segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Um orçamento a doer

Com tanta gente a falar no Orçamento para 2012, quase será um atrevimento vir aqui debitar meia dúzia de tretas. Ou talvez não o sejam. Aqui, no meu recantinho da Serra do Ladário, meio Aveiro, meio Viseu, que estas terras de oliveira de Frades têm esse encanto, chegam-me ecos de que, particularmente, não gosto.
Eis o primeiro, uma certa tentativa de diabolizar a Função Pública, ela que paga todas as crises, por falta de coragem para mexer noutros sectores, apontando-a como a raiz de todos os males. Por isso mesmo, vão-lhe ao bolso de uma maneira absolutamente escandalosa. E para o ano de 2012 é um desaforo pegado.
Um segundo ponto que me incomoda é aquele que tem a ver com o ataque cerrado que se faz aos pensionistas em geral e com maior ênfase e sempre naqueles que são oriundos da citada FP. Deve ser dito que, para aí chegarem, têm dois "inconvenientes", o de terem idade e de, a seu tempo, terem feito os descontos que lhes pediram, num exercício de solidariedade geracional. Os pais e os avós destas novas gerações, que tanto sofrem, isso é verdade, foram aqueles que, a partir da década de setenta do século e milénio anteriores, se regozijaram com o facto de o Professor Marcelo Caetano ter aberto o sistema de pensões e apoios a quem nunca tinha descontado um tostão que fosse. Fizeram-no com alegria, com o sentido de dever de melhorar suas vidas. Pagaram essas medidas com seu esforço solidário.
Assim sendo, é doloroso assistir-se hoje a uma quase criminalização de quem está reformado, como se essa condição fosse uma maleita e não um direito sustentado em políticas que assim o permitiram fazer.
Feitas estas duas ressalvas, em matéria de OE nada de bom se augura. É um fardo pesadíssimo que se abate sobre as pessoas,as famílias e as instituições. Do que se sabe, teme-se o pior; do que ainda não veio a lume, então nem se fala.
A agravar tudo isto, fala-se demais em cortes e nada se coloca em termos de dinamização da economia. Aliás, com tanta medida recessiva, quanto às expectativas em sede de esperança de recolha de IVA e outros proveitos, o tiro vai sair pela culatra, porque, sem fundo de maneio, diminui o poder de compra, o que agrava o tecido produtivo e dá cabo do emprego.
Nesta espiral de desastre, é de aflição que temos de falar.
E esta dói que se farta.
E muito mais no ano que vem, daqui a dias...

Sem comentários: