quarta-feira, 20 de maio de 2015

Quando se pensava navegar no Rio Vouga...

Nlafões13mai15 O Rio Vouga pensado no século XIX com barcos em S. Pedro do Sul Hoje, olhamos para o Rio Vouga e vemo-lo preenchido com uma extensa albufeira, que parte da Ermida-Sever do Vouga, sector mais a jusante, e se prolonga de Ribeiradio para cima, pelo Médio Vouga em grande parte de seu percurso, até aos limites das freguesias de Sejães, Valadares e Souto de Lafões, esta um tanto de raspão, ou nem por isso, tudo isto devido às novas Barragens. A paisagem e o seu uso mudaram irremediavelmente. Das águas tumultuosas do Inverno e de um fio apagado no Verão, passamos, agora, para a serenidade de um enorme lençol de líquido azul que, em muitos locais, mais separa, unindo, as respectivas margens. É um novo mundo, este, o que aqui presenciamos e sentimos, a exigir respostas a desafios maiores, como os do turismo e outros que venhamos a encontrar. Deste presente, muito se tem dito e escrito. Nestas páginas do “Notícias de Lafões” é, porém, do passado que queremos falar, para repescar memórias e as trazer ao nosso convívio actual. Uma delas, a de hoje, tem a ver com este nosso Rio Vouga e os frutos que dele se quiseram tirar em pleno século XIX, há cerca de duzentos anos. Se, na actualidade, a ideia de uma navegação deste elo de união entre a zona de Lafões e a de Aveiro nos parece uma miragem e uma mera especulação extra-terrestre, nesse tempo tal foi visto como uma boa hipótese plausível, a ponto de ter merecido legislação oficial, ainda que inconsequente. Vamos aos factos, já a seguir: - Um certo ano, um médico que veio parar a Vouzela nos primeiros decénios do século XIX, Dr. Joaquim Baptista, embalado pelos efeitos previsíveis do novo Porto de Aveiro, acabado do construir, logo se pôs a sonhar com um então desejado notável aproveitamento, em navegabilidade, do Rio Vouga, propondo que se avançasse com uma obra deste arrojo e atrevimento até S. Pedro do Sul, que ele via como o grande entroncamento das estradas em direcção ao Porto e a Coimbra. Esta sua ideia, tendo como suporte “ A Região de Lafões – Subsídios para a sua História, Manuel Barros Mouro, Coimbra Editora, 1996” e, muito especialmente, “Reflexões sobre a navegação do Rio Vouga – 1829, Estante Editora, 1989, Dr. Joaquim Baptista, Introdução e Notas de A. Lúcio Vidal”, não se ficou pelos seus papéis manuscritos, tendo chegado à mesa da Rainha D. Maria II, que, por sugestão dos Deputados João Gualtero de Pina Cabral e Paulo Midosi, lhe dá seguimento através de Portaria de 29 de Dezembro de 1837. Dada a ordem para se andar para a frente com o respectivo concurso, tudo ficou, porém, em águas de bacalhau devido às muitas querelas políticas então existentes, uma constante que sempre exitiu e assim vai continuar, se a democracia, como defendemos fortemente, for sempre o regime político em que nos apoiamos. Para dar sustentabilidade económica a este seu projecto, o Dr. Joaquim Baptista trazia a talhe de foice os produtos que podiam circular pelas águas do Rio Vouga: vindo do Litoral para as nossas bandas, sal, sardinha, louça, cal, ferro, bacalhau, açúcar, arroz, chapéus, papel, vidro, panos de linho, descendo, no sentido inverso, os nossos bens agrícolas e pecuários, os cereais, a lã, azeite, cortiça, casca (?), castanha, fruta, presuntos, coiros, porcos, bois, panos de lã, vinho verde de LAFÕES, vinagre e aguardente, apelando à memória dos decisores dessa época para lhes fazer ver que, aqui, a Companhia da Agricultura do Alto Douro tinha quatro alambiques fixos e alguns volantes, podendo acrescentarmos nós ( Ver monografia “Oliveira de Frades, 1991”) que, em S. Vicente de Lafões, se verificava esta realidade. Em visão estratégica, aproveitando a mancha empreendedora das novas correntes de desenvolvimento, de que vem a sobressair o Fontismo, era assim que se via o Rio Vouga, o mesmo acontecendo, pela pena deste mesmo autor, com o Rio Cértima, ali para os lados da Bairrada. Curioso é sentir-se que a tudo isto presidia uma visão integrada, com o seu eixo fundamental a aparecer com o novo Porto de Aveiro. E, no caso do nosso Rio, porque “.... Entre as terras altas da borda ocidental de meseta hispânica e a campina da Beira-Mar, há um traço de união líquido, o Vouga (Obra II, p.9), em caso de falta de água nos estios, advogava-se a eventual necessidade de transvases com origem no Rio Paiva, sendo que, para ultrapassar desníveis e outras dificuldades de obras, se previa a construção de eclusas. Grande capacidade de pensar Lafões aqui lemos, esta, a que aqui nos trouxe hoje e nos vai alimentar mais uns outros trabalhos, em próximas edições!... (Continua) Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, 14 de Maio de 2015

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