segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Jogos, venham outros

Passada que foi a fase e a febre dos Jogos Olímpicos, importa que, serenamente, saibamos tirar conclusões e não andar para aí com ar cabisbaixo, carrancudos, como se ali se tivesse assistido ao traçar do nosso próprio destino. Nada disso. Tratou-se apenas de um alto momento de desporto, com uma tradição que sabe bem apreciar e reter, para nunca a perder. Foi só isto que se viveu em Pequim. Nada mais, a não ser um certo gosto em mostrar, às vezes, mais olhos que barriga, ou até gato por lebre...
Quanto a Portugal, é certo que ficamos um pouco desiludidos com as nossas prestações. Mas, ao fim e ao cabo, nem ficámos atrás de outras edições e ressuscitámos mesmo a conquista do ouro, somando agora quatro desses saborosos troféus e glórias, um feito que, em nossa casa, é de uma raridade já conhecida... Querer outros resultados é legítimo e não deixa de ser até uma chamada de atenção para tempos futuros, mas alguma e sábia ponderação é urgente e necessária...
Afinal, só 52 países, em 205 representações, lograram vir de amarelo vestido, alguns carregados de fatos, outros com bem menos roupa, isso é certo. E só 81 se viram com uma qualquer medalha ao peito.
Por outro lado, o desnível populacional e de rendimento per capita ( PIB ) é medonho. Assim a China, para cem medalhas, oferece uma população de mais de mil e trezentos mil milhões de habitantes, com um PIB de 6200 dólares, os EUA, com 110 troféus, partem com cerca de trezentos milhões de pessoas e 42000 dólares de PIB, mas já a Jamaica, com apenas 2 milhões e oitocentas mil almas e um fraco PIB de 4200 dólares, foi capaz de arrecadar 11 círculos metálicos.
Impressionante são as montras do Quénia e da Etiópia, que, por entre uma miséria de PIB, mormente 1200 e 800 dólares, respectivamente, mostraram as proezas que de todos são conhecidas.
À nossa escala, por assim dizer, ficámos muito distantes da Hungria ( 9900000/16100), da Noruega ( 4700000/42400), de Cuba ( 11400000/3300), da República Checa e da Bielorrússia, mas à frente, por exemplo, da Índia, da Suécia, da Áustria, da Irlanda, da Venezuela, isto para só citar alguns casos, como é óbvio.
Não correram bem os Jogos de Pequim? Claro que não, mas não cai, por isso, o Carmo e a Trindade. Pior são os outros indicadores que atormentam e flagelam os nossos recentes dias, para não nos deixar, aí sim, despreocupados.
Jogos? Em 2012, em Londres, há mais.
Mas sossego, calma e tranquilidade são factores que escasseiam e nos põem com os nervos em franja. Esses é que nos tiram o sono, não os tropeções e as quedas dadas em matéria de desporto, que tem de ser sempre relativizado.
Antes de terminar, é de bom som e de bom tom que enderecemos os nossos vivos parabéns, apesar de tudo, aos nossos briosos atletas, sobretudo Nelson Évora e Vanessa Fernandes, sem esquecer todos os outros, mesmo aqueles que tiveram grande azar ou escorregaram no piso molhado de um momento que nunca se sabe como vai ser vivido. Precisamente porque só assim é que é desporto.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Lisboa sem gente

Esta cidade de luz e cor, cheia de encantos mil, a nossa Lisboa mostra em Agosto uma cara diferente. Sem grande movimento, aquilo é um mimo para se andar, para a contemplar e a absorver.
Naquele dia quinze, o tempo de todas as festas e saídas, a capital resplandece de encanto. Consegue mesmo dar-nos a ideia do país em equilíbrio, quando se vê despida da carga de gente a mais, de carros aos montes e aos pontapés, porque se despejou para o Minho, para as Beiras, para o Alentejo, para Trás-os-Montes, que o Algarve, esse, é um destino de uma outra índole, por cheirar a turismo de rompantes, de verões atulhados de cotovelos e de sol, muito sol.
Naquele dia, só as redondezas do Estádio da Luz nos diziam que, afinal, estávamos mesmo em Lisboa... Quanto aos demais espaços, o milagre do sossego fora conseguido.
Com a cidade dessa forma, Portugal via-se povoado como deve ser: todo ele a mostrar-se uma terra, afinal, com direito a viver um tempo digno, sem atropelos, sem montanhas descontroladas de povo sem alma, por andar num corre-corre, mas distribuído de norte a sul e de leste a oeste, isto é, sem as assimetrias que tanto o condenam ao desnvolvimento desequilibrado e vesgo.
Com Lisboa mais magra, com um corpo apetecível, por também não ser esquelético, a nação, no seu todo, pelo contrário, engorda mais um pouco, oferecendo um aspecto bem mais agradável. Despovoa-se a capital, ganha o reino, no seu todo...
Eusébio, nesse dia quinze, era um HOMEM feliz: numa Lisboa nova, a de Agosto, a Luz dava-lhe mais um pouco do muito que merece.
Na China, lá muito longe, outros portugueses davam ao mundo o pouco ou o muito que são capazes de pôr em prática. Mas disso falaremos mais tarde, quando as férias estiverem a terminar.
Lisboa, em quinze de Agosto, entrou-nos mais no coração, onde tem sempre um lugar marcado, aliás.

