segunda-feira, 16 de novembro de 2020

A agricultura ao longo dos tempos também em Lafões...

Pensar na agricultura como meio de olhar o futuro Hoje, está um pouco na moda ter a ideia de que as chamadas novas tecnologias são a chave que é capaz de resolver todos os nossos problemas e fazer-nos entrar na fase de recuperação de muitas das nossas doenças económicas e sociais. Seria da nossa parte uma asneira condenar esse esquema mental. Mas será também um erro ficarmos por ele e só com ele. Um tanto como leigos, olhamos para essas matérias mais como óptimas ferramentas do que um fim em si mesmo. Estendendo este nosso raciocínio ao trabalho que queremos apresentar, que andará à volta das questões agrícolas, temos de confessar que da terra é que nos vêm os principais alimentos, pelo que essas novas tecnologias, sendo muito úteis, não dispensarão nunca o esforço dos homens e das máquinas em conseguir que dela brotem os produtos de que necessitamos para viver. Aplica-se aqui o velho ditado popular de que sem ovos não se fazem omeletas. Por mais que os computadores estejam carregados de dados, a mão humana nunca poderá ser posta de lado. Muito menos, no campo da agricultura, da pecuária e da silvicultura, áreas de que tanto precisamos. Não queremos, porém, alegar que a inovação pode ficar à margem de tudo isto. Estes números, veiculados por Pedro Reis, em 2013, na sua dissertação “ Inovação na produção agrícola”, bem o provam: no século XVIII, cada família só poderia dispôr de 20 a 30% do excedente em relação às suas necessidades; mais tarde, em finais do século XIX, cada activo conseguia alimento para 4 pessoas e, nestes séculos XX/XXI, a relação é de 1 para 60. Isto mostra um progresso enorme, só possível por força das mudanças operadas ao longo dos tempos, em técnicas e em tratamento dos solos, em fertilização, em mais eficazes sistemas de rega e de melhoria de produtos. Como este autor diz, tudo isto se insere na estratégia “Europa 2020”, não devendo o mundo agrícola ficar fora dos programas em causa. Aliás, entre os casos de estudo que escolheu, um deles teve a ver com a região de Lafões e, nomeadamente, com a produção de mirtilos, sector em que analisou seis em dez dos fruticultores seleccionados, no âmbito do PRODER: Mostrou com este exemplo de que as mudanças têm o seu tempo e são altamente necessárias, mas nunca afirmou que nos podemos sentar no sofá a manobrar o teclado de um computador e esperar que os milagres da produção venham a acontecer. É só isso que queremos demonstrar com estas nossas linhas. Novas tecnologias, sim, fazer delas a tábua de salvação de todos os nossos problemas, nunca. Um trajecto de milénios Numa caminhada milenar, desde sempre o campo teve um papel determinante. Isso nos diz também Eugénio de Castro Caldas, na sua obra “ A agricultura portuguesa através dos tempos, INIC, 1991”, quando escreve que “... No território europeu, ibérico, onde Portugal nasceu, a população encontrou na agricultura o apoio necessário e bastante para cumprir o destino invulgar que a História lhe reservou”... (P. 11) Descreve, depois, as fortes influências romanas, árabes e outras, que vieram moldar o nosso tecido económico e social agrário. Enumera as principais culturas, como a cevada, o trigo, a oliveira e a vinha, entre outras, pondo em evidência a evolução tecnológica ( uma determinante do progresso dessas e de nossas épocas) que se confinava, nessa altura, a uma boa enxada, um arado, uma charrua e a força da tracção animal. Punha ainda em lugar de destaque os avanços na hidráulica, na rega e chegou a declarar como foi essencial o processo de ligação do homem à terra na nossa organização social e política, sendo “... ecológico na sua origem e depois humanizado, que leva (?) à formação da dependência da solidariedade campesina e que passa a ser o suporte de instuições comunitárias como os concelhos... “ (p. 65) Como estamos a ver, a negação da evolução será sempre de eliminar dos nossos esquemas mentais. Entretanto, é crucial reconhecer que o homem e a terra terão de andar, toda a vida, de mãos dadas para bem de todos nós. Muito recentemente, nas nossas zonas, a evolução passou pelo encontro de novos caminhos, como o da cultura de pequenos frutos, o da criação de mercados digitais e de proximidade ( e aqui está uma boa aposta, que, partindo da produção, alia posteriormente as novas tecnologias para dinamizar o processo das vendas), o dos produtos biológicos, passando pelo incremento de novos apoios como aquele que, em concursos abertos em Janeiro de 2020, avançou para 200 mil euros de investimento em acções de transformação e comercialização de produtos agrícolas. É com isto tudo, trabalho prático e inovação, que se assegurará o nosso futuro, mais do que por miraculosas miragens tecnológicas. Como nos mostra Custódio Cónim, em “Portugal e a sua população, I, Alfa, Lisboa, 1990, “ a falha no reconhecimento da importância da agricultura é que levou ao despovoamento e ao desastre que o nosso Interior está a sofrer. Para que conste: nada de condenar a busca de novas soluções, mas também nada de pensar que sem uma forte ligação do homem ao solo o mundo poderá pular e avançar, como tantas vezes ouvimos cantar e com muito gosto. No meio é que está a virtude e aqui também... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Nov 2020

Sem comentários: