segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Uma volta pelas voltas de Lafões

Lafões em visita Notas para uma viagem histórica nestas nossas terras Com base numa visita feita com os alunos da disciplina de História da Universidade Sénior de Vouzela, no ano de 2017, apresentamos aqui, agora em versão jornalística, uma série de ideias para se tomar conhecimento com a arqueologia da região de Lafões. Entre as muitas opções, apontam-se alguns locais e monumentos que merecem ser vistos, analisados e, por fim, bem entranhados na nossa memória pessoal e colectiva. Depois desta viagem, outros pontos apareceram, pelo que, hoje, o panorama está muito mais rico a esse propósito. TRAJECTO– Vouzela – Balneário Romano das Termas e Castro de Nossa Senhora da Guia/Baiões, S. Pedro do Sul – Anta Pintada de Antelas, Oliveira de Frades – Estrada Romana de Entráguas/Seixa – Castro do Cabeço do Couço, Crasto/Campia – Anta de Paranho de Arca (OFR) – Torre de Alcofra – Anta da Lapa da Meruje, Carvalhal de Vermilhas – Torre de Cambra – Paço Moçâmedes – Minas da Bejanca – Estrada Romana de Figueiredo das Donas e Ponte Pedrinha – Monte Castelo, sepulturas antropomórficas – Vila de Vouzela Para melhor enquadrar esta actividade, nessa altura elaborámos o guião que passamos a transcrever, como meio de ajuda para essa viagem. – Termas de S. Pedro do Sul – Balneário Romano – Designações ao longo dos tempos – Banho, Caldas de Alafões, Caldas do Banho, Termas da Rainha D. Amélia, Termas de S. Pedro do Sul - Águas bicarbonotadas, 68.7 º . Datação – Império Romano ou mesmo anteriores; dinamização com D. Afonso Henriques; Monumento Nacional desde 1938; vestígios descobertos e descritos sobretudo a partir dos anos 50; década de 30, escola primária; posteriormente, café - Nessa altura com projecto e financiamento aprovados para a sua recuperação e valorização, hoje as obras estão concluídas, incluindo a criação de um espaço museológico. Ao lado, Capela de S. Martinho - Dois Balneários existentes: o da Rainha D. Amélia e o de D. Afonso Henriques. - Grande capacidade hoteleira. Aproveitamento de novos produtos em linha de cosméticos e afins; gestão municipal via empresa Termalistur - Em Portugal, cerca de 40 balneários com possível ocupação romana. – Castro de Nossa Senhora da Guia, Baiões, S. Pedro do Sul - Altitude – 477 metros - Povoado do século VIII a. C; Cabanas de planta circular; espólio – mós, machados, raspadores, objectos em bronze (mais de 50), 2 torques e 1 bracelete de ouro (Museu Nacional de Arqueologia – Lisboa), cerâmica, foicinhas, carrinho votivo. - Depósito de fundição, metalurgia – Anta Pintada de Antelas, Pinheiro de Lafões, Oliveira de Frades - Pinturas em ocre com predominância das cores vermelho e preto em oito esteios com motivos diversos e consideradas como expressões arttísticas do melhor que há na Europa; tampa não original; Corredor coberto e um outro no exterior - Descobertas as pinturas nos anos 50; obras de identificação e classificação nos anos noventa; datação pelo método do carbono 14, milhares de anos a. C. Monumento Nacional - Localização – Estrada do Sobreiro para Santa Cruz – Estrada Romana Entráguas/Seixa - Vestígios de troços da antiga ER de ligação entre os arredores de Águeda e Viseu, com passagem por A-dos-Ferreiros, Talhadas do Vouga, Benfeitas, Ponte, Feira, Entráguas, Seixa, Ral, Pontefora, Vilarinho, Cajadães, Postasneiros, Santiaguinho, Vilharigues, Vouzela, bifurcando aqui em duas direcções, para SPS, Castro Daire, etc e uma outra via por Fataunços, Ponte Pedrinha, Figueiredo das Donas rumo a Viseu – Castro do Cabeço do Couço, Crasto, Campia - 1º milénio a.C; cabanas circulares, muralhas - Vestígios – mós, peças de cerâmica e metálicas - Outros castros na Região – Paços de Vilharigues, Coroa – Arcozelo das Maias e Souto de Lafões, Pinho, Ucha, Banho, CÁRCODA, Várzea, Castêlo, Ribamá, etc – Anta de Paranho de Arca - Cobertura e esteios. Sem