sábado, 2 de agosto de 2008

Açores: meio tempo no canal

Terras de encanto, os Açores, um paraíso vivo em pleno Atlântico, converteram-se nos últimos dias em foco de aparente polémica: uma comunicação oficial, cheia de carácter presidencial e de uma acrescida pompa, oriunda da voz escutada do Professor Cavaco Silva, em pose funcional, colocou estas ilhas numa outra ordem dos seus dias...
Sendo este um espaço de que muito se fala pelo seu anticiclone e pela sua requintada beleza, desta vez mereceu honras de um outro cenário: o boletim meteorológico foi bem diferente, trazendo uma carga de política e de muitos trabalhos de adivinhado gabinete.
Com o desejo de avançar muito para além daquilo que é seu espólio conseguido, quiseram as autoridades regionais vir a serem dotadas de um documento que lhes enchesse muito melhor a barriga esfomeada. Atirado para a fogueira o novo projecto de estatuto, nem os deputados nacionais nele descobriram sinais de eventual tempestade. "Anjinhos" em matéria de autonomia, bateram-lhe palmas e, em festa colectiva, lá o deixaram passar.
Atento estava Sua Excelência o Senhor Presidente da República, endossando esse atrevido documento para o douto Tribunal Constitucional. Dada uma olhadela pelo seu conteúdo, logo se detectaram umas tantas falhas. Vendo ainda muito mais do que estas, o Professor Cavaco Silva entendeu vir às televisões, em hora nobre e de grandes audiências, mostrar aquilo que poderia caber numa carta a enviar à Assembleia da República. Porque não foi essa a leitura, a rabecada saltou de cima para baixo, depois de um dia de múltiplas cogitações e outras tantas inquietações nacionais.
Dito e feito. Com o ciclone à solta, agora é um ver-se-te-avias em matéria de discussão e especulação.
Se somos de opinião que aquelas posturas eram uma forma de minar as competências presidenciais e de criar desníveis institucionais, não estamos à altura de perceber a sonoridade e solenidade deste " Alerta", mas não nos abespinhamos com o seu aparecimento, porque nele descobrimos um direito inquestionável ao seu uso. Só o vemos como fato sem medida para as nossas modas, mas essa é outra conversa...

domingo, 13 de julho de 2008

Justiça - 2

No seguimento da anterior consideração, em que se tocou numa sessão parlamentar especial, a do Estado da Nação, convém retomá-la, para acrescentar mais umas achegas, de modo a dar o seu a seu dono: quando falámos em "olhos nos olhos", obviamente que nos devíamos referir a Paulo Rangel, seu autor, tendo-o feito com Francisdco Louçã como pano de fundo.
Deveu-se esta confusão ao mediatismo deste deputado do BE, que personificou um dos momentos mais quentes do debate, ficando na sombra, aqui nestas linhas -entenda-se - o líder da bancada parlamentar do PSD. Retoma-se agora este assunto, com esta devida e justa correcção, que se impõe, até como forma de credibilizar esta forma de comunicação, tão menosprezada na praça pública.
A este propósito, manifestamos, de imediato, a nossa anuência à criação de uma eventual associação do sector, que venha com a intenção de valorizar a criação daqueles que aqui estão por bem, como é de enfatizar-se. Contem connosco.

