sábado, 17 de abril de 2010

Cabo Verde

Meu caro, Mário Soares:



Reli hoje um cartão do MASP I em que agradeces o meu contributo para o teu sucesso nas eleições presidenciais de então. Nessa altura, fi-lo com a maior das convicções. Nas circunstâncias desses tempos - e nada escapa ao binómio decisão/momento - era essa a minha sincera opção.



Tudo em ti convergia para esse desfecho. Mais aquilo que era superior, estilo relações internacionais e presidência da república, que as questões "comezinhas" do governo de todos os dias, inclusivamente as tarefas de um primeiro-ministro ( que não foram o teu melhor desempenho), me levaram a escolher-te para o digno PR que foste.



Não estou arrependido.



Sou daqueles que dizem que tive, contigo, um bom PR.



Mas esta de vires dizer que nunca concordaste com a independência de Cabo Verde - tu, o grande obreiro da descolonização, para o bem e para o mal e isso não se discute, porque o tempo de então assim fez lavrar a terra! - traz água no bico: ou tens má memória, ou queres dizer que um dos melhores exemplos de sucesso como país descolonizado(Cabo Verde), afinal, foi um teu erro crasso, ao deixares que assim se processasse todo esse caminho.

Não creio que estejas arrependido de ter dado à luz um país de sucesso. A falar português, Cabo Verde é um exemplo vivo de como realizar desenvolvimento e saber trilhar caminhos de futuro.

Podes, neste caso, orgulhar-te do trabalho produzido. Noutros casos, infelizmente, nem tudo correu tão bem quanto aqui: sangue, lágrimas e prantos foram derramados em quantidades arrepiantes. Mas, em Cabo Verde, que o meu amigo Arlindo, do mestrado na Lusófona, tão bem testemunha, a via encontrada foi uma pista TGV.
Não te arrependas, então Mário Soares, de teres aberto esse caminho, nem de teres ganho essa corrida ao Cunhal, quando andavam os dois em competição acesa pelos novos destinos de Portugal , que, bem ou mal, tiveram a sua história e é isso que hoje importa saber ler.
E Cabo Verde é uma de suas boas páginas.

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