corredor visível e sem mamoa.MN. – Torre de Alcofra - Cabo de Vila; Século XIV/XV; quadrangular; três pisos; em granito; entrada a nascente; inscrição – AMBDM ( Talvez referências a António de Magalhães Barão de Mocâmedes). Actualmente, com os trabalhos da sua beneficiação, permite-se observar um bom acervo documental em termos museológicos. Ao lado, outros equipamentos de natureza culural e social. - Outras torres – Cambra, Vilharigues e alusões a Bandavises e Caveirós de Baixo – Anta da Lapa da Meruje, Carvalhal de Vermilhas - Sete esteios; tampa de cobertura; corredor com 15 esteios; mamoa. Em fase de trabalhos de valorização em duas épocas de escavações. Aproveitando-se, de uma forma muito agradável, a Barragem ali existente, tornou-se agora um parque de turismo e lazer que em muito amplia a importância deste monumento. - Outras nas redondezas – Mamoas no Zibreiro/Campia; Malhada do Tojal Grande/Carvalhal de Vermilhas; Vale de Anta/ Fornelo do Monte; Malhada de Cambarinho – Torre de Cambra - Capela; dois rios – Couto e Alfusqueiro; Parque Fluvial – Paço de Moçâmedes - Medieval; possivel morada do Imperador de Leão Ramires entre os anos de 900 a 912, d. C. Também possivel Rei de Viseu. Neste local viveu ainda D. Isabel Ameida Ferreira, segunda metade dos anos 1600, que veio a estar na origem da Família Malafaia, Santa Cruz da Trapa e Serrazes. - Fala-se na eventual criação dos Pastéis de Vouzela nesta localidade e, muito provavelmente, nesta Quinta do Paço – Minas da Bejanca - Livro – “ Minas da Bejanca – História(s) das terras e gentes, Fernando Vale, CM de Vouzela, 2015” - Descobertas em 1915 por José Marques do Vale; minérios, volfrâmio e estanho, este muito mais antigo, já do tempo da Idade do Cobre e da romanização, vd. Carvalhal do Estanho. - Portugal, um dos principais produtores de volfrâmio, também existente na China, Malásia, EUA, Canadá, Bolívia, Peru, Chile, Argentina, Austrália, Nova Zelândia, Japão, Coreias, Rússia - Alguns indicadores de produção de volfrâmio – 1930 – 417 toneladas; 1939 – 6060 toneladas - Outras minas no distrito e nas redondezas: Arouca – Castro Daire – 1; S. João da Pesqueira – 1; SPS – 8; Sátão – 3; Sernancelhe – 1; Cinfães – 1; Tabuaço – 2; Tondela – 1; Vila Nova de Paiva – 11; Viseu – 29; Vouzela – 5 - Empresas – Entre outras, a Companhia Mineira das Beiras, Lda, com o Couto Mineiro da Bejanca e 7 minas arrendadas ao Banco Burnay, SARL; com a 2ªGG, disputa acesa entre a Alemanha e os Aliados também na disputa das minas, com a Beralt Tin & Wolfram, Lda, inglesa, sendo que, de 1941 a 1952, o Couto Mineiro da Bejanca e os espaços também da Serrinha, Campos de Quintela, Barrosa, Vale do Espírito Santo, etc, estavam na na posse dos alemães. - Reanimação da febre do volfrâmio com a Guerra do Vietname – 1959/1975 - Década de 89 ainda em funcionamento. Depois, a queda e a decadência - Centenário 2015. Agora, novamente eventuais interessados. – Monte Castelo - Escadaria, Capela; Casa da Confraria; Parque de Campismo e Piscinas; sepulturas antropomórficas, minas. Prestamos o nosso tributo a quantos têm ajudado a conhecer e divulgar este património, com ênfase, nos tempos mais próximos, para Jorge Adolfo Marques, António Faustino Carvalho, Carolina Tente, António Nazaré de Oliveira e, recuando até aos princípios do século XX, Amorim Girão, continuando com Irisalva Moita, Celso Tavares da Silva, João L. Inês Vaz, O. da Veiga Ferreira e outros, Manuel Real, Pedro Sobral Carvalho, Lara Bacelar Alves, Fernando Carrera Ramirez, Filipe Soares, Daniel Melo, Helena Frade, José Beleza Moreira, Domingos Cruz... Numa tarefa de todos, o património deve ser olhado por cada uma das comunidades como “coisa sua”, como factor de identidade, pelo que cabe aos seus elementos, defendê-lo e divulgá-lo. A história e o conhecimento agradecem. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, Nov 2020

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