sábado, 12 de novembro de 2022

Lafões na prosa e poesia

A cantar-se Lafões desde há séculos Carlos Rodrigues Nestas terras de encantos sem fim e histórias aos montes, sobretudo a partir dos séculos XIX e XX em diante, são múltiplas as alusões em textos em prosa e em poesia que retratam esta nossa zona de Lafões, desde os píncaros das suas serras aos vales encantados de seus rios e ribeiros. Há dias, por exemplo, um amigo meu fez-me chegar a cópia das “ Auras do Vouga”, uns “Versos de José Ozório” como se lê na capa, e não resisti enquanto não folheei esta raridade de 1917. Tal como esta publicação, muitas outras há por aí espalhadas, ou mesmo algures perdidas à espera de quem as faça regressar à luz do dia. São então de José Ozório estas primeiras palavras: “… O Vale de Lafões é toda a natureza singela, amorável e doce, enternecedoramente bela, casando-se com a índole afectiva do seu povo humilde e cortejador, submisso e respeitoso, modesto e inteligente, que acolhe um estranho com um grande abraço de velha amizade. Num passeio pela estrada, em qualquer ponto que nos quedemos, a nossa vista fica maravilhada como ante um quadro de magia… Consola o viver-se no seio desta amorável região de canduras antigas ao lado da pacífica gente que, mourejando de sol a sol na sua faina rural, tem o culto especial do lar…Ó meu adorável vale de Lafões!... “ Num tom e nuns conceitos bem situados no tempo, a sua linguagem e a sua escrita são o reflexo também dessa época, como se pode deduzir da prosa que aqui transcrevemos. Passando-se agora para uns recortes poéticos, apreciemos o seguinte: “//Ó minha terra, berço abençoado/Que embalaste os meus dias de ventura/Já perdidos lá longe, na espessura/Do tempo nebuloso do passado.//… // Montes da minha terra, ó lindos montes/Cheios de cor, vestidos de arvoredos/Onde o sol a morrer nos horizontes/ Colora d`oiro as cristas dos penedos//… // Rio Vouga, meu amigo/ Onde ia desabafar/ As queixas do coração/ Em horas do meu penar//… // Eu parti, já nem sei há quantos anos/Do meu ditoso lar/E na luta cruel dos desenganos/ Fiz-me velho no longo labutar// Uns valentes anos mais tarde, em 2000, na “Terra Lusitana, nº 1”, tendo como Director o saudoso Júlio Cruz, a cantar as “Águas do aquecimento”, Luís Chaves, assim anota os seus pensamentos: //… Valha-me Deus, já não posso/Cantar como cantava/ Já bebi água da nora/ Tenho a fala derramada//… // Coitadinho de quem tem/ Amores além do rio/Que quer passar e não pode/ Do coração faz navio//… // Sentei-me à beira do rio/Para as águas ver correr/Vi correr as dos meus olhos/Para eu mais penas ter//… Falar-se de Lafões em escrita poética e não agarrarmos em António Gomes Beato será como que uma falha imperdoável. Em dois dos seus volumes, “ Lafões, a tradição e a lenda”, 1993, e “ Canções do Vouga”, 1990, é muito e bom o material ali contido praticamente todo ele centrado nas nossas terras. Nas “ Canções” e em “Madre terra de Lafões” assim se começa: // Da terra é que me veio quanto eu sou/O meu sangue, o meu corpo e condição/ Seiva que vem de longe em mutação/ Sempre a ser renovada e me formou//… // De ti eu vim e a ti hei-de voltar/Ó meu Lafões, ó meu jardim sem par/Bendita sejas, Madre Terra minha//… Para concluirmos por hoje, vamos despedir-nos com umas palavras também de alguém que já, infelizmente, nos deixou, o Cónego José Fernandes Vieira, no seu livro “ Rebuscando”, Viseu, 2020, todo ele dedicado à sua terra, Sejães. A certa altura, quase a abrir, assim escreveu: “ Uma razão afigura-se-nos com clareza: este é um lugar sossegado, de bom clima, muito saudável e fértil, algo distante de grandes e barulhentos povoados. Pode dizer-se que é um agradável e tranquilo “jardim-pomar”, onde, para além da beleza natural, abundam produções diversificadas de excelente qualidade e sabor requintado. É este o nosso familiar “torrão natal”, de que vamos oferecer-vos alguns curiosos apontamentos históricos, talvez pouco conhecidos de alguns… “ In “ Notícias de Lafões”, 10 Nov 2022

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