sexta-feira, 3 de maio de 2019

A saúde, primeiro, a ideologia depois...

Lafões, terras de solidariedade Hoje, andamos todos afadigados em discutir o Serviço Nacional de Saúde e muito preocupados (e ainda bem!) em resguardar a necessidade de todos, mas todos, termos direito a sermos tratados com dignidade, eficiência, qualidade e sem quaisquer excepções. Tudo bem e que assim seja. Mas deixem que diga: para nós é algo indiferente que seja o Estado, directamente, a prestar esses cuidados ou quaisquer outras entidades, desde que o cidadão, todos nós, saia beneficiado e nunca marginalizado. A universalidade e a tónica têm que ser colocadas nos resultados finais, jamais em modos de estatização ou privatização de quem se venha a dedicar a essa gigantesca tarefa de pôr toda a gente com boa saúde. A ideologia, aqui como em muitos outros aspectos, deve ficar na gaveta, desde que os protagonistas em causa sejam capazes de desempenhar, com eficiência e humanidade, as duras tarefas que têm em mãos. Sem querer que possamos aliar o que vamos dizer aos tempos que correm, e jamais nos passaria pela cabeça fazer essas extrapolações, épocas houve em que o Estado nem sequer pensava nestes temas. De mão beijada, continuava a entregá-los à Igreja e às diversas confissões religiosas e daí lavava as suas mãos, porque aquelas entidades os tinham assumido desde a antiguidade. A nossa região de Lafões oferce-nos testemunhos desta realidade desde leste a oeste e de norte a sul, vindos, muito em especial, dos séculos XII em diante. Na linha que cruza o litoral com as serranias da Beira, desde logo, encontramos a Albergaria de Reigoso, em plena estrada romana e rota dos peregrinos de S. Tiago, com apoios de saúde e primeiros socorros no seu Hospital, que se manteve em funcioamento durante cerca de oito séculos. É obra. Mais além, as Caldas do Banho prestavam idênticos cuidados. No sentido norte-sul, Manhouce parece que suportou uma unidade deste género. E nas redondezas outras teriam existido, mormente em Doninhas/Talhadas, onde ainda hoje se vê a Rua do Hospital. No século XX, são notórios os serviços médicos, e até cirúrgicos, praticados pelas Misericórdias de Oliveira de Frades, Vouzela e S. Pedro do Sul. Num esforço titânico das diversas comunidades, cada tostão tinha muito do suor dos nossos conterrâneos e antepassados, que estavam sempre dispostos a ajudar e a contribuir, muitas vezes mesmo em tom de festa, como sejam os cortejos de oferendas que se iam realizando de vez em quando e com participação e sucesso assinaláveis. Se S. Pedro do Sul e Oliveira de Frades são unidades muito mais recentes, de fins dos séculos XIX e anos trinta do século XX, a Misericórdia de Vouzela ostenta centenas de anos de história, por ter sido lançada em Agosto de 1498 na Sé Catedral de Lisboa, no reinado de D. Manuel I. Achamos bem, para finalizar, que a saúde mereça toda a atenção dos nossos políticos, dispensando apenas a esterilidade fantasmagórica de alguns excessos, como dissemos, demasiado ideológicos e pouco práticos. Se o sonho comanda a vida, eles nem sempre sabem tudo e é nossa obrigação mostrarmos as nossas opiniões. Se as ouvem ou lêem, isso é outra conversa, mas fica-nos a consolação de termos cumprido o nosso dever: opinar. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Maio 2019

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