quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Escolas a fechar, país a desertificar

De olhos fechados, diria que este encerramento, em massa, das nossas escolas, nos últimos anos, é reflexo de medidas desabridas, não-pensadas, aparecidas ao acaso. Aprofundando esta questão, constata-se que tem um pouco de tudo: aquilo que dissemos e, infelizmente, bastante de realidade actual.

Foge-se das aldeias, escapa-se o pessoal dos centros históricos e tudo se desertifica. O interior passa a quase reserva natural, o casco velho das nossas cidades vai pelo mesmo caminho do despovoamento, converttendo-se em amontoado de pedras e ruínas.

Fecham, de seguida, as escolas. Perde-se o fio de vida que poderia fazer ponte entre o passado e o futuro. Ontem, foram as mais pequenas, hoje desaparecem aquelas que têm menos de 21 alunos. Amanhã, as de quarenta, de cinquenta e o que me assusta é este passo acelerado para os grandes centros, a milhas de distância do berço familiar. O autacarro vai ser rei e senhor para as crianças de cinco/seis anos em diante. O acordar far-se-á sentir na noite escura, altura em que os olhos mal se abrem e assim continuarão pelas estradas fora.

Chegar à grande escola, impessoal e distante, vai ser um sacrifício de meses e anos.

Mas são estas as opções que povoam o "sonho" de quem decide. Cá, por nós, ficaríamos pelo meio termo: nem estabelecimentos de reduzida dimensão, nem esse pavor de umas casas enormes onde tudo mexe e a pessoa perde-se um pouco...

No momento em que me dizem que vão ser trancadas mais 701 escolas, é de pesar que tenho de falar.

O meu país desertifica-se e está cada vez mais pobre, mais cinzento, mais sem vida e sem entusiasmo. Culpados? Todos nós, de certa maneira. Mas há quem tenha uma responsabilidade maior e aqueles que nos legaram uma nação que se aninha, quase toda, à beira-mar estão entre os maiores de todos os coveiros.

Tudo isto dá que pensar.

Mas é sempre verdade: por cada escola que se fecha, abre-se a porta ao avanço do deserto e é, por mais que esta frase cheire a conceitos ultrapassados, uma espécie de farol que se apaga.
Se as escolas ditas pequenas não têm bibliotecas, ginásios, piscinas, etc.etc, criem-se alternativas, que se possam, por exemplo, estender a toda a comunidade, numa perspectiva intergeracional.
Mas pôr as crianças a devorarem quilómetros de estradas, no meio de um sono matinal e ao fim da tarde e princípio de noite, não é resposta que se cheire.
Encerrar um estabelecimento minúsculo, sem hipóteses de sociabilidade, impõe-se.
Trancar as portas a eito, brada aos céus.
Eliminar todas as que têm menos de 21 alunos, dá que pensar.
Fazê-lo a escassos dias do início de aulas, não tem classificação...

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