segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Lafões, união e divisão e Covid pelo meio

es, in “NoLafões unido pela geografia e pelo sentimento Agora dividido pela Covid 19 CR Nestes dias de confinamento de fins de semana e de recolher obrigatório em quase duzentos municípios desde segunda-feira, dia 16, e 121 nos quinze dias anteriores, lembrámo-nos de, na tarde de domingo, dia 15, ir fazer um simples teste: procurar as linhas que dividem Lafões em zonas de emergência ou apenas de calamidade. Fomos procurá-as em dois locais de separação dos concelhos de Vouzela e Oliveira de Frades, entre Paços de Vilharigues e Cambra na sua ligação a S. Vicente em dois lados, Sernadinha e Cajadães. Nem um sinal de distinção física, nem algo que fizesse denotar qualquer separação. Houve, no entanto, um pormenor que nos fez ver que nem tudo era igual. Para não quebrarmos as regras da proibição de circular, num caso e noutro fizemos inversão de marcha e voltámos ao ponto de partida, a zona ainda livre dessas regras, Vouzela. Qual foi então essa diferença? Do lado de cá, viam-se as viaturas em movimento. Do lado de lá, no espaço temporal em que estivemos em observação, nem uma. Esta realidade de agora e de daqui a oito dias, fez-nos pensar no seguinte: sendo Lafões um todo natural, a explicação para estas divisões só pode ter origem em razões políticas e sanitárias e foi isso que aconteceu. Assim, desde há duas semanas, Oliveira de Frades, por ultrapassar a fasquia de infecções recomendada pela União Europeia, mais de 240 doentes por 100 mil habitantes, entrou logo, infelizmente, na tal lista negra. Desta escaparam Vouzela (e agora uma vez mais) e S. Pedro do Sul, que desde o dia 16 também, por triste sorte a sua, se veio a incluir nos 77 municípios que nela entraram, excluindo-se sete que dela saíram. Neste curto exercício no terreno, adoptámos a metodologia de irmos só para locais onde estas medidas se mostrassem opostas, como aconteceu com Oliveira de Frades e Vouzela. Quanto a S. Pedro do Sul, tal só se verificará na semana que vem. Extrapolámos depois para uma reflexão geral sobre esta nossa região de Lafões e, mais concretamente, estes três territórios, que há outras franjas de Sever do Vouga, Castro Daire e Viseu que não considerámos para esta análise. Com uma pequena “bíblia” à mão de semear, “ As antiguidades pre-históricas de Lafões, 1921”, do Professor Amorim Girão, nosso saudoso conterrâneo de Fataunços e ilustre geógrafo e académico da Universidade de Coimbra, aí lemos : “ ... É que, apostada en retalhar e descaracterizar o que de mais profundamente nacional existe no nosso país, a divisão administrativa tem contribuído, nas suas diversas vicissitudes, para sistematicamente fazer esquecer aquelas antigas designações regionais, correspondentes a outros tantos organismos bem individualizados, cujos aspectos dominantes assumem geralmente um cunho próprio, que por vezes se revela tanto na constituição geológica dos terrenos e nas formas de relevo e do clima, como nas diversas manifestações da actividade humana e da vida económica. Poi bem! (... ) Lafões... um todo homogéneo corresponde portanto a uma verdadeira região natural... constitui para nós uma pequena pátria... “ Uma região e, de novo, um concelho? Dito aquilo por quem sabia e tinha uma profunda noção de que esta nossa zona é esse “todo” de que nos falou, talvez já estivesse, implicitamente, a dar uma bofetada de luva branca nas divisões administrativas que, no século XIX, aos trambolhões, por aqui se fizeram, sobretudo nos seus idos anos trinta. Sem querermos, por agora, entrar na quente questão de uma possível reunificação administrativa, que consideramos matéria de alto melindre, há pormenores que, bem pensados e melhor desenhados, poderiam resolver parte de alguns problemas surgidos e até de sensibilidades feridas. Há dias, ao ouvir o Dr. Almeida Henriques, presidente da Câmara Municipal de Viseu, se bem entendi, posso manifestar-lhe o meu acordo quando, criticando as tabelas concelhias, dizia defender que tal se fizesse em relação a manchas regionais. Lafões bem poderia ser um campo para esse tipo de decisões, tão intricadas são as ligações entre todas estas nossas terras. Por outro lado, fazendo-se a média geral dos três municípios, talvez até se não atingissem os valores em causa. Queremos dizer que não fizemos qualquer estudo a esse respeito, estando apenas a falar em hipóteses. Também, e agora alargando os conceitos, não nos parece assim muito curial ver a Polícia e a GNR, no bom cumprimento de suas funções, a procurarem linhas imaginárias de divisões entre o Porto e Matosinhos ou Sintra e arredores. Há algo nisto de que dever ser arquitectado de uma outra maneira. Qual? Não nos perguntem que também não sabemos. Pronto. Estas são apenas achegas para uma reflexão profunda que precisa de ser feita a muitos níveis e as divisões administrativas entram nesse rol. Disso temos a certeza. No caso de Lafões, até aos anos 30 do século XIX, como vimos, a história fala por si. E agora será de assim pensarmos? Talvez... Carlos Rodrigutícias de Vouzela”, Nov 2020

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