terça-feira, 16 de julho de 2013

Um Passos com passada difícil, escrito há tempos atrás...

Um Passos com passada difícil Por mais que descortinemos, por mais que queiramos ser benevolentes com a realidade, esta apresenta-se-nos muito turba, muito trôpega, muito sem jeito nenhum. Por mais que queiramos ver isto andar para a frente, há sempre uma pedra no caminho. Por mais que nos esforcemos em encontrar um TGV, deparamos sempre com um pachorrento e velho Chelas do Vouga, que nem corria, nem estava parado: fazia de conta que comia quilómetros e Aveiro e Viseu estavam a horas de distância. Por mais que atiremos as dificuldades pela borda fora, logo nos apoquentam, de novo, em força de ricochete, para nos dar cabo da cabeça. Por mais que tentemos acordar sem novos cortes, temos a ingrata notícia de que algo de mal aconteceu, ou está prestes a rebentar. Ainda, há dias, ao aguardarmos uma grande poda nas despesas do Estado, anunciadas e prometidas, saiu-nos na rifa uma dose de impostos que nos deixaram de espinha partida. Por mais que ouçamos as trombetas a indicar tempos difíceis e queiramos dourar essas mensagens, não somos capazes de o fazer. Por mais que nos digam que há manhãs melhores, estas nunca mais vêm. Por mais que, na Universidade de Verão de Castelo de Vide, essa educação sazonal e um local de estudo estratégico a nível político, uns mostrem, mesmo de dentro, (in)fundadas críticas e outros se sintam tentados a referir a proximidade de um sol mais quentinho, sempre nos surgem empecilhos que nos fazem recear o futuro. Por mais que Passos Coelho se esforce – e tem-no feito – e por mais que vá a Espanha e Alemanha, cá, na sua terra, os passos são, cada vez mais, apertados, porque há a esperança de ver novas políticas e estas tardam a nascer. Por mais que o Documento de Estratégia Orçamental e outros estejam bem elaborados e muito cuidadosos em prever o que irá acontecer até 2015, mesmo que aí se leia que se vai decrescer até 2012/2013 e reanimar, um pouco, nos anos seguintes (mas com o desemprego sempre a ameaçar-nos e a economia a não descolar), a grande parte das linhas apenas fala em feridas que, vindas de práticas tortas de muitas décadas, têm cura retardada, ou mesmo impossível. Por mais que saibamos que uma banca sem poder financiar as empresas e os particulares é estorvo incontornável, por mais que os livros de economia acrescentem que o aumento exagerado de impostos mata essa galinha de ovos de ouro, potenciando a evasão fiscal, ao darmos esses passos a vida de Passos é cada vez mais difícil. Por mais que se peça uma boa comunicação das mediadas tomadas e a aplicar, há sempre bocas a mais e estratégia concertada a menos. Por mais que queiramos sãs políticas, logo vêm essas maldades das “escutas” a fazer-nos cair do escadote em que tínhamos subido para agarrar uma qualquer estrela de esperança, que foge ao primeiro assopro. Por mais que apostemos em melhor educação, é com dor de alma que vemos que as mudanças são mais do lado da “expulsão” de professores que de outras viagens bem mais duradouras e mais profundas. Por mais que desejemos ver uma outra justiça, tudo continua praticamente na mesma. Por mais que toda a gente sinta que importa reanimar o tecido produtivo, este teima em desfazer-se e a não ser capaz de encontrar a forma de cultivar os campos, pôr as nossa fábricas a produzir, as lojas a vender, as vacas, de novo, a dar leite, o mar a trazer-nos peixe e é, pelo contrário, de encerramentos que as notícias nos falam. Por mais seguras reformas que esperemos, as meias medidas não resolvem quase nada e os passos de Passos são cada vez mais difíceis. Por mais que temamos, por outro lado, temos fé e estamos em crer que os passos de Passos darão frutos, mais tarde do que queríamos, mas ainda a tempo de evitar a catástrofe que todos repudiamos, mesmo aqueles que, ameaçando com a rua (e outros com “tumultos”, em linguagem de condenar), aguardam a oportunidade de, aí, mostrar a força que lhes falta no xadrez da Assembleia. Por mais que nos queiram dizer o contrário, temos fé. Essa é que é a verdade que nos dá algum alento. Carlos Rodrigues

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