terça-feira, 19 de março de 2019

1948, a Casa de Lafões luta pela EN 333

No ano de 1948 Mais uma acção da Casa de Lafões em Lisboa a favor da nossa região Recuando nos tempos, constatamos que a Casa de Lafões, de Lisboa, nascida em 1911, inicialmente com a designação de Grémio Lafonense, teve como objectivo primeiro e, nessa altura, principal, lutar pela passagem da Linha do Vale do Vouga por estas nossas terras. Em 1913 e 1914, pôde, finalmente, abrir as garrafas de champanhe e fazer ir para os céus enormes descargas de foguetes, porque o comboio ido de Espinho e de Aveiro chegou a Viseu e cortou estes territórios de uma ponta a outra, no sentido horizontal. No meio de muitas azáfamas, sempre em favor do solo-pai e mãe, foram-se sucedendo as diligências por esta ou por aquela finalidade. Tudo servia para esta Instituição intervir, desde as Comissões de Melhoramentos às festividades e eventos locais, em cada uma de suas localidades. Oliveira de Frades, S. Pedro do Sul e Vouzela nunca foram concelhos esquecidos na grande capital pelas nossas gentes. Que o digam, por exemplo, os saudosos Hospitais das Misericórdias... A ilustrar estas afirmações, eis que, no ano de 1948, é pedida uma audiência ao Ministro das Obras Públicas com vista a fazer avançar “ o estudo e acabamento da abertura do troço da estrada de 3ª classe nº 333 entre Águeda e Cambarinho”, cujo traçado já se iniciara em Vagos. Por uma nota inscrita na cópia do ofício enviado, sabe-se que tal encontro nunca chegou a ser realizado. Entretanto, feito o bom trabalho de casa, juntava-se uma exposição enviada aos Governos Civis de Aveiro e Viseu e aos municípios de Vagos, Sever do Vouga, Oliveira de Frades e Vouzela e ainda para a Junta Autónoma das Estradas, a célebre e todo poderosa de então, JAE. Como do Ministério nada disseram, as cartas com este trabalho acabaram por ficar também na gaveta e nunca caíram na mesa dos projectados destinatários. Como documento com forte interesse histórico para o estudo desta nossa Região de Lafões e intervenção das entidades que a constituíram, ontem e hoje, dele aqui registamos alguns excertos, a saber: - “ Os adeante assinados, naturais ou habitantes da região entre Águeda e Vouzela, com os fundamentos que vão expõr, respeitosamente pedem a V. Exa se digne mandar actualizar o estudo e proceder ao acabamento da abertura do troço da estrada de 3ª classe, nº 333, entre Àgueda e Cambarinho, no concelho de Vouzela. Foi esta estrada classificada pelo decreto nº 34593 de 11 de Maio de 1945 com a designação de Vagos à Ponte de Ribamá, passando por Palhaça, Águeda, A-dos-Ferreiros, Talhadas, Cambarinho, Vouzela, etc. Primitivamente fora estudada e classificada como EN nº 13, partindo da EN nº 10, próximo de Águeda e terminando em Viseu. Isto significa que, já na época que se estudou a nossa principal rede de estradas, esta via era considerada de principal importância para a ligação da Beira Alta ao Litoral. Veja-se que tendo a estrada Lisboa-Porto o nº 10, o estudo desta veio logo a seguir com o nº 13. Assim se consagrava e reatava uma tradição milenária, posto que o seu traçado seguia, com pequenas variantes, o itinerário da Estrada Imperial Romana (...) Foram mestres na matéria os romanos... “ Como vemos por estes apontamentos e outros que lhes vamos juntar, a Casa de Lafões não brincou em serviço e quis levar ao Ministro um levantamento com cabeça, tronco e membros. Só que este boa tarefa foi abafada pela citada recusa ministerial. Curiosamente, o autor desta crónica neste “Notícias de Lafões” levou a cabo, em 2013/2014, uma pesquisa que deu origem a uma série de exposições fotográficas e documentais, que expôs na Vagueira (Vagos), Oliveira de Frades e Vouzela, onde se deu conta dos locais que serviu e dos passos dados até à sua conclusão, que, ironia do destino, também nunca podem ser considerados como completos. Teve esse “estudo” como designação a “Estrada dos VV”, por ligar Vagos a Vouzela. Voltando agora à tese da Casa de Lafões do ano de 1948, acrescentava-se que “ A estrada entre Vagos e Àgueda já existe, bem como troço de Cambarinho a Ribamá. Apenas falta a parte que, das proximidades de Àgueda vai a Cambarinho (sic) e, mesmo dentro deste lanço, já estão abertos alguns quilómetros em Talhadas e A-dos-Ferreiros(...) De Talhadas a Cambarinho, aproveitam-se uns quilómetros já abertos entre a Senhora da Graça e a Ereira. Daqui indo rente ao Pisco a ao fundo das Benfeitas, lugar da Ponte, de de aí, passando um pouco ao sul de Reigoso para ganhar Cercosa e por fim Cambarinho, num total de 10 a 12 km, atravessa-se o terreno ideal para a construção de estradas: a zona de granitos decompostos... Tem esta região (Lafões) o privilégio de, a par dos seus incomparáveis soutos e milharais, produzir a mais afamada vitela de Portugal e um dos seus vinhos mais castiços: o azal e o amaral... “ Fala-se depois das riquezas de Àgueda, do valor das pedreiras das Talhadas, do nosso riquísssimo folclore, da história, o alto valor turístico. E remata-se assim: “... Digne-se V. Exa mandar estudar as possibilidades regionais e a estrada que há 80 anos esperamos e verificará que não exageram os peticionários. Eles, como bons portugueses, apenas desejam que lhes facilitem as condições de vida da sua terra, que redunda em maior engrandecimento da nossa Pátria...” Com estas linhas, quisemos vincar quanto devemos à nossa Casa de Lafões de Lisboa. Serve apenas como nosso humilde tributo e homenagem, mais um entre tantos que a história desta Instituição regista... Carlos Rodrigues, in Notícias de Lafões, Março 2019

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