sábado, 12 de julho de 2008

A justiça ( ex ou in) justa

Se o Bastonário das Ordem dos Advogados diz o que diz da justiça portuguesa, que dela pensarão os comuns mortais, aqueles que são a maioria de todos nós?
Quando tudo isto se ouve à descarada, olhos nos olhos, como acentuou Francisco Louçã, no Parlamento, mas a propósito de um outro tema, somos levados a concluir que esta carruagem fundamental do nosso dia a dia está prestes a descarrilar, arrastando com ela, nessa perigosa descida ao abismo, todo o comboio.
Ao vermos com desconfiança esta procissão que, ao que parece, ainda vai no adro, não ficamos lá muito descansados, porque estamos a falar de um dos mais importantes pilares da nossa vida colectiva. Assim, nem as palavras do Procurador Geral da República nos trouxeram o desejado sossego, pois aquele discurso saiu de quem saiu(...) e para toda a gente escutar, ou mesmo interiorizar, o que é um problema bem maior.
Perante este cenário, que interesse teve a discussão do Estado da Nação, que se esqueceu de abordar estas questões fundamentais, perdendo-se por um diálogo sem conversa nem silêncios, antes se prolongando por alaridos sem fim?
Com um esgar de espanto, que estranha terra é esta, que se perde, vezes demais, com os dedos espetados em plena discussão ao mais alto nível e não trata de falar de si, daquilo que é verdadeiramente sério e importante? Que nos valem as sonoras ninharias, anunciadas com pompa e festa, em redor de pequenos trocos, pagos com a sopa do Robim dos Bosques sobre as petrolíferas, ainda que isto mereça toda a nossa aprovação, comparado com este quadro negro que a (ex ou in)justiça nos apresenta?
De que vale tudo isso, se não temos quem nos defenda, quem esteja ao nosso lado, sempre que nos sintamos ofendidos? De que vale, Senhor?

terça-feira, 8 de julho de 2008

Códigos

Agora, mesmo em tempo de férias, é tempo de nos debruçarmos sobre o Código da Estrada, quando se preparam alterações, ainda que ligeiras, ao seu conteúdo. Tudo o que se venha a fazer em prol da segurança de todos e de cada um de nós, obviamente, vem por bem e, como tal, deve ser aceite com palmas e com interesse.
As propaladas mudanças parecem-nos adequadas e justas, mas não estão isentas de críticas. À semelhança com o que acontece com o sector da educação, importa distinguir-se, claramente, aquilo que é a pequena fuga à norma e os aspectos substanciais. Assim, não cremos que meter no mesmo saco o esquecimento do cinto e uma manobra perigosa seja o caminho certo. Mas isto é apenas a nossa opinião e nada mais do que isso.
Indo um pouco mais longe, temos de discordar, aberta e frontalmente, com a intenção, como se viu na imprensa, de considerar a passagem de um traço contínuo uma falta muito grave e a circulação em contra-mão se ficar só com a classificação de grave.
Se o primeiro caso até pode acontecer quase por obrigação, em virtude de um impedimento qualquer e, às vezes, nem provoca algo de perigo, a entrada na via contrária assusta e tem implícito um ilícito bem perigoso, porque, a qualquer momento, o desastre espreita com grande possibilidade de carga eventualmente letal, ou perto disso.
Desta forma, em geral, este documento deve avançar e depressa, mas tem de ser mais burilado, para o seu aperfeiçoamento, visando um melhor campo se segurança na estrada, onde Portugal, também aqui, se encontra na cauda da nossa Europa

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Socorro

Ao passarem as viaturas dos Bombeiros, sinto que, naquelas casas de bem-fazer, nem tudo vai como convém. Habituados a logo saírem, quando alguém se sente aflito e precisa de socorro, agora chegou a sua vez de nos apelarem ao coração, porque são eles que precisam de ajuda, a ponto de encetarem uma campanha com esse fim.
Sabendo que este gesto carrega um pouco da dor que lhes vai na alma, por falta de apoios e por verem os combustíveis a encaminhá-los para o lodaçal, não esquecemos que o seu mal é o nosso mal, sobretudo agora que o Verão está a aquecer. Pedimos, por isso, que as suas vozes sejam ouvidas, tão grande é o seu mérito.
Mas, para que tudo isto seja ainda mais negro, quem deve gritar por socorro somos todos nós, que a vida anda de mal para pior. Para lhe fazer frente, quer o governo deitar mão aos dinheiros alheios, indo buscar o que lhe falta à algibeira das autarquias, que a têm já bastante depenada. Assim, será fácil mostrar obra, mas à custa de quem também se vê na obrigação de estender a mão à caridade.
Com este falso " Robim dos Bosques", por se tratar de pobres a tirarem a pobres, não se chega a levar a carta a Garcia, nem para lá se caminha. Assim sendo, só as falsas soluções nos calham na rifa da tristeza em que vivemos.
Enquanto isto acontece, o Parlamento dá uma imagem de si mesmo que não deixa de nos envergonhar, quase como o Conselho de Justiça da FPF. Agora, assistimos a uma votação incrível: um partido propõe uma emenda e logo a vê rejeitada; um outro pega nela, sem uma vírgula a mais ou a menos, e tem o descaramento de a aprovar. Se isto não é brincar com coisas sérias, que será então?
Sem fazer destes desmandos a regra que se deve seguir, partamos para outras vias, que estas já passaram à história, ou, no mínimo, para aí deveriam ir; isto é, para o baú das más recordações, até para ver se com elas, mesmo recusáveis, aprendemos as boas lições, que tardam em chegar.
Venham elas, já!