais, do aproveitamento consciente dos nossos recursos e meios, em terra e no mar. Em suma, de uma modernização a toda a linha, que não esqueça o homem, o ambiente e o dia de amanhã, porque temos a obrigação de lutar pelo bem- estar das novas gerações, um outro dos lemas em que estes dinheiros e projectos se inserem.
Para um país, uma Europa e um mundo mais responsáveis e solidários, não basta que haja dinheiro em cima da mesa. É preciso é sabermos bem o que fazer com ele. Para quê, para quem e com que meios. Ou seja: com a cabeça e o coração a funcionarem em conjunto e a pensarem na defesa das pessoas. De todas as pessoas.
Com os olhos postos na recuperação a curto prazo, muito necessária e urgente, é para o futuro que temos de apontar estas boas munições, não as das guerras que originaram a CEE, mas as da paz que nos ajudarão a criar um mundo novo, este nascido das cinzas e das devastações desta terrível Covid 19...
Carlos Rodrigues
quinta-feira, 23 de julho de 2020
As ofertas valiosas de Lafões em termos de turismo
Lafões com muito para ver
Com cuidado, andar por aqui é seguro
Este é um tempo novo. Não é diferente, sequer. É outro, um outro mesmo, sem qualquer sombra de dúvida. Depois da vinda do coronavírus, muito do que era dado como certo estilhaçou, fez-se em cacos, ou talvez até em pó. Uma certeza temos, apesar de tudo: a vida, para quem tem a sorte de dela poder desfrutar, tem de continuar, reinventada, mas sempre com o intuito de, amanhã, podermos voltar a ganhar o apetite pelo sorriso e a poder mostrá-lo, de cara aberta e sem filtros.
Sabemos, então, que tudo mudou. Só que, para bem de todos nós, as paisagens, a monumentalidade, o saber-fazer de nossas gentes e aquela ponta de um saber-receber que nos marca e que orgulhosamente ostentamos como selo do nosso ser, isso, não desapareceu. Está por aqui, incólume. Neste período de terríveis e pesadas incertezas económicas e socais, que tanto têm prejudicado a economia e as nossas carteiras, o que também afectou – e de que maneira! – este nosso “Notícias de Vouzela”, tem este jornal o gosto e o dever de puxar pelo que de melhor Lafões tem para oferecer a quem nos visita e quem aqui faz negócio, ou relaxa pelos seus recantos e encantos. Este é, assim, um contributo que damos a quem tanto nos tem apoiado ao longo destes 85 anos e, de uma forma muito especial, significativa e até emocional, nesta época de uma pandemia sem quartel.
Felizmente, o difícil é escolher o conteúdo a apresentar e a ponta por onde se lhe pegue. Desenrodilhada a linha, a meada segue em frente, brilhante como o sol. Para qualquer lado que nos viremos, logo nos aparece, como cogumelos, algo que interessa ver, observar com calma e por aqui andar com todo o tempo do mundo que possamos vir a ter. Se os motivos para as diversas deslocações são mais do que muitas, certo é que, para carregar as baterias, não faltarão os ingredientes de alta qualidade e a possibilidade de retemperadores descansos em locais de sonho, que são um paraíso à nossa espera. Com uma restauração e hotelaria de estalo, cada garfada será um mundo de novas descobertas e sabores. Por cada noite dormida nas muitas unidades de alojamente que por aqui existem, ganham-se dias e dias de vida daí em diante.
Com empresários altamente responsáveis e conhecedores do seu ofício e das exigências melindrosas da época, a nível de saúde, que atravessamos, estes cuidaram de tudo para que nada falte em higiene, conforto, segurança, distanciamento social e possibilidade de se fazer turismo sem credos na boca. Cabe, depois, a cada cidadão dar o seu inestimável contributo pessoal e de activa e consciente cidadania, pensando em si e nos outros, isto é, na comunidade como um todo.
Posto isto, a decisão de se escolher Lafões se é sempre uma boa opção em qualquer altura, agora sai reforçada, na medida em que a nossa posição geográfica e a consciência dos actores no terreno podem garantir tudo aquilo de que se precisa: a possibilidade de se veranear à vontade, se cada pessoa souber o chão que pisa, como é evidente.
Depois desta introdução, está na hora de se indicarem algumas pistas, sabendo-se que a nossa região tem de ser sempre vista e analisada como um todo natural a que o homem tem sabido imprimir a sua boa pegada. Assim, optamos por falar em motivos que se escontram espalhados pelos três concelhos, Oliveira de Frades, S. Pedro do Sul e Vouzela, interligando-os e fazendo sobressair cada uma de suas virtudes, de um modo geral e em termos de especificidades, muitas delas inalienáveis, como a água quente e sulfurosa que só a temos nas Termas de S. Pedro do Sul.
Há, porém, muitos outros locais que se podem analisar de uma certa forma comparada e complementar, como, por exemplo, as antas, os castros, os solares, as matas, as igrejas e quantas coisas mais. Umas não anulam as outras, antes acrescentam algo de saber e conhecimento que, no seu conjunto, mais enriquecem quem as procura, as encontra e com elas estabelece contacto e, podemos dizê-lo, um diálogo especial e único.
Duas ou três notas
Nestas saídas, é impossível deixar de lado as serras e as suas maravilhas, o S. Macário, a Gralheira, a Penoita, o Monte Castelo, o Ladário, o Caramulo e por aí fora. Para levar tudo a eito e por uns dias, que Lafões não se esgota numas breves passagens, o ideal é estabelecer-se um roteiro, um caderno de apontamentos, umas dicas no telemóvel e ir avançando, devagarinho e com olhos de ver. Não faltarão, como dissemos, os pontos onde petiscar, comer e pernoitar, nem o que ver, fotografar e filmar, para mostrar aos amigos e os aconselharem a virem também.
Nos vales dos rios, do Vouga, do Sul, do Zela, do Teixeira, do Alfusqueiro, do Águeda, em cada ribeiro ou regato, há sempre um aspecto a reter, uma sombra a absorver, um mergulho a dar, uma sesta à fresca, ou um piquenique na natureza pura, ou nos equipamentos que os poderes públicos e associativos vão construindo, cirurgicamente, nos espaços mais agradáveis e apetecíveis.
Estando agora na moda correrem-se algumas das estradas mais icónicas, como a EN 2, de Chaves a Faro, por aqui também as temos carregadas de beleza e atracções. Que o digam (se falassem) a EN 16, a 333, a 230, a 227 e várias outras, nunca esquecendo as municipais e até as florestais. Já que abordamos este ponto, aproveitamos estas linhas para relançar uma ideia que tanto as embelezava em tempos idos, os chafarizes ao longo dos seus percursos, pedindo que venham a ser renovados e valorizados, quanto antes.
Seria falha grave, ainda que estes sejam, por hoje, apontamentos genéricos, não referirmos os monumentos que existem por todo o lado, quer no seu exterior, quer nos respectivos interiores, onde há maravilhas imortais que valem a pena ser observadas com atenção e paciência.
Para quem quiser aproveitar as gratificantes estadias por estas nossas paragens para, numa outra esfera, contactar o tecido social, cultural e económico, fique a saber que em Lafões são variadas as respostas, desde o artesanato à indústria de alto gabarito, sem esquecer os ofícios que ainda se vão mantendo. São ainda muitas as associações culurais, desportivas e recreativas, as quais permitem actividades de lazer que são sempre bem vindas. Com um comércio diversificado e serviços públicos modernos, nada aqui falta...
Em suma, Lafões tem tudo para fazer toda a gente feliz e a querer voltar de novo. É isso que se pretende e se deseja.
Carlos Rodrigues, in “ Notícias de Vouzela”, 23 Jul 2020
terça-feira, 21 de julho de 2020
Um Eureka saltando de Bruxelas...
Em parto altamente complicado e longo, o Conselho Europeu, a ferros, lá conseguiu aceitar um arrojado Plano de Recuperação Económica, que anda pelos 750 mil milhões de euros, a nível global. Numa corda puxada em sentidos opostos por 22 e 5 países membros, estes designados como frugais ( e há quem os apelide de forretas), inverteu-se a lógica inicial proposta pela Comissão que, a nosso ver e em nosso proveito, dividia muito melhor o bolo: mais subvencões, isto é, apoios a fundo perdido, e menos em termos de empréstimos. Com muita pedra partida, o resultado final andou bem mais por baixo. Mas, enfim, lá se conseguiram desbloquear os vários impasses surgidos. É muita massa que vem aí até 2027: cerca de 45 mil milhões de euros. Importa agora é saber aplicar a preceito essas verbas. NOTA muito pessoal: ontem dia 20, ao comemorar 45 anos de casamento, senti uma imensa alegria de ver a minha Susana a ter escolhido esta data para o seu matrimónio com o Márcio, cujos pais também tinham casado no mesmo dia, 20 de Julho de 1975. Há dias assim: felizes...
segunda-feira, 13 de julho de 2020
Lafões na história das Igrejas....
