quarta-feira, 7 de julho de 2010

Futebol e justiça

À primeira vista, isto de futebol e justiça não são peças do mesmo tabuleiro. No primeiro caso, a bola nem sempre é dada como tendo entrado na baliza do aniversário, ou foi empurrada por jogador em fora de jogo, como assistimos neste Campeonato do Mundo. Quanto a Portugal, que ganhou só bem num jogo e com uma abada e pouco mais fez nos outros, tenho de confessar que, muito embora em situação irregular, perdeu bem com a Espanha, que agora confirmou a sua entrada na Final. Quem não quer marcar, aparece derrotado e a nossa equipa deixou sempre a ideia de andar a sonhar com milagres de Fátima...

Agora, por entre assobios e esgares de raiva, resta-nos começar uma outra caminhada: o Campeonato Europeu. Com quem? Venha o diabo e escolha...

Aquela do "feeling" foi chão que deu uvas e nem o BES nos salvou.

Se falassem em vontade e coragem, em arregaçar as mangas e avançar, sem medo, pelo mar dentro, talvez os resultados fossem outros. Como nada há a fazer, adeus África do Sul, sem honra nem glória, mas com uma almofada carregada de uma França que fugiu, assim como a Inglaterra, o Brasil, a Argentina, a Itália e, talvez, outras selecções mais favoritas...

De futebol, pouco nos apetece falar.

Da PT/Telefónica, aguardamos o desfecho da sapatada dada pelo Governo, que merece o nosso aplauso.

Das SCUT, que defendemos nos casos em que circulam por terras ainda empobrecidas, nada a dizer: de trapalhada em trapalhada, não há passo que se adivinhe.

Das Presidenciais - e isto porque estivemos muito tempo em hibernação - também não nos apetece mandar qualquer "bitaitada". Cavaco aí está, Alegre disse que quer estar... Nobre, nem sim, nem sopas, nem lá vou, nem lá faço míngua...

Da vida, com um IVA mais gordo, nem vale a pena opinar. É comer e calar.

Mas não quero calar, nem posso, o que sinto em relação à justiça.
É um pouco igual ao futebol: pouca gente a entende e poucos nela acreditam...
Fui hoje mesmo a um Palácio desse sector, feito com sangue e suor dos presos de Viseu.

Tudo bem: ali compareci, por dever de ofício voluntário, em representação de uma IPSS de Oliveira de Frades, que tem um papel notável em trabalho com pessoas com deficiência.

Chamado, apresentei-me perante Sua Excelência a Magistrada em serviço neste mesmo dia. Do outro lado, alguém que discorda, como lhe compete, da decisão ali em análise.

Entrámos. Era o Tribunal do Trabalho. Eu, como agente "patronal" só por ter funções associativas que tal implicam. A outra senhora por estar no seu papel de contestar aquilo que entendemos ser a correcta posição da Instituição que represento.

Entrámos no Gabinete.

Cumprimentos, de mão estendida, ei-los para os nossos representantes, os advogados respectivos.

Para nós dois, nada. Apenas um curto olhar.

É esta justiça que, de olhos vendados, também não tem coração, nem alma e, por isso, dá-se ao "luxo" de ignorar os cidadãos. Talvez até nem civismo. Sempre que de mim alguém se abeira, sempre o cumprimento, levantado e de mão estendida. "Ontem", no exercício de outras funções - e que tarefas! - nunca deixei de assim proceder.

É esta justiça seca, que não pensa que é gente a gente que ali vai, que me choca e me espanta, neste meu Portugal de homens e mulheres de corpo inteiro, nem que as mãos magoem com seus calos, nem que haja um ar que tresande... Que nem era o caso, por sinal.

Justiça humana só a vi - e aqui o disse uma vez, uma só vez, em Oliveira de Frades, em que uma Magistrada teve o cuidado de descer à rua e explicar o que estava a acontecer.

Em centenas de outras situações, reinou esta gritante distância, apatia e - vamos lá! - uma certa arrogância.

Carta aberta ao Senhor Ministro da Justiça:

- Trave, V.Exa, isto, antes que tudo se desmorone. Até o respeito pelo ser humano, pelo cidadão que somos todos nós.

Hoje, em Viseu, no Tribunal do Trabalho, senti-me mal, até comigo mesmo porque tive de ficar calado demais, quando me apetecia dizer " Olá, como está, Senhora Doutora" . Era o mínimo que me ia na alma. E um sinal de respeito, que não usei, porque percebi o silêncio que ali vi...
Era a justiça, pronto.

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