quarta-feira, 3 de junho de 2015

Recordar respostas escolares num País assimétrico: Colégio de S. Frei Gil, 1962

Colégio de S. Frei Gil assinalou Bodas de Ouro – um testemunho pessoal Desde que, num esforço conjugado e numa iniciativa que se concretizou em reduzido espaço de tempo, o antigo Colégio de S. Frei Gil abriu as portas em Outubro de 1962, passaram-se cinquenta anos. Numa casa que albergou esse mesmo Colégio, uma Secção da Escola Industrial de Viseu, a Escola Preparatória D. Duarte de Almeida e é, agora, a Escola Básica de Vouzela e sede de um Agrupamento Escolar, muitas são as vivências e ricos os contributos que se sucederam em catadupa. Para pôr em evidência tudo isso, a Associação D. Duarte de Almeida e a Comissão dos Antigos Alunos organizaram um programa de comemorações, que contou com dois momentos distintos: um “peddy paper” de descoberta dos monumentos da vila e um almoço-convívio. Com o ponto de encontro centrado na Praça Morais Carvalho, onde o Café Rocha serviu um agradável beberete, em equipas, partiu-se então para a primeira das tarefas que foram propostas às dezenas de participantes. Munidos de uma carta geográfica e de uns tópicos acerca dos locais a visitar e identificar, por ali se andaram duas boas horas, vendo e registando pormenores que não eram facilmente apreensíveis. Com paciência e olhos de lince, lá se foram resolvendo, com mais ou menos êxito, os enigmas constantes do pacote em questão. Esta foi uma maneira, ou de rever pormenores, ou, desvendando-os, de tomar, uma vez mais, contacto com a riqueza monumental desta terra. Em feliz coincidência, puderam estes grupos cruzar-se com um outro grande evento cultural, com pesos internacional, a Bienal de Arte, que, em dia de sol, alegrava ainda mais todo este mesmo espaço. Terminada esta tarefa, a etapa final estava localizada, precisamente, nas instalações do ex-Colégio de S. Frei Gil, onde se haveria de cumprir, então, a segunda parte da agenda que tinha sido enviada para quem quis participar nestas jornadas de saudade, memória e reconhecimento. O edifício inicial, com vários retoques, lá estava a dizer que ali nascera o sonho de muita gente, que, estudando em respostas que o Estado então não dava, foi depois caminhando pela vida fora. Mais idosos, os jovens dessa época, os fundadores, que ali compareceram, os professores, os funcionários, puderam todos, talvez com uma lágrima no canto do olho, recordar tempos que já lá vão, mas que não esquecem. Escusado será dizer-se que, se a escada de acesso ao segundo piso testemunha bem, pelo desgaste que se nota, a passagem dos anos, tudo ali é também diferente: várias gerações ali se cruzam, em termos de instituições escolares e de esquemas de funcionamento e os novos edifícios e interligações entre eles são a marca dessa mesma evolução. Do velho Colégio, felizmente, houve sempre o bom senso de o preservar e integrar na paisagem posterior. Mas, neste momento, aquele espaço tem outros pavilhões e valências, como um magnífico Auditório, e até a antiga Escola Primária faz agora parte deste complexo global e moderno. Ou seja: o passado resiste, não foi engolido por nada e convive, em amena cavaqueira, com tudo quanto ali se foi construindo, que os tempos não pararam e isso é muito importante. Mostra-se assim a vontade de andar para a frente, mas nunca de renegar aquilo que é uma herança viva de quem, em 1962, partiu para esta bonita aventura. Porque, nesta marcha, um dia me coube a honra de por lá ter passado um ano da minha vida, quis estar presente, curiosamente, com duas gerações familiares, como ex-alunas, separadas por décadas, que me acompanharam nesse convívio, que teve também na Escola Profissional outra de suas peças fundamentais. Porque a Lurdes Pereira, noutro local, já falou, e muito bem desta Festa, este desabafo tem apenas o significado de uma vivência particular, que aqui se regista. Entre os muitos momentos que há a evidenciar, um deles tocou-nos particularmente: foi quando o Professor António Girão e a Matilde Figueiredo se referiram ao contributo da Dr.a Clara Simões, homenageando-a, enquanto ex- directora do Colégio, com um ramo de flores, entregue a seu marido, o Dr. António Simões, um dos fundadores ali também sentado à mesa. A vida é feita de gestos e o da solidariedade tem, nela, um papel fundamental, o que ali foi bem evidente. Cinquenta anos já se viveram. Agora, é o futuro que espreita e que seja bem melhor que este presente que estamos a viver. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 2012

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