Descobrir a história com as obras religiosas
- Séculos XVII a XIX, grandes mudanças
As marcas do tempo devem muito aos monumentos religiosos como arte, como fonte de conhecimento, como meio de olharmos as devoções, as crenças e as suas respectivas expressões. Olhando para a nossa região de Lafões, onde estes símbolos são uma constante por todo o lado e sob as mais variadas formas, desde as igrejas às alminhas, passando até pelos conventos, essas pedras falam, contactam connosco e dizem-nos ao que vieram, seus fins e até, nalguns casos, os obreiros que as ergueram.
Desde o alto de S. Macário aos vales do Vouga e pelas encostas fora, limitadas pelas serras da Arada, da Gravia, muito especificamente na terra que sustenta e apaparica este “Ecos”, à do Caramulo, descobrimos, lá no alto, não uma, mas duas Capelas, emolduradas de acordo com as condições geográficas em que se encontram, a de S. Macário, resguardada entre muralhas, a de S. Macairinho metida entre rochas quase intocadas. Bem mais abaixo, em Vouzela, impõe-se a Igreja Matriz, românica nas suas origens, e, a caminhar para oeste, o Santuário de Nossa Senhora Dolorosa, em Ribeiradio, a testemunhar o pagamento de promessas ancestrais.
Se estes templos aqui se registam apenas como exemplos de todo um rico património, sem esgotarem, longe disso, a lista imensa de outras obras, neste texto vamos tentar dar uma ideia de alguns trabalhos que, ao longo dos tempos, muito especialmente nos séculos XVII a XIX, deixaram escritos testemunhos que muito nos ajudam a conhecermos o nosso passado e aquilo que foi feito, como resultado, muitas vezes, das condições sociais e económicas de cada época e das modas em vigor. Este é um aspecto que também se torna evidente e nunca pode deixar de ser analisado. Para melhor percebermos estas achegas, basta que pensemos nas riquezas vindas do Brasil e de seu ouro joanino. Foi tal o seu impacto que a talha dourada passou a ser uma regra quase universal. Por outro lado, o granito à mostra ou o reboco pela cal branca são outra dessas evidências ou alternativas.
Percorrendo a revista “Beira Alta”, fonte que privilegiámos, em geral, são muitos os testemunhos encontrados:
- Ainda antes de falarmos de investimentos nos espaços religiosos de Lafões, digamos que, logo no ano de 1104, o Arcediago de Viseu confirmou uma doação ao Mosteiro de S. Pedro do Sul, uma informação relevante, ainda que envolta nalgumas dúvidas, acerca do passado deste mesmo concelho (Beira Alta,/BA – 1991)
- Alguns anos depois, em 1115, fala-se numa doação feita por D. Odório ao abade de Lafões (...) da Igreja de Valadares. Muito embora tenha sido também este documento posto em causa, o certo é que, no mínimo, esta referência, sendo uma espécie de fumo, mostra que por essa altura o fogo da existência deste equipamento talvez se possa considerar como um dado a reter e a motivar mais estudos aprofundados no sentido de se pesquisar mais a fundo este mesmo tema (BA – 1997)
- Comprova-se que estas terras lafonenses tinham fama a sério já no tempo da rainha D. Teresa, ainda antes da constituição da nacionalidade, quando se indica que existia cavalaria vilã em Pessegueiro do Vouga, S. Vicente de Lafões, Paços de Vilharigues, Alcofra e Fataunços (BA – 1991).
Se juntarmos a esta constação o facto de os frades habitarem o Convento de S. Critóvão de Lafões, logo nos inícios da década de trinta dos anos 1100, e de haver referências a um anterior eremitério, tudo está dito quanto ao povoamento destes espaços territoriais nesses tempos de antanho, até para não trazermos para aqui, muito antes, as civilizações megalítica e castreja, ou mesmo as do período do paleolítico, como se pode deduzir dos materiais arqueológicos que se descobriram na zona da Bispeira, descobertos no âmbito dos estudos feitos sobre a Barragem de Ribeiradio, a fazer fé nas informações colhidas na Câmara Municipal de Oliveira de Frades.
- Mais verdade se pode encontrar nas Inquirições de 1258, em que se alega que a paróquia de Valadares pertencia toda a S. Cristóvão de Lafões.
- Numa perspectiva ainda fora de caixa, em 1698, veio ao de cima uma escritura de sociedade para o arrendamento por cinco anos da Quinta da Cavalaria, Vouzela, que pertencia a Aires de Oliveira e Sousa (BA – 1989).
As obras em contratos
- Com inúmeras alusões a trabalhos efectuados nas mais diversas igrejas, capelas, ou outros equipamentos anexos, em 1724, são feitos os retábulos colaterais de da Igreja de Souto de Lafões, sendo que, no ano de 1730, idêntica operação se concretiza em Pinheiro de Lafões e, em 1761, em Paços de Vilharigues (BA – 1989).
