sexta-feira, 29 de março de 2019

Nasceu em S. Pedro do Sul o maior cozinheiro do século XX

Um cozinheiro que marcou o século XX João Ribeiro, de Sul, singrou na alta gastronomia Há quem assegure que João Ribeiro, nascido em Adopisco, freguesia de Sul, no ano de 1905, foi provavelmente o melhor cozinheiro português do século XX. Assim o afirmou José Quitério, acrescentando Maria de Lourdes Modesto que foi o único a poder ser considerado Mestre. No mesmo sentido, um recente programa televisivo afinou pelo mesmo diapasão. Se estas notas são, em si, credoras da nossa admiração, o concelho de S. Pedro do Sul e a região de Lafões não podem deixar de incluir nas suas referências, em termos de personalidades, esta figura de âmbito nacional. É isso que aqui estamos a fazer: reavivar a sua memória no jornal da sua terra, o “Notícias de Lafões”. A seu respeito, o blogue “panelasemdepressão”, com base em “ O livro do Mestre João Ribeiro”, fala nas contingências que o levaram a Lisboa, a cidade-esponja que faz despovoar o resto do país, ontem e hoje. Com 13 anos, “parte, empurrado pela casa pobre dos pais para a capital em busca de mais pão. Depois de curta passagem por casa de cruel parentela, foge e procura trabalho onde pode. Carregador de carvão, empregado de tanoaria, trabalhador numa quinta e empregado em armazém de vinhos, JR começou a odisseia em 1918, que, na década seguinte, torna rumo consistente, numa aventura culinária que nunca mais pára”. Cheio de sonhos e com uma enorme vontade em trilhar outros caminhos na sua vida, à sua frente abriu-se um autêntico auto-estrada, que ele soube construir a usar. Foi na cozinha que encontrou as novas vias. Humilde e voluntarioso, absorveu todas as lições que foi recebendo, incluindo as influências francesas que encontrou durante o seu percurso de aprendizagem. Mas nunca esqueceu as iguarias portuguesas e suas delícias. Ao bacalhau, dedicou mesmo uma especial atenção. Deste modo, reza a sua biografia, no ano de 1921, entra para o Suíço Atlântico Hotel, onde pontifica a gastronomia francesa, prosseguindo a sua carreira no Tavares Rico (lidando de perto com o Chefe Clement Parceau), no Palace de Vidago, no Universal de Pedras Salgadas, mas seria o Aviz Hotel, onde entrou em 1934, a guindá-lo para a a alta roda desta arte. De suas mãos, saiu ainda o Restaurante Aviz, também de enorme nomeada, onde trabalhou até 1975. Quanto a esta casa, Alexandra Prado Coelho escreveu, um dia, no “Público”, que “ foi o melhor restaurante de Lisboa. À (sua) frente estava o mestre João Ribeiro e, por detrás dele, a família Rugeroni...”. Uma curiosidade colhemo-la nesta fonte e é esta: os ovos, ia buscá-los ao Palácio de S. Bento, onde a governanta de Salazar tratava as respectivas galinhas... Da sua lavra é ainda, na tal luta pela valorização das nossas ementas, o Bacalhau Lisbonense, um sucedâneo do “à Gomes de Sá”, com sucesso reconhecido. Na vastidão do seu legado, como alega José Quitério, um dos autores do livro atrás citado, constam 252 receitas manuscritas em dois cadernos, “Receitas práticas aprovadas” e “ Livro de receitas”. São imortais os seus seguintes pitéus: pasta de santola, o referido bacalhau, os crepes flameados e a perdiz à Convento de Alcântara e da Guarda, o salmão, o espadarte, o pato fumado, entre outros. Até nos molhos, este nosso conterrâneo escreveu boas páginas, como refere o “tugagourmet”, quando declara que”... Chegados ao século XX, temos por referência António Maria de Oliveira e João Ribeiro, incontornável chefe de cozinha do Hotel Aviz durante 25 anos... “ Devido à sua real categoria de cozinheiro de eleição, Salazar, para os grandes momentos e convívios da história do Estado Novo, não dispensava os serviços de João Ribeiro. São desses tempos algumas peripécias por ele narradas, no sentido de remediar situações de aflição, como aquela em que os perús que tinha para uma refeição no Alentejo (pensamos que em homenagem a Franco), em tempo de calor, ganharam um cheirinho, o que se resolveu com um “banho” de perfume. Isto mesmo ouvimos nós, em entrevista que lhe fizemos na sua casa de Adopisco, há uns anos, para o colega Notícias de Vouzela, onde estavam também os saudosos Fernando Pereira e o Chefe António Silva, que nutria pelo Mestre uma enorme consideração. Convivendo com as mais altas individualidades mundiais, teve em Calouste Gulbenkian um companheiro e um apreciador de sua culinária durante grande parte de sua vida. Eisenhower, Evita Péron, Maria Callas, Ava Gardner, Mastroiani, Humberto de Itália, os Windsons, a Rainha Isabel II e D. Amélia foram alguns de seus afamados clientes. Com este percurso tão rico, João Ribeiro, que aqui morreu em 1988, tem de ser uma presença obrigatória na história desta nossa região de Lafões. Já o sabíamos e agora aprofundámos essa noção, que partilhamos com os leitores deste “NL”... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, 28mar19

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