terça-feira, 26 de maio de 2015

Falar da minha terra: santos de ao pé da porta não fazem milagres

Pelas nossas terras - Reigoso, terra de solidariedade viva Não é fácil para nós, que temos esta terra como grande matriz e referência genética e social, falarmos de Reigoso sem deixarmos de lado a emoção. Mesmo que assim seja, nesta caminhada pelas “Nossas Terras”, não seria justo passar-lhe ao lado e dela não trazermos aqui toda a sua importância e encanto. Aliás, nunca se deve ser filho ingrato, ainda que a carteira profissional de jornalista nos imponha regras de conduta e ética que nos dizem que não podemos privilegiar nada, nem ninguém acima dos outros. Posto isto e feito este registo de interesses, vamos à obra e há muito que dizer. Em primeiro lugar, começamos por afirmar que, no contexto nacional, há uma outra freguesia de Reigoso, no concelho de Montalegre, que, por acaso, já visitámos, na companhia do bom amigo e colega, Professor Manuel Martinho, aqui há um bom par de anos, mas é desta nossa terra que queremos conversar. As razões abundam, em passado e presente. Recuando no tempo, há que subir aos montes que os maiores testemunhos dessa antiguidade estão estampados no Murado da Várzea, um repositório de antigas muralhas, onde se notam vestígios de um castro acastelado, com um poder de visão estratégica sobre vastos horizontes. Enquadrado este espaço com as Antas da Vessada do Salgueiro e de Antelas, entre outros locais, verifica-se assim a existência de um “continuum” habitável bem expressivo por estas paragens. Com a vinda dos romanos, desce-se para patamares mais baixos, em altitude, e com um potencial agrícola muito maior. Era assim a postura de Roma: criar boas vias de comunicação, cabendo a Reigoso o privilégio de ser rasgado por uma estrada de largo movimento, unindo o mar e a serra, a partir do Marnel (Águeda) e à grande via que ia de Lisboa para Braga e Santiago de Compostela. Estabelecidos estes circuitos, havia que povoar as terras e dar-lhe sustentabilidade em cultivo de cereais, azeite, vinho, animais e outros alimentos e equipamentos básicos. Com vestígios palpáveis desta via na Ponte e em Entráguas, os seus marcos miliários podem ver-se no Museu Municipal de Oliveira de Frades, em grande plano. Percorrendo toda a Idade Média, é por esta altura, aí a partir dos séculos X a XIII, que “Radicosu” atinge todo o seu esplendor e funcionalidade. Criada a ALBERGARIA de Reigoso, em que teve papel preponderante o Alcaide Cerveira, que a cede ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, assim como manda sagrar a respectiva Igreja, estava dado mais um bom tiro de partida para altos voos. Para memória perene, neste templo, da invocação de S. Lourenço, padroeiro, uma placa regista estes factos e feitos. Foi tal a importância desta Albergaria – Hospital que, à beira da estrada se haveria de erguer um padrão (também existente no citado Museu) em que se pedia, muito claramente, aos peregrinos que ali se dirigissem, porque lá havia casa, cama, água, azeite e sal. Fazendo parte da rede de apoios aos caminhantes de Santiago e todos os demais, esta infraestrutura durou praticamente até ao século XX. Com ligações aos concelhos de Lafões e S. João do Monte, Reigoso pertence hoje, desde meados do século XIX, a Oliveira de Frades, sendo que, como freguesia, faz parte, na actualidade, mercê da Lei 11-A/2013, da União das Freguesias de Destriz e Reigoso. Com uma marcha populacional bastante descendente, anotemos os respectivos números: 1911 – 419 habitantes; 1940 – 444; 1960 – 471; 1970 – 420; 1981 – 402; 1991 – 390; 2001 – 375 e 2011 – 341. Com duas povoações de maior dimensão, Sobreira e Reigoso, há ainda os povoados da Ponte, Feira, Entráguas e Várzea, sendo que um dado curioso se pode citar que é o de Entráguas ser, muito provavelmente, a terra do concelho com maior percentagem de novas construções. Condenada a desaparecer e a deixar o Santo António sozinho, hoje tem uma série de novos moradores, estando assim assegurado o seu futuro. Dotado este espaço de uma Zona Industrial, mostra alguma apetência pelos investimentos, a nível geral, sendo de destacar as empresas Ramos e Ramos, Levi Carvalho, Cisfra, Avizela, Autojac, Violantecar, Café Larides, Emílio Rodrigues (mel), entre outras. Associativamente, evidencia-se logo a UMJA – União Musical Juventude e Amizade, havendo ainda a ARCUSOPOF, a AJOR, devendo referir-se que em 1929, 1946 se falava na Sociedade Musical Agrícola Reigosense, assim se provando uma boa apetência pelas Filarmonias desde tempos antigos, passando ainda pela mais recente Reigravo e sua sucessora, desaparecida há algumas décadas. A fazer fronteira com o distrito de Aveiro, estas terras têm, assim, uma posição geográfica de alta importância estratégica, facto que foi amplamente dilatado, primeiro com o IP5 e, mais tarde, com a A25, que aqui tem um nó central. Com pergaminhos aos montes, com estas novas vias, Reigoso tem tudo para almejar um bom futuro. Deus queira que assim aconteça. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Maio 2015

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