- Também nesse mesmo ano de 1761, se vem relatar que Luís da Silva, mestre imaginário, oriundo de Penafiel, mas residente em S. Pedro do Sul, pediu que José Rodrigues, serralheiro, da Costeira, Vouzela, e Manuel Fernandes, de Vilharigues, lhe pagassem a obra anteriormente citada (BA – 1989).
- Nesta mesma revista, dão-se mais pormenores quanto à escritura que levou, em 1724, aos trabalhos operados na Igreja de Souto de Lafões, realizados por Manuel Vieira da Silva, mestre entalhador da freguesia de S. Vicente de Lafões, que recebeu a verba de 127000 réis, tudo seguindo a respectiva planta e com bons materiais, à base de madeiras sãs e lisas. Uma nota muito importante se pode ler naquela documento, que é o da precisão com que se descreve o lugar onde foi assinado: o sítio do Carvalho Furado, que divide o território de Oliveira de Frades com o concelho e o ducado de Lafões.
No que toca a Pinheiro de Lafões (1730), já tal veio a ser escrito na Tapada da Castinheira, limites da citada vila e couto, em que interveio ainda Manuel Vieira, mas obrigado a seguir as formas dos altares colaterais da Sé de Viseu, pelo valor de 260000 réis, em três pagas.
Já quanto a Fataunços, que também ficou conhecido como Folgosa, em 1620, construiu-se a sacristia da respectiva Igreja de S. Carlos, por 20000 réis, a pagar a António Simões, de Vilar Seco. Vários tempos depois, no ano de 1702, pôs-se de pé o púlpito da Igreja de Folgosa, que teve de ser igual ao de S. Pedro do Sul, a que acresceu a Capela de Santa Margarida, tudo por 30000 réis. Importa reterem-se três curiosos aspectos: local da escritura, sítio do Cadavial, Couto do Banho; medidas em palmos; materiais em pedra lavrada de cantaria.
- Com escrituras levadas a cabo em S. Pedro do Sul, tivemos as obras nas casas da Quinta de Moçâmedes, a custarem 100000 réis, 100 almudes de vinho, 100 alqueires de pão e caldos feitos, em 1773 (BA – 1988)
- Decorria o ano de 1798 quando, nesta mesma vila, a Irmandade de Santo António se viu na obrigação de substituir o seu campanário para pedra a fim de aí instalar o sino de uma forma segura, que as bases anteriores se apoiavam em paredes estreitas com estruturas de madeira, o que não oferecia a estabilidade desejada. Com isso se gastaram 269000 réis.
- Entretanto, em 1780, fizeram-se os trabalhos das casas da residência paroquial de S. Félix, anexa à Universidade de Coimbra, bem como a capela-mor e a sacristia, com um custo de 50000 réis. Também Carvalhais, no ano de 1733, recebeu a construção das casas da sua residência, a capela-mor, a tribuna e a sacristia da sua Igreja, o que ascendeu a uma verba de 140000 réis, em três pagas.
- Para Serrazes avançou uma tulha pertencente à Comenda de S. Salvador, tendo custado 145000 réis.
Para terminarmos estas simples e ligeiras notas, que servem apenas para dar uma ideia do muito que por aqui foi edificado nesses séculos e abrir o apetite pela busca de mais conhecimento, importa que se ponha em evidência o extraordinário contributo da revista “Beira Alta”, que se vem publicando desde os anos 40 do século passado até à actualidade na cidade de Viseu, muito embora, nesta altura, de uma forma, infelizmente muito mais irregular.
É de uma extraordinária riqueza histórica e patrimonial todo o seu vasto conteúdo, diverso, plural e de uma valia científica a toda a prova.
Pela nossa parte, aqui deixamos este testemunho de gratidão e reconhecimento por quanto esta publicação nos tem vindo a legar.
Carlos Rodrigues, in “Ecos da Gravia”, Julho 2020
sábado, 11 de julho de 2020
Preocupado? Sim, mas...
Com o coronavírus a dar cabo dos nossos dias desde há meses, não deixo de olhar para tudo quanto está a acontecer com preocupação e bastante apreensão. Os números ainda são grandes demais. As novas contaminações continuam pelos altos dos Himalaias. As mortes não têm parado. As proibições vindas do estrangeiro (meio da casa comum, a UE, o que é altamente estranho) permanecem activas. O turismo ressente-se. A economia desespera. O País e o mundo podem ainda viver tempos piores. O dinheiro dos fundos europeus virá lá, quem sabe, apenas daqui a uns tempos, os bolsos das pessoas começam a ficar rotos de todo. E isto, utilizando, uma frase de há anos, não deixa de "estar de tanga"... Tristes são os momentos que vivemos...
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