sábado, 11 de março de 2023

As profissões que estão a morrer em Lafões...

Profissões em morte anunciada e outras que aparecem Carlos Rodrigues Neste mundo que não deixa de girar sempre à volta e de nos surpreender, basta olharmos para trás para logo vermos que muitas profissões de antigamente, e algumas nem tão velhas como parecem, se despediram de nós e, talvez, nunca mais voltem. Morreram. Nesta infernal lista de partidas sem retorno, lá vemos despedirem-se de nós os ferradores, os capadores, os ardinas, as lavadeiras, os aguadeiros, as varinas e quase vão no mesmo sentido os engraxadores, as telefonistas, os portageiros (que nem sequer foram criados há muito tempo, sendo fruto dos autoestradas bem recentes), os velhos resineiros, os alfaiates tradicionais, os barqueiros da chamada de margem para margem e até os merceeiros de esquina e bairro, que, de livro na mão, atendiam as clientes e já adivinhavam que era para apontar, os amoladores e até os fotógrafos de velha guarda. Nascem os programadores e afins, mas a mão de obra dos tempos de outrora em muitos dos ofícios que muitos de nós ainda conhecemos, os de calos na mão, esses, talvez nunca mais voltem… Por estas nossas bandas, em missões que já, praticamente, se finaram, recordam-se o ferrador do Bairro da Ponte, S. Pedro do Sul, pertencente à conhecida família Portelo, que tanta fama alcançou, os capadores das Termas, Manuel de seu nome, o Luís e seu filho António de Cambarinho, o Adriano Baptista, de Arcozelo das Maias, entidades essas que não se limitavam apenas ao seu trabalho específico, mas ajudavam os produtores de gado( vacas e outros animais), em questões de saúde e nos seus casos mais ligeiros. Também nos deixaram o Aires Sapateiro, da Feira, Reigoso, o Adelino Cesteiro, da Sobreira, o Mário Alfaiate, o Valdemar Barbeiro, do mesmo lugar, o António Ferreiro, da Ponte, o comerciante Amadeuzinho, de Oliveira de Frades, aquele que tinha pregos misturados com arroz, salvo seja, mas que, a nosso pedido, logo nos trazia o produto desejado, o Barbeiro Celso Giestas, de Vouzela, sendo que, neste último caso, honra nos seja, estão a despontar novas e modernas casas que primam pela qualidade e pelo bom gosto, diga-se a propósito, porque é justo que estes elogios se teçam. Uma a uma, assistimos à morte de velhas e tradicionais casas comerciais e até as ancestrais tascas se vêm evaporando e que eram, à sua maneira, centros culturais e agências noticiosas de se lhes tirar o chapéu… Enfim, tudo muda e o mundo não é mais o que era. Com isto não queremos formular qualquer juízo de valor quanto a ser melhor ou pior, apenas pretendemos dizer que tudo é diferente e nada mais. Por exigências e contingências várias, finaram-se os lagares de azeite de Ribeiradio, o alambique de Entráguas/Reigoso, os foguetes de Santa Cruz, Arcozelo das Maias e quantas instituições de “autêntico serviço” público deixámos, irremediavelmente, para trás. Ganhámos uns tantos centros comerciais, mas as nossas terras e suas ruas perderam o brilho e a vida de outrora. Estes nossos lugares estão muito mais tristes, ainda que o brilho das luzes esteja agora nos citados grandes, gigantescos centros comerciais. Mas não é, nunca, a mesma coisa. Nunca. Estas ideias abeiraram-se de nós quando nos lembrámos do velho ferra dor do referido Bairro da Ponte. Passámos, depois, a trazer mais uns exemplos e o quadro ficou cada vez mais negro. Olhámos, então, para os sistemas de transportes desses recuadas épocas e logo descobrimos um mundo equestre em movimento, aí entrando a necessidade de reforçar e proteger os cascos dos cavalos e mulas, dotando-se esses animais das necessárias ferraduras. Tão importante elas são (foram) que originaram até um ditado popular ainda tão em voga: dar uma no cravo e outra na ferradura, atitudes que sempre nos têm vindo a “perseguir”… Com a procissão das mudanças sociais a ainda não ter saído do adro, diz quem sabe que a chegada da inteligência artificial, aquela que tenta copiar mesmo a mente e as emoções humanas, vai devastar mais o tecido social e económico que, por ora, ainda vivemos. Amanhã, repetimos, diz quem sabe que outro mundo aí virá. Cá estamos à sua espera, expectantes, mas com a esperança de que “isto” não vai desabar de todo. Desde a Revolução Industrial para cá foram tantas as mudanças e, afinal, por cá vamos andando. Agora, partimos para esse “novo mundo” e logo se verá, mas que temos de nos irmos preparando, a fundo, lá isso temos. Sem apelo, nem agravo… In “ Notícias de Lafões”, Março 2023

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