segunda-feira, 13 de março de 2023

Carlos Lopes, uma estrela a brilhar bem perto de nós...

Uma estrela do atletismo daqui bem perto de nós Carlos Rodrigues Saiu de Vildemoinhos, um aglomerado populacional contíguo ao centro da cidade de Viseu e cheio de tradições, uma das maiores figuras do atletismo mundial. Chama-se Carlos Lopes (1947) e o seu nome está vincado em todas as partes do mundo, sempre que se fale em marcas cimeiras das corridas a nível mundial. Temos de confessar que, no ano de 1984, este nosso conterrâneo pôs em alvoroço a casa em que estávamos em férias na Torreira, em Agosto, quando, de madrugada nas nossas terras, venceu a maratona dos Jogos Olímpicos nos Estados Unidos da América. Português e cidadão distinto do nosso distrito, a alegria que nos ofereceu, naquela madrugada, não há dinheiro que a pague, nem da nossa memória jamais se apagará. Partindo da humildade de uma família que o fez arrancar na sua vida no duro mundo da construção civil, fracote de corpo, viu a sua equipa de Vildemoinhos, em que tanto gostaria de jogar futebol, recusar a sua entrada como jogador por ser assim tão franzino, muito embora carregado de muita força anímica para essa prática desportiva. Sem ter entrado nesse mundo dos campos de futebol pelas razões que acabámos de apresentar, o que se ganhou, de seguida, merece-nos todos os encómios e registos dignos de tantas e tão boas memórias: com conquistas atrás de conquistas, em atletismo puro e em corta-matos, este nosso Carlos Lopes chegou, viu e venceu, acabando por registar, em letras de ouro, prova a prova, a força dos seus argumentos desportivos sem espinhas. Perdido por um lado, triunfou por outro. Com um certo aperto do coração, há poucos dias ouvimos uma crónica na TSF, da autoria de Luís Osório, que fez soar todas as nossas campainhas de alarme. Aí se disse que se encontra bastante adoentado e, de certa forma, até um pouco esquecido de todos nós. Para evitar que os seus feitos se apaguem, eis esta nossa crónica em seu favor e homenagem, bem merecida e justa, bem digna da grandeza de seus muitos êxitos nas pistas e estradas por este mundo fora. Tudo isso não pode, nunca, passar ao lado da vida de quem tanto nos deu em alegrias e vitórias sem fim. Praticante, essencialmente, das modalidades dos 10000 metros e da maratona, em cada uma destas longas e duras áreas desportivas se sagrou, por diversas vezes, campeão indiscutível. Iguais resultados logrou obter no corta-mato, outro dos campos em que correu. Atleta do Sporting Clube de Portugal entre 1967 e 1985, foi, no entanto, sua grande camisola aquela que ostentava as cores de Portugal. O ano de 1976 foi aquele em que Carlos Lopes começou a ser mais conhecido e muito destacado na comunicação social de então. Assim, em Montreal, trouxe uma medalha de prata nos 10000 metros, ano em que, em Chepstow, subiu ao mais alto lugar do pódio, com uma medalha de ouro nos mundiais de corta-mato, marca que veio a conquistar, nesta mesma modalidade, em 1984 (East Rutherford) e em 1985 (Lisboa). Para atestar a riqueza de toda a sua vida ligada ao atletismo, ainda há bem pouco tempo, por alturas das comemorações dos seus 75 anos, o Comité Olímpico de Portugal levou a sua casa uma distinção especial. Foi aí que este nosso herói confessou: “ Comecei do nada e acabei acima do imaginário de toda a gente… Quis sempre mais e melhor… Agradeço a quem me ajudou… “. Como que “preso” na sua morada em virtude da falta de saúde que o apoquenta, quem tanto correu um pouco por todo o mundo, este cidadão de Viseu, Carlos Lopes, vê-se agora impossibilitado de apreciar a natureza, o mundo mágico, sobretudo na vertente de corta-mato, em que mostrou a sua força a genica para nunca quebrar e quase sempre vencer. Foi 10 vezes campeão nacional nesta modalidade. Foi ainda três vezes campeão mundial, sendo que, nessa mesma área, ajudou a conquistar sete taças dos Campeões Europeus de Clubes (Sporting). Trouxe também medalhas individuais em 1977 e em 1983. Antes, porém, em 1973, já tinha conquistado a Medalha Olímpica Nobre Guedes. Nos Jogos Olímpicos, foi, como dissemos em 1984, em Los Angeles (EUA) que atingiu o ponto alto da sua carreira, a Medalha de Ouro da Maratona. Teve como recordes pessoais nos 5000 metros, 13.16.38, em 1984, Oslo; nos 10000 metros, Estocolmo, em 1984, 27.17.48; na Maratona, Roterdão (1985), 2.07.12; 3000 metros com obstáculos, Lisboa (1973), 8.39.6. Mas para falarmos de todas as suas vitórias, quase se torna difícil fazê-lo, tantas elas foram em variadíssimas distâncias e lugares. Ostenta no seu valoroso peito as seguintes condecorações: Cavaleiro da Ordem do Infante D. Henrique, 1977; Oficial da mesma Ordem, 1984; Grande – Oficial nesse mesmo ano e ainda Grá-Cruz, 1985, além de várias outras distinções… Com um palmarés invejável correu nos Jogos Olímpicos de Munique, 1972, em 5 e 10000 metros; Montreal, 1976; Los Angeles, Maratona, 1984; Campeonatos do Mundo, Helsínquia, 1983; Campeonatos da Europa, Helsínquia, 1971; Roma, 10000 metros; Atenas, 1982; Campeonatos do Mundo de Corta-Mato, País de Gales, 1976; Alemanha, 1977; Inglaterra, 1983; EUA, 1984 e Portugal, 1985. A nível nacional, são inúmeras as provas e os troféus alcançados. Sendo o mais velho de sete irmãos, começou a sua vida profissional, mal saiu da escola, como servente de pedreiro, passando a marçano e ajudante de ourivesaria na sua cidade natal, propendo sido ainda serralheiro. Foi também funcionário bancário e noutras instituições, como que a ter uma profissão que lhe permitia correr ao mesmo tempo. Com tantas provas disputadas por todo o mundo, aqui se registou um pouco de sua vida desportiva. Convém dizer-se, como curiosidade, que, pouco antes da Maratona dos EUA foi atropelado em Lisboa, mas nem esse contratempo o levou a desistir. Bem pelo contrário. Em compensação, trouxe daí a mais linda Medalha de Ouro da sua vida. Para que seja sempre recordado, em Lisboa o Pavilhão Carlos Lopes aí está para o provar. Também a Rotunda com seu nome em Viseu, paredes meias com a sua localidade, Vildemoinhos, pretende ter o mesmo efeito: evocação e memória. Merecendo todas estas e outras homenagens, Carlos Lopes atingiu, na nossa história desportiva e social, um lugar de elevadíssimo destaque. Esquecê-lo é impossível. Relembrá-lo como aqui estamos a fazer, um dever, um apetitoso exercício em favor de quem assim se comportou ao longo de décadas. Obrigado, Carlos Lopes, nosso ilustre conterrâneo distrital… In “Ecos da Gravia”, Fevereiro